Começa a divisão de poder na base de Lula
Foto: O Globo
Antes mesmo de a transição no governo federal ter início efetivamente, partidos que deverão compor a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já começaram a levar à mesa de negociações os ministérios que gostariam de assumir. Até agora, MDB, PSD, PSB, PSOL e Rede aparecem com prováveis ocupantes de cadeiras na Esplanada, e alguns deverão ficar com mais de uma pasta.
A partilha de ministérios está diretamente relacionada ao apoio no Congresso que as legendas garantirão ao presidente da República nos próximos quatro anos. Ou seja, o espaço que cada sigla ocupará costuma ser diretamente proporcional ao tamanho de suas bancadas e de sua fidelidade às pautas de interesse do Palácio do Planalto. Os martelos da futura gestão petista, porém, só começarão a ser batidos a partir da semana que vem, quando Lula voltará de uma viagem de descanso à Bahia.
Nesse cenário, o MDB poderá fincar bandeira em dois endereços da Esplanada. Para tal, contudo, há nós a serem desatados. O partido gostaria de emplacar a ex-presidenciável Simone Tebet no Ministério da Cidadania. É um dos mais cobiçado por ter um orçamento bilionário e comandar programas sociais com alto potencial eleitoral, em especial o Auxílio Brasil.
Na conta da legenda, porém, Tebet, que ganhou destaque e se aproximou de Lula pelo empenho com que mergulhou na campanha no segundo turno, seria um nome da cota pessoal do presidente eleito. Outro nome que o partido enxerga como ministeriável é o do senador eleito Renan Filho (AL). Ex-governador e filho do senador Renan Calheiros, ele trabalhou ativamente pela eleição de Lula. Essa aliança, entretanto, pode sofrer um forte abalo e até se dissolver, se o PT decidir apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara. Em troca da aliança, Lira poderia praticamente garantir a Lula a aprovação neste ano da “PEC da Transição”, proposta que abre espaço orçamentário para o PT honrar parte de suas promessas de campanha, como o Auxílio Brasil de R$ 600. A equação não agrada aos Calheiros. Lira é um dos principais adversários do clã em Alagoas e, por isso, Renan tem defendido que o PT busque uma alternativa à PEC para entregar o que prometeu.
Outro aspecto pesa contra Renan Filho. O Senado sofreu uma guinada conservadora nessas eleições. O PL, partido do Centrão ao qual o presidente Jair Bolsonaro está filiado, fez a maior bancada da Casa, com 14 senadores. Por isso, o PT tende a manter no Congresso os senadores com quem sabe que pode contar.
Esse diagnóstico também prejudica a ascensão do ex-governador do Maranhão Flávio Dino, senador eleito pelo PSB e cotado para o Ministério da Justiça. Outro ponto importante é que o PSB elegeu apenas 14 deputados e já tem o vice-presidente Geraldo Alckmin. Além disso, há outros nomes da legenda cuja sobrevivência política depende mais de um cargo no governo, como o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o candidato derrotado ao Senado por São Paulo Márcio França. O PSB também já definiu ministérios de interesse: Indústria; Ciência e Tecnologia; e Turismo.
Considerado estratégico, o PSD também se sentará à mesa. O partido, comandado por Gilberto Kassab, conta com uma importante representação no Congresso, tendo eleito 42 deputados e 11 senadores, segunda maior bancada da Casa. A sigla está de olho na pasta da Agricultura e pode indicar o senador Carlos Fávaro (MT).
A Rede, da deputada eleita Marina Silva (SP), pode ficar com o Ministério do Meio Ambiente, pasta que ela já ocupou durante o primeiro governo Lula e para onde está cotada para voltar. Marina embarcará junto com o petista para a conferência da ONU sobre mudanças climáticas na semana que vem. Caso não vire ministra, o senador Randolfe Rodrigues (AP) surge como nome para a vaga, embora seja tratado como um aliado fundamental no Senado. Correligionária dele, a deputada Joenia Wapichana é vista como opção para o Ministério dos Povos Originários, que será criado. O PSOL também está no páreo: a deputada Sônia Guajajara (SP) foi sondada pelo PT para a pasta. Ao GLOBO, ela disse que, se receber o convite formal, tomará a decisão em conjunto com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, movimento que ela representa e que ajudou a elegê-la à Câmara.
Já para a Polícia Federal, o delegado Andrei Passos desponta como favorito para assumir o cargo mais alto da corporação, o de diretor-geral. Ele foi escolhido pela equipe do presidente eleito em conjunto com a cúpula da PF para chefiar a segurança do petista durante a campanha. A Polícia Federal seguirá fazendo a segurança do petista até 1º de janeiro. A partir da posse, a função ficará a cargo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI).
Passos começou a trabalhar com Lula em julho, após a convenção que oficializou sua candidatura. Já no posto de chefe da segurança, Passos conquistou a confiança de Lula e de integrantes do time jurídico, com quem trabalhou em sintonia.