Bolsonaro pode virar “bibelô”, mas direita não voltará para o “dentifrício”
Foto: TOMZÉ FONSECA/ESTADÃO CONTEÚDO
Jair Bolsonaro — para a direita em geral, e o PL em particular— começa a se transformar num bibelô. Um enfeite para se exibir na estante, sem utilidade específica. No máximo, um amuletinho da sorte. Essa percepção não é fruto apenas da proximidade do julgamento do ex-presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de onde ele pode sair inelegível segundo dez entre dez especialistas que acompanham o caso.
Outros elementos corroboram o enfraquecimento do Mito como hipótese eleitoral. Ontem, outra pesquisa, do instituto Locomotiva, reforçou o que havia sido apontado em abril pela Quaest: eleitores de direita já vislumbram o “pós-Bolsonaro” e mais da metade deles é capaz de indicar um nome que, considera, pode representar o campo político conservador no Brasil — esteja esse nome alinhado ou não ao ex-capitão. Os mais citados são os mesmos lembrados na pesquisa da Quaest: o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Michelle Bolsonaro diz que não quer herdar o bastão do marido. Tarcísio, por seu lado, mesmo em período de teste, já tem três presidentes de partidos disputando a sua paternidade, cada qual acenando com um trunfo diferente. O de Marcos Pereira é o de ser o dirigente da sigla à qual Tarcísio pertence, o Republicanos. O de Gilberto Kassab, do PSD, é o de ter “comprado” o governador “na baixa” (em 2022, escolhido por Bolsonaro para disputar o Palácio dos Bandeirantes, o carioca Tarcísio era tido como um forasteiro no estado — Kassab o levou pela mão, costurou acordos e montou palanques para ele). Já Valdemar Costa Neto, do PL, cobiça à luz do dia o passe do governador com o argumento de que o “habitat natural” de Tarcísio seria a sigla que abriga o seu padrinho político, Bolsonaro. O fato de a direita no país estar sólida e calcificada se deve, em grande parte, ao ressentimento de eleitores com uma esquerda que prioriza as minorias e, aos olhos do brasileiro conservador, “prova” a sua degeneração dizendo que “crianças trans existem”. Ocorre que, ao contrário do que se viu em 2018, essa direita não mais discursa na caçamba de uma caminhonete. Acaba de sair do poder e avança em direção a 2026 produzida e escoltada por políticos mais que profissionais. A ex-presidente Dilma Rousseff, em seu estilo singular de se expressar, afirmou que “quando a pasta de dentes sai do dentifrício, ela dificilmente volta para o dentifrício”. Assim como a pasta de dentes, a direita não fará caminho de volta. A pergunta é só com que cara ela sairá do tubo desta vez.