Lula carrega ao 3o mandato lições do impeachment

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Foto: Mauro Horita/Getty Images/Getty Images

O presidente eleito Lula da Silva traz duas lições do impeachment de Dilma Rousseff que marcam a primeira semana da transição de poder. A primeira, disse Lula a amigos numa conversa reservada no início da campanha, “é não esquecer quem nos colocou aqui”. Ele se referia aos eleitores mais pobres, a faixa onde o PT tem maioria de votos desde a vitória de Lula em 2002. A segunda lição é não confrontar o Congresso, “a não ser que você tenha certeza de que vai ganhar”.

Lula se referia ao que considera os dois equívocos do início do segundo governo Dilma Rousseff em 2015 que criaram o ambiente do impeachment um ano depois: o ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que cortou verbas sociais e liberou os preços de combustíveis e energia elétrica, e a decisão de lançar um candidato do PT a presidente da Câmara dos Deputados que terminou massacrado pelo então poderoso Eduardo Cunha. Para os eleitores, as medidas duras na economia foram vistas como um estelionato eleitoral depois da presidente ter passado a campanha negando um ajuste que atingisse os mais pobres. Em apenas 40 dias a popularidade de Dilma caiu de 42% para 23%, enquanto os que achavam o governo ruim ou péssimo foram de 24% para 44%. Na Câmara, a base do governo estava esfacelada. Em três meses, o governo havia perdido capital político com a ascensão de Cunha e capital popular com o ajuste de Levy.

Nesta primeira semana pós-eleição, a equipe de transição de Lula fez sinalizações na linha dessas lições do impeachment. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, anunciou que o partido não terá candidato à presidência da Câmara e que Lula não pretende interferir na disputa.

Em março, Lula disse que Arthur Lira presidia a Casa como se fosse um “imperador” e que havia deformado a Câmara como o orçamento secreto (o que, aliás, é verdade). Passadas as eleições, deputados do PT relembravam a Lira que seu pai, o ex-senador Benedito Lira, era amigo de Lula, e que poderia dar ao filho referências. A assessoria de Lula marcou uma reunião com o presidente Arthur Lira, para terça-feira, dia 8. É um armistício.

Nas conversas com Lira e como relator do orçamento de 2023, senador Marcelo Castro, a equipe de transição trouxe três pontos considerados fundamentais, a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 mais um extra de R$ 150 para crianças até 6 anos, aumento real do salário mínimo e recomposição dos gastos com merenda escolar, o programa Farmácia Popular e gasto mínimo com saúde.

São pautas diretas para o bolso (e o estômago) das famílias de baixa renda, que correspondem a quase metade do eleitorado.

Ao acenar para Lira e centrar suas primeiras medidas no social, Lula indica que seu governo vai priorizar a estabilidade política e a base social.

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