Lula pede que agredidos por golpistas filmem agressão

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Foto: Wilton Junior / Estadão

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta quinta-feira, dia 12, empenho dos órgãos de investigação para identificar e punir bolsonaristas radicais que invadiram e vandalizaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, em tentativa de golpe de Estado no domingo, 8.

Lula sugeriu que os cidadãos devem reagir e filmar com celular agressões físicas ou verbais de bolsonaristas fanáticos. Ele disse que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro nos órgãos de segurança foram “coniventes”.

“Temos que colocar a cara deles nas redes, temos que pegar essa gente, essa gente tem que ser presa. Essa gente não tem o direito constitucional de ficar ofendendo e provocando as pessoas como se fossem donas do espaço e da verdade absoluta nesse País. Fiquei muito, muito raivoso com o que aconteceu”, cobrou Lula.

“O que aconteceu foi um alerta muito grande, temos que ter mais cuidado. Ganhamos a eleição, derrotamos o Bolsonaro, mas o bolsonarismo está aí. O bolsonarismo fanático é uma coisa muito delicada, porque eles não respeitam ninguém, não respeitam idade, gênero, nada. Se dão o direito de ofender todo mundo que não pensa igual a eles.”

Lula disse que vai assistir às gravações de circuito interno das sedes dos Três Poderes. O Estadão apurou que ao menos no Planalto as imagens foram preservadas. Um indício citado por ele é que a porta principal do Planalto não foi violada, tampouco quebrada pelos radicais. Por causa disso, ministros defendem a investigação sobre militares responsáveis pela segurança e trocas na equipe do Gabinete de Segurança Institucional.

“Ainda não conversei com as pessoas a respeito disso, estou esperando a poeira baixar. Quero ver todas as fitas gravadas”, relatou. “Teve muita gente conivente, muita gente da Polícia Militar conivente, muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente.

Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada na entrada. Significa que alguém facilitou a entrada deles aqui. Vamos com muita calma investigar, ver o que aconteceu de verdade, porque nos vídeos vi soldado do Exército conversando e cantando com os invasores.

Fomos obrigados a fazer intervenção na polícia do DF porque ela tinha muita responsabilidade sobre o que aconteceu.”

O presidente disse que já nos ataques de 12 de dezembro, após sua diplomação, já tinha ficado com a impressão de que a PM apenas acompanhava a depredação e incêndio de carros e ônibus. Mas só no domingo o governo decretou uma intervenção federal sobre a segurança distrital. Agora, o governo promete endurecer a repressão.

“Era como se tivessem tomando conta das pessoas que estavam tocando fogo em ônibus e depredando as coisas”, afirmou. “Daqui para frente a gente vai ser mais duro, mais cauteloso. Não respeitaram nem a imagem de Cristo, tínhamos um relógio que Dom João VI trouxe para o Brasil. Só respeitaram minha sala porque achavam que estavam dando golpe e o Bolsonaro ia voltar. Mas a sala da Janja eles bagunçaram muito.”

Lula classificou os ataques como uma “estupidez” e afirmou que ainda estava satisfeito com a cerimônia de posse e visitando Araraquara (SP) quando se deparou com os ataques. “Eu não sabia o que ia acontecer, não sabia nem previa”, afirmou, apesar de a Agência Brasileira de Inteligência ter disparado informações de alerta a autoridades federais e do farto anúncio das intenções, por parte dos extremistas, que pretendiam “colapsar o sistema”.

“Ninguém pode impedir as pessoas de fazer uma passeata. Já fiz dezenas e jamais poderia impedir. E não era uma passeata qualquer protestando contra o governo, era uma passeata pedindo golpe”, afirmou o presidente.

Segundo ele, as informações recebidas davam conta de que o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército estava diminuindo de tamanho, como revelou o Estadão na sexta-feira anterior, e que os militares impediriam a entrada de mais pessoas e dos ônibus de caravanas que desembarcaram em Brasília no sábado passado.

“A única coisa que eu não queria era que Bolsonaro me passasse a faixa, era única coisa que eu não queria”, disse Lula, ao citar o 1º de janeiro. “Eles ficaram na porta do quartel gritando golpe e ainda hoje o Bolsonaro continha duvidando da urna eletrônica. É um cidadão que tem um problema de desequilíbrio mental.”

Fake News

No café da manhã com jornalistas, o presidente pregou duro combate às fake news. Como o Estadão mostrou, o governo criou estruturas em ao menos três pastas para combate à desinformação e pretende abrir uma discussão internacional sobre o tema, embora nem o Congresso tenha conseguido ainda definir o conceito e legislar. A iniciativa gerou alertas de especialistas sobre riscos à liberdade de expressão.

Lula elogiou o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo o petista, Moraes agiu em defesa da democracia de forma “extraordinária”, e o TSE, de maneira corajosa.

Lula comparou a estrutura de campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro a uma fábrica de fake news “igual ou maior” do que a do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Ele disse ter sido comparado ao “diabo” e ao “demônio” e relatou que as pessoas acreditam nas mentiras disseminadas nas redes sociais.

“O que aconteceu foi um alerta de que precisamos construir narrativas para tirar da cabeça dos bolsonaristas raízes e raivosos a ideia de que são superiores ao resto da humanidade, do povo brasileiro.

Não é apenas governar bem, é construir narrativas para que a gente restabeleça a paz, a tranquilidade e a harmonia no País”, disse o presidente.

“Vamos ser muito duros contra fábrica de fake news. Esse povo não pode estar subordinado à mentira.”

Estadão