BC deve manter taxa de juros sabotadora

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Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) termina nesta quarta-feira (22/3), e, segundo indicações do mercado e de especialistas, a taxa básica de juros, a Selic, vai continuar a 13,75% pelos próximos 40 dias. Ou seja, as quebras bancárias pelo mundo e a constante pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela queda da Selic não serão suficientes para a mudança.

Assim, a taxa continuará no maior patamar desde 2016, na quinta manutenção consecutiva dos 13,75%. O resultado oficial deve sair por volta das 18h30.

No exterior, a reunião do Copom ainda é feita sob os ecos do processo de falência do Silicon Valley Bank (SVB) e o fechamento do Signature Bank pelos órgãos reguladores financeiros do estado de Nova York. E ainda houve a transação histórica, concluída no domingo (19/3), em que o UBS Group AG acertou a compra do Credit Suisse por US$ 3,25 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões).

Uma das explicações para essas quebras é a alta taxa de juros em países como Estados Unidos. Isso resulta em falta de liquidez das instituições. Por isso, há uma certa pressão do mercado para a queda da Selic.

Outro ponto que poderia adiantar essa diminuição dos juros seria a apresentação do arcabouço fiscal pelo governo brasileiro. Uma definição oficial de ajuste nas contas públicas seria uma indicação da boa vontade do Planalto com o mercado e o próprio Banco Central.

Porém, em entrevista à TV 247, nessa terça-feira (21/3), Lula disse que o projeto só será anunciado em abril, após o seu retorno de viagem à China. Isso fez com que o mercado respondesse com frieza. No mesmo dia, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), ficou estacionado em 100.998 pontos.

Na entrevista, Lula voltou a criticar fortemente a política de juros do BC.

“A primeira coisa que eu acho absurda, de verdade, é a taxa de juros estar a 13,75%, em um momento em que a gente tem os juros mais altos do mundo, em um momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda. Ou seja, nós ainda temos 33 milhões de pessoas passando fome, nós temos desemprego crescendo, a massa salarial caindo… Então, não há nenhuma razão, nenhuma explicação, nenhuma lógica”, disse o presidente.

O discurso de Lula atrai aliados na mesma direção. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, convocou sindicalistas para participarem de manifestação voltada a pressionar o Banco Central (BC) pela queda da taxa de juros. O ato deverá acontecer na próxima terça-feira (21/3) em Brasília, Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, cidades em que há sede do BC.

De qualquer forma, o mercado financeiro acredita numa queda da taxa básica de juros no Brasil somente a partir de julho. E, mesmo assim, com maior ênfase em agosto e setembro, com corte de cerca de 0,15 ponto percentual.

Assim indica o comportamento da taxa DI, utilizada para indexar diversos tipos de contratos no país, como CDBs, LCIs e debêntures. A taxa DI é formada com base na troca diária de dinheiro entre bancos. A cotação de contratos com base nesse indicador é apresentada no site da Bolsa de Valores, a B3. Em geral, ela fica num patamar 10% inferior à Selic.

Por isso mesmo, especialistas não acreditam em redução nesta quarta. “Caso haja uma queda, será uma surpresa maiúscula para o mercado”, diz o economista Fabio Giambiagi, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV). “E ninguém com quem tenho conversado trabalha com essa hipótese.”

“O Banco Central só pode baixar os juros quando a inflação der sinais concretos de que vai cair”, frisa o professor Ricardo Rocha, da escola de negócios Insper, em São Paulo. “O problema é que isso não está acontecendo”, destaca.

Metrópoles