Bolsonarista do GSI tenta explicar confraternização com golpistas

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Foto: Reprodução / Estadão

Em meio a imbróglio sobre as gravações que levaram à queda do ex-ministro G. Dias, o major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira – ex-coordenador de Operações de Segurança Presidencial do Gabinete de Segurança Institucional – afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que entregou garrafas de água a invasores do Palácio do Planalto com o ‘intuito de acalmá-los’, para que não danificassem a copa próxima ao gabinete presidencial, onde estavam. O militar disse que estava ‘sozinho’, sem apoio, na ocasião, e chegou a pedir que os golpistas saíssem do local. Depois, quando ouviu o reforço chegando, ordenou que todos saíssem do local, ‘tendo em vista que com a chegada da tropa a chance de linchamento seria menor’.

O major foi questionado pela PF sobre porque não deu voz de prisão aos invasores. Pereira respondeu que ‘estava sozinho, desarmado, que corria risco de linchamento e de morte, sendo realizado o que estava a seu alcance’. O militar narrou que ‘tomou todas as providências a seu alcance para conter danos, preservar vidas e executar o Plano Escudo – protocolo de defesa dos dois palácios (Planalto e Alvorada).

Ainda de acordo com o depoimento, o major ficou por cerca de uma hora sozinho com os golpistas, período em que ‘permaneceu em contato com seus superiores pedindo reforço e atualizando-os sobre a situação da invasão’. O militar disse que estava no local quando apareceram três ou quatro radicais ‘exaltados’ que questionaram que ambiente era aquele e depois exigiram ao major que lhes desse água.

O major foi ouvido no domingo, 23, pelos investigadores do inquérito sobre os atos golpistas. Na ocasião, relatou sua atuação no dia 8, desde que chegou ao Planalto, às 7h daquele dia. Segundo Pereira, o nível de indicativo de risco na ocasião era o laranja – o terceiro patamar em uma escala de cinco níveis. Por volta das 14h30, o militar começou a ouvir barulho de bombas, deixou o pelotão de prontidão e ligou para o coronel responsável em busca de atualizações sobre o ato que culminou na invasão das sedes dos três Poderes.

Pereira narrou ter se dirigido ao 4º piso do Palácio, avistando tropa da Polícia Militar constituída de cerca de dez homens, a qual ‘considerou muito pequena’, e também radicais jogando pedras nos policiais, enquanto se aproximavam do Planalto. O major sustenta que ‘tomou todas as providências para impedir que os manifestantes adentrassem a área do Palácio do Planalto’.

Segundo o militar, a invasão à sede do Executivo começou pelo canto noroeste do prédio, ocasião em que os golpistas ‘furtaram armamentos menos letais da sala de segurança’. Pereira diz ter conseguido recuperar suas pistolas de chque, bastões e algemas da mão dos radicais, mas, durante a confusão, perdeu contato com as duas tropas que estavam sob seu comando. Os materiais foram em seguida entregues a um coronel, que informou a Pereira que a segurança do Palácio do Planalto havia ‘colapsado’.

O major disse que, logo em seguida, retirou o paletó e a gravata para se infiltrar no Palácio ‘tomado’ pelos radicais para conter danos. Também ficou sem a pistola, para evitar o furto do armamento, já que estava sozinho, narrou. Ele disse ter pedido reforçoe adentrado o Planalto, sozinho, tendo verificado que ‘não havia tropa da PM nem o reforço solicitado e nem mesmo efetivo do GSI, somente os manifestantes’.

Pereira disse que sua prioridade era proteger o gabinete presidencial, razão pela qual se dirigiu ao terceiro andar do prédio. Lá encontrou outros radicais, e, após se identificar, foi hostilizado. O militar disse ter ‘argumentado, tentando acalmá-los’. Logo na sequência, o major encontrou, na antessala do gabinete presidencial, uma senhora. Sua avaliação foi a de que ‘ela não apresentava risco’, então ‘foi em busca de maiores ameaças’. Foi então que o militar se dirigiu à copa e foram registradas as imagens em que ele entrega água aos radicais.

Estadão