Até furto de joias Bolsonaro copiou de Trump
Ex-presidente Donald Trump fala durante a Conferência da Coalizão de Ação Política Conservadora em National Harbor, Maryland Roberto Schmidt/ AFP
Vários presentes dados por países estrangeiros a Donald Trump durante sua Presidência nos Estados Unidos não foram contabilizados nos registros do governo, revelou nesta sexta-feira um relatório divulgado por democratas na Câmara. Durante o governo Trump, a Casa Branca falhou em documentar adequadamente mais de 100 presentes avaliados em cerca de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão), incluindo um colar com pingente de ouro recebido durante uma viagem à Arábia Saudita e avaliado em US$ 6.400 (R$ 34 mil). A joia é semelhante as doadas ao ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Os presentes foram entregues a Trump; sua mulher, Melania; seu genro, Jared Kushner e sua filha, Ivanka Trump, e contabilizados em registros, mas nunca foram divulgados publicamente, conforme exigido pela lei americana.
No Brasil, o jornal O Estado de S. Paulo revelou, no começo do mês, a apreensão de várias joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, que seriam um presente do governo saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e várias tentativas do governo passado de reavê-las. Os itens acabaram retidos na alfândega, em outubro de 2021, por não terem sido devidamente declarados.
Nos EUA, os itens não declarados e agora desaparecidos incluíam tacos de golfe nos valores de US$ 3.040 (R$ 16 mil) e US$ 460 (R$ 2.500) dados a Trump por Shinzo Abe, então primeiro-ministro do Japão à época, e “uma pintura maior do que o tamanho natural” de Trump, dada pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele, de acordo com o relatório.
Uma caixa decorada de prata que um ativista sindical no Egito deu ao genro de Trump também está desaparecida, segundo o documento. A caixa foi avaliada em US$ 450 (R$ 2.300).
Todos os departamentos e agências do governo americano são obrigados a enviar uma lista ao Departamento de Estado com os presentes acima de US$ 415 (R$ 2.200) que seus funcionários receberam de governos estrangeiros. Eles podem ficar com os presentes se estiverem dispostos a reembolsar o governo pelo valor estimado. A medida visa garantir que os governos estrangeiros não ganhem influência indevida sobre as autoridades americanas.
Uma planilha compilada por assessores da Casa Branca nos últimos dias do governo Trump listava presentes que Trump precisava decidir se queria ou não manter. Entre os itens que o ex-presidente já havia decidido aceitar e divulgar publicamente estava o colar com pingente de ouro recebido durante uma viagem à Arábia Saudita, em 2017. Ele estaria, segundo a planilha, “em um caminhão de mudança para Mar-a-Lago”. Não há evidências de que Trump tenha pagado pela joia.
O relatório de 20 páginas de e-mails e documentos não divulgados da Casa Branca também coloca em xeque se Trump infringiu a lei quando manteve um computador dado a ele pelo presidente-executivo da Apple, Tim Cook.
A investigação, que foi motivada por revelações sobre como a Casa Branca de Trump manipulou indevidamente presentes do jornal New York Times e do Departamento de Estado, concluiu “que as falhas na divulgação de presentes de governos estrangeiros foram muito mais amplas do que se sabia até agora e se estenderam ao longo de todo o governo Trump”, diz o documento.
O deputado Jamie Raskin, de Maryland, principal democrata da comissão que investiga o caso na Câmara, agora controlada pelo Partido Republicano, disse que os congressistas continuarão tentando rastrear o que aconteceu com os presentes e entender como Trump, sua família e a Casa Branca aparentemente falharam em seguir a lei.
— É muito do caráter de Donald Trump violar todo o regime que rege as doações de países estrangeiros — disse Raskin. — Trump é exatamente quem os pais fundadores da nação tinham em mente quando incluíram as cláusulas na Constituição que proíbem titulares de cargos federais de aceitar qualquer presente de um país estrangeiro sem o consentimento do Congresso, para impedir que a política americana seja ditada por estrangeiros.
Segundo o monitoramento da firma Morning Consult, Trump é o favorito para abocanhar a nomeação republicana no ano que vem, com 52% de intenção de votos entre os filiados do partido, contra 28% de seu maior rival, Ron DeSantis.