Mauro Cid queria se juntar aos invasores dos Palácios
O tenente-coronel Mauro Cid afirmou que era mais fácil ele “ajudar” manifestantes golpistas que estavam em frente a um quartel em Goiânia do que ele atuar para tirá-los de lá. Cid também afirmou que concordava com a permanência deles no local.
A afirmação foi feita em conversa com o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, que trabalhou com Cid na Ajudância de Ordens da Presidência da República durante o governo de Bolsonaro. A troca de mensagens consta em relatório da Polícia Federal (PF).
“Tão tocando o horror na frente do teu batalhão lá”, afirmou Reis, no dia 13 de novembro. Cid havia sido indicado para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, que fica em Goiânia. Em resposta, o tenente-coronel escreveu: “Hehe. Por mim, fica lá o pessoal, pô! Mais fácil eu ajudar os caras do que tirar de lá”.
A nomeação de Cid para o batalhão, uma unidade de elite do Exército, foi revista no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em nota, os advogados Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore, que defendem Cid, afirmaram que “por respeito ao Supremo Tribunal Federal, todas as manifestações defensivas serão feitas apenas nos autos do processo”.
Em nota, os advogados Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore, que defendem Cid, afirmaram que “por respeito ao Supremo Tribunal Federal, todas as manifestações defensivas serão feitas apenas nos autos do processo”.
Entenda o caso
O celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, tinha mensagens e documentos que revelam uma trama para dar um golpe de estado, afastar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e colocar o país sob intervenção militar. Segundo a reportagem da revista Veja, havia no entorno próximo do ex-presidente militares e apoiadores conspirando para tentar anular o resultado da eleição de 2022, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a revista, um dos documentos é intitulado “Forças Armadas como poder moderador”. Nele é apresentado um plano baseado numa tese controversa em que militares poderiam ser convocados para arbitrar conflitos entre os poderes.
O documento ensina uma espécie de “passo a passo” do golpe e não é o mesmo da minuta golpista encontrada com o ex-ministro Anderson Torres. Segundo o plano, Bolsonaro deveria encaminhar as supostas inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário aos comandantes das Forças Armadas. Os militares então poderiam nomear um interventor investido de poderes absolutos.
Esse interventor, na sequência, poderia fixar um prazo para o “restabelecimento da ordem constitucional”. Assim, poderia suspender decições que considerasse inconstitucionais, como a diplomação de Lula. Além disso, poderia afastar preventivamente ministros do STF como Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, que na época integravam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No lugar, convocaria os substitutos, Kassio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.
Os documentos publicados pela Veja fazem parte de um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. No telefone de Mauro Cid foi encontrado ainda outro documento, onde é aventada a hipótese de decretação de estado de sítio, uma das medidas mais extremadas previstas na Constituição para situações excepcionais, como em caso de guerra.
A trama incluiu até mesmo integrantes do alto escalão das Forças Armadas, como atestam diálogos do coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, com Mauro Cid. Após a derrota de Bolsonaro nas urnas, Lawand manteve contato frequente com Cid e cobrou, repetidamente, que fosse colocado em prática um plano golpista.
O Globo