Jornal diz que eleitorado quer teto de gastos mais alto

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Jornal Valor Econômico diz que popularidade de Lula não aumenta porque o eleitor quer que o governo gaste menos com Saúde, Educação etc. Confira, abaixo

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Passados quase 100 dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está no mesmo lugar em que foi colocado pelo eleitor em 30 de outubro de 2022. Foi isto, pelo menos, que mediu o Datafolha.

A estagnação é, em grande parte, fruto do empoçamento da economia. No trimestre findo em fevereiro, a taxa de desemprego subiu 0,5 ponto e ficou em 8,6%, a inflação projetada para 2023 passou dos 5,8% para 5,9% e a taxa de juro permaneceu nos mesmos 13,75%.

Nesses quase 100 dias, que se completarão no dia 10, Lula relançou, com incrementos em número de beneficiários e em recursos, três programas sociais que, em seu formato original, levaram 10 anos para serem criados: Bolsa Família (2003), Minha Casa Minha Vida (2009) e Mais Médicos (2013). O quadro captado pela pesquisa, porém, mostra que a percepção sobre os 100 dias de Lula está mais alinhada com a estagnação dos indicadores econômicos do que com a ação do governo.

Ainda que os programas tenham avançado para responder muitas das críticas que se lhe fizeram ao longo das duas últimas décadas, as políticas sociais devolveram a Lula o que já era dele. Tanto que não se transformaram em notícia ou, naquilo que o governo tanto busca, em “marca”.

Estudo da Quaest/Genial se debruçou sobre a lembrança espontânea de alguma medida do governo. No universo de 2,5 mil pessoas 68% não se lembram de nada. No Datafolha, a ação mais citada é a defesa dos indígenas, redenção civilizatória de um Lula falando para os seus.

A determinação do presidente em recuperar as políticas públicas petistas não parece atender só às carências gigantescas da população, mas ao próprio lugar ocupado pelo partido antes de ser apeado do poder. Pessoas com quem Lula conversou sobre a marca do governo saíram com a impressão de que há resistências a aceitar que o PT e o próprio presidente têm hoje um teto mais baixo e que o alargamento do governo passa por extrapolar tanto o partido como o lulismo.

Até porque não foi o mesmo Lula que voltou ao poder. A agenda de 24 horas que cumpriu em três Estados (Paraíba, Pernambuco e Rio) não lhe custou só o adiamento da viagem à China e uma pneumonia. Deixou claro que a pressa com a qual quer conduzir o governo não são condizentes com seus 77 anos e com as dores nos quadris e no joelho.

Quando Fernando Henrique Cardoso deixou o poder era mais jovem (71) do que Lula ao voltar ao Palácio do Planalto pela terceira vez. Mas sua rotina envolvia cuidados com a saúde mais intensos que aqueles do atual presidente que, além de mais velho, já passou pela retirada de um tumor maligno na laringe.

Um auxiliar de Lula que frequentava os palácios do poder na era FHC lembra do ex-presidente sempre blindado, no seu entorno imediato, das intempéries comezinhas. Com Lula, diz, é diferente. Está sempre no meio do furacão. E resiste a aceitar que lhe tirem dele.

Em 2004 Lula suspendeu o visto do jornalista do “The New York Times”, Larry Rother, que publicou reportagem sobre um suposto abuso de bebidas alcoólicas. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, estava em trânsito para o exterior. Informado ao desembarcar, pegou um avião de volta e convenceu o presidente a rever o ato. Não está claro de quem, neste governo, Lula aceitaria um corretivo semelhante.

Há muitas razões para isso. Uma é que Lula age como quem voltou a campo para correr os 45 minutos ou, como prefere dizer “com energia de 30 e tesão de 20”. Dificilmente, porém, reproduzirá 2010, quando deixou o governo com históricos 80% de aprovação. Primeiro porque não tem o mesmo magnetismo. Depois porque o populismo produziu um concorrente à direita. Para conquistar parte dos 57 milhões de eleitores de Jair Bolsonaro ministros que atingem os que rejeitam Lula também teriam que “carregar” o governo.

Há pelo menos três grandes áreas em que o governo ainda não conseguiu adentrar: segurança pública, evangélicos e o campo. Se existe estratégia de conquista, ainda não se fez notar. Isso tem um reflexo imediato na dificuldade de ampliar a base. A construção da base parlamentar também passa pela partilha da estratégia para alcançá-los.

A estratégia do governo parece se limitar a emendas e cargos. A das emendas já se esgotou. Depois da delicada costura feita entre o ministro da Justiça, Flavio Dino, e o Supremo para a desidratação do orçamento secreto, o dinheiro saiu das mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e foi para as dos parlamentares. Este arranjo deu conta da PEC da Transição, mas se esgotou para tocar a agenda do início de governo. Sobraram os cargos que acossam o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

É nesta margem estreita que tramitará o arcabouço proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e as medidas de incremento de receita que podem deixá-lo em pé. São medidas que passam pela expansão da base de tributação e pela reoneração de setores expressivos da economia, temas que costumam arregimentar lobbies experientes no Congresso. A formação do bloco PSD/MDB/Republicanos, o maior da Câmara, pode ajudar. O restabelecimento das comissões que analisam as medidas provisórias, também. Oferecem chance para o governo equilibrar, na Câmara, jogo que já lhe é favorável no Senado. Ainda assim, não serão aprovadas da noite para o dia nem seus efeitos arrancarão uma inflexão do juro na velocidade que se almeja para o crescimento.

Uma vez que a opção da política econômica é pelo gradualismo, houve quem sugerisse medidas que pudessem gerar resultados mais imediatos, como a associação a Estados e municípios para a expansão dos restaurantes populares ou a realização de mutirões de cirurgia que fossem capazes de desafogar as filas agigantadas pela pandemia. Mas o presidente não lhes deu tração.

Como o aumento real do salário mínimo e o reajuste na tabela do Imposto de Renda só virão no 1º de maio, havia a expectativa de que os problemas operacionais do Desenrola poderiam vir a ser solucionados a tempo de compor os 100 dias. É, de longe, um programa de mais impacto para a população do que um pacote de obras, à la PAC. Mas o programa não ficará pronto a tempo.

Ao longo dos 100 dias, ficaram claros os problemas que atingem dois gabinetes palacianos, o da Casa Civil, e o da Secretaria de Comunicação Social. Ministros se queixam de que tudo chega às mãos do ministro Rui Costa, mas nada sai. Colaboradores da campanha são cada vez mais críticos à gestão Paulo Pimenta. Permanece vaga a Secretaria de Análise e Articulação da Secom, criada para segmentar a comunicação do governo em função dos públicos e meios e para criar vacinas quando o presidente e seus ministros atravessarem a rua para pisar na casca de banana do outro lado, como aconteceu na insinuação de que Sergio Moro “armara” um atentado contra si.

A sorte de Lula é que se o governo ainda busca um rumo, a oposição tampouco encontrou o seu. Bolsonaro voltou ao Brasil acossado pela inelegibilidade e temente do espaço que a ex-primeira-dama Michelle e Moro vêm ganhando. Os processos do 8 de janeiro e o escândalo das joias completam o cerco. A questão agora é se o fôlego advindo dos desastres do bolsonarismo vai durar até os resultados na economia.

Valor Econômico