Tarcísio terá que enfrentar greve no metrô

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Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), enfrentou na semana passada a primeira greve de funcionários públicos de sua gestão, com a paralisação dos trabalhadores do Metrô por dois dias. A atuação de Tarcísio expôs dificuldades do governo em administrar a crise e mostrou divergências não só com os metroviários, mas também dentro da gestão, com o comando do Metrô.

Tarcísio tentou imprimir uma marca própria às negociações. Uma das decisões foi inédita: autorizar os grevistas a liberar os usuários do pagamento de passagem, a “catraca livre”. No entanto, ao mesmo tempo em que o governador divulgou a “catraca livre”, o Metrô – empresa estatal – recorreu à Justiça para impedir a liberação da catraca. Em entrevista ao Valor, o comando do Metrô ressaltou os “riscos” dessa medida e disse que “nunca” iria propor essa ação.

A manobra foi vista como uma falta de coordenação dentro do governo e foi criticada por sindicalistas como uma “traição”. Para trabalhadores do Metrô, a ação de Tarcísio pode afetar as próximas negociações com o funcionalismo.

A paralisação afetou por dois dias o transporte na capital e na região metropolitana. Na manhã de sexta-feira (24), a categoria aceitou a proposta do Metrô, mas os efeitos da paralisação foram sentidos até o fim do dia. Com a desordem e incertezas, o governo decretou ponto facultativo na sexta-feira.

A reportagem procurou o governo do Estado mas foi direcionada para o Metrô. Tarcísio não se pronunciou sobre a greve desde o fim do movimento. O governo do Estado indicou para falar sobre a greve o diretor do Operações do Metrô, Milton Gioia Junior, que esteve à frente das negociações.

Em entrevista ao Valor, Gioia Junior chamou a adoção de catraca livre de um “voo às cegas”. Com cobrança de tarifa, a companhia tem acesso aos dados em tempo real de quantos passageiros circulam pelas estações e, assim, pode ir ajustando o serviço para evitar problemas. “Com a catraca liberada você só tem informações depois que o problema acontece, ao final do dia, pelos contadores mecânicos. É um risco para o sistema, para o passageiro e para o empregado do Metrô”, afirmou Gioia. “O Metrô nunca iria propor catraca livre. Não somos favoráveis.”

Ainda assim, logo cedo do primeiro dia da greve, na quinta-feira, o presidente do Metrô de São Paulo, Paulo Menezes Figueiredo, assinou carta endereçada aos grevistas em que autorizava a liberação das catracas em troca da retomada dos serviços aos passageiros. Segundo Gioia, a decisão foi tomada considerando o risco da decisão frente ao transtorno que a paralisação causava aos usuários.

O comunicado do Metrô foi enviado ao sindicato de trabalhadores às 7h08 de quinta-feira. Dez minutos depois, a empresa do governo do Estado foi à Justiça por um mandado de segurança que garantisse a volta do serviço com 80% do efetivo – com cobrança de passagem. Às 10h30, o pedido do Metrô foi concedido pela Justiça.

A presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, acusa o governador e o comando do Metrô de mentirem em rede social. A informação de que as catracas estavam liberadas foi compartilhada pela empresa e pelo governador nas redes sociais por volta das 9h30.

Camila publicou imagens que mostram funcionários e trens prontos para operar antes das 10h, mas sem autorização do Metrô para o funcionamento com as catracas livres, apesar do acordo. Circularam pela internet vídeos de servidores nas estações aguardando autorização para abrir os portões.

“Eu não enganei ninguém”, disse o diretor de Operações do Metrô. “O Metrô tem o direito de entrar na Justiça.” De acordo com Gioia, a operação não foi retomada no período entre a carta do presidente do Metrô aos sindicalistas e a decisão judicial porque não havia efetivo suficiente.

A presidente do Sindicato dos Metroviários disse que “os operadores cumpriram sua parte, preparando os trens e realizando os procedimentos necessários” para operar a partir da formalização da proposta de catraca livre.

Valor Econômico