Governistas ‘dobram’ presidente da CPMI do golpe
Foto: Montagem O GLOBO: Torres(Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília) e Cid(Presidência/Alan dos Santos)
A CPI mista dos atos golpistas de 8 de janeiro retoma os trabalhos nesta terça-feira com um impasse para resolver: a convocação do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, coronel Mauro Cid, para depor.
Os dois estavam no topo da lista da relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama, mas um embate nos bastidores entre ela e o presidente da CPI, o deputado Arthur Maia (União-BA) acabou fazendo com que o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, fosse chamado primeiro. Silvinei depõe nesta terça (20).
Segundo a senadora relatou a seus interlocutores da comissão, Maia – que tem a prerrogativa de marcar os depoimentos – se disse desconfortável em chamar os dois.
Em tese, embora a convocação tenha sido aprovada, Maia pode não marcar o depoimento. Esse tipo de manobra protelatória ja foi adotada em outras CPIs.
Mas a pressão dos governistas para que ele o faça tende a aumentar, especialmente por causa da repercussão da descoberta, pela Polícia Federal, de que o Mauro Cid tinha no celular um “roteiro do golpe”, incluindo a minuta de uma convocação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para intervir no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Cid está preso em um batalhão do Exército em Goiás. A PF também encontrou uma minuta de um decreto de intervenção no TSE na casa de Torres em uma operação de busca e apreensão. O ex-ministro de Bolsonaro ficou preso por quatro meses em um batalhão da Polícia Militar no Distrito Federal.
Maia foi eleito para presidir a CPI por indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). E embora se diga independente e não de oposição, apoiou Bolsonaro contra Lula e tem posicionamentos de centro-direita.
Na primeira sessão da comissão, ele recusou o pedido dos governistas para afastar da comissão o deputado André Fernandes (PL-CE). Fernandes foi o autor do requerimento de instalação da CPI, mas a PF pediu a Alexandre de Moraes seu indiciamento por considerar que ele incitou os ataques golpistas de 8 de janeiro. O ministro ainda não decidiu.
Ao assumir a CPI, Maia disse ao Globo que não teria “investigado de estimação”.
Na última quarta-feira, depois que a lista de convocações foi aprovada sem incluir nem o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Lula, e nem o ministro da Justiça Flávio Dino, Maia protestou. “Os requerimentos apenas do governo terem sido aprovados ontem e os da oposição não, isso, a mim, como presidente do colegiado, me constrange”, afirmou o deputado à CNN.
A oposição pediu a convocação de Gonçalves Dias por causa de um vídeo que mostra que ele não agiu para conter os invasores do Palácio do Planalto em 8 de janeiro, além de evidências de que o GSI adulterou o relatório da Abin com os alertas às autoridades sobre o risco de tumulto e invasão violenta das sedes dos três poderes. O argumento para a convocação de Dino é parecido. Os bolsonaristas tem insistido que o ministro não agiu para impedir a invasão.
Como o governo tem maioria na comissão, nem Dias e nem Dino foram convocados. O troco de Maia pode vir com a recusa em marcar o depoimento de Torres e Cid.