Familícia de Bolsonaro é próximo alvo da PF
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
O tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), vai prestar um novo depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira. Ele está preso desde o início de maio, por suspeita de envolvimento em um esquema de fraudes de certificados de vacina contra a covid-19. O depoimento da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também é considerado certo por investigadores, mas ainda não tem data marcada.
Homem de confiança de Bolsonaro, o militar teve o sigilo telemático e fiscal quebrado após decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ainda em maio do ano passado, o magistrado determinou que a PF realizasse uma “análise minuciosa” de todo o material armazenado na nuvem do ex-auxiliar.
As mensagens trocadas por Cid com diferentes interlocutores têm sido usadas em pelo três linhas de investigação que miram Bolsonaro, sua família e seus apoiadores.
Além da operação para apurar o caso da falsificação de comprovantes de vacinação, da qual o ex-presidente também foi alvo, a PF também investiga a suspeita de participação do grupo na tentativa de golpe de 8 de janeiro e transações financeiras suspeitas que envolvem a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
No fim de semana, o UOL revelou trechos de conversas entre Mauro Cid e duas assessoras de Michelle que apontam para o uso de dinheiro vivo para o pagamento de despesas da ex-primeira-dama.
A investigação mostrou, por exemplo, que Michelle usava um cartão de crédito em nome de uma amiga, Rosimary Cardoso Cordeiro. A fatura desse cartão era paga por Cida, em uma agência do Banco do Brasil dentro do Palácio do Planalto.
Segundo um interlocutor da PF, as provas levantadas até agora são suficientes para convocar a ex-primeira-dama para depor – o que ainda não tem data para acontecer. Os policiais também querem ouvir Rosimary, assim como outros integrantes da equipe de Mauro Cid na Presidência.
Internamente, o conteúdo do celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro está sendo comparado ao “Fiat Elba” do ex-presidente Fernando Collor de Mello, isto é, um elemento decisivo que levou à descoberta do esquema de corrupção operado por PC Farias, que foi tesoureiro da campanha presidencial em 1989.
A defesa de Bolsonaro afirmou que Mauro Cid usava dinheiro em espécie para pagar pequenas contas da família presidencial por uma questão de segurança, para evitar ataques e até envenenamentos.
Já em relação ao fato de Michelle usar o cartão de crédito de uma amiga a explicação foi que a medida foi adotada pela ex-primeira-dama porque Bolsonaro era “muito pão-duro”.
O ex-presidente prestou depoimento à PF no caso das vacinas na terça-feira. Durante a oitiva, ele foi questionado sobre as mensagens trocadas por Mauro Cida e o major do Exército Ailton Barros, que está na reserva.
Um dos assuntos abordados por Barros é a sua relação com grupos que estariam dispostos a acampar em Brasília e apoiar pautas de ataques ao Supremo, caso isso fosse de interesse de Bolsonaro.
Prints enviados a Cid mostraram também trechos de conversas que o militar teria mantido com o contato “PR 01”.
Ao ser indagado sobre o assunto, o ex-presidente respondeu “que não participou ou orientou qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado de Direito”.
Bolsonaro também afirmou que “nunca repassou qualquer orientação sobre as referidas pautas a Ailton e/ou qualquer grupo”. Ele disse ainda que só manteve contato com o major por “conversas esporádicas” e que as aproximações se davam “principalmente em momentos eleitorais”.
Em reação à vacina, Bolsonaro reafirmou que nunca tomou o imunizante contra a covid-19 e declarou que desconhece qualquer iniciativa para falsificação do seu cartão de vacinação e do de sua filha, Laura. O ex-presidente respondeu também que não tem informações sobre eventual participação de Mauro Cid, no suposto esquema de falsificação de certificados.