Dilma diz que 2013 foi pilotado por fascistas

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Foto: ALEXANDRE BRUM/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Presidente da República em 2013, quando eclodiram as grandes manifestações que mudaram o rumo da política no país, a ex-presidente Dilma Rousseff avalia que aqueles atos foram palco de disputa entre os dois blocos que tradicionalmente competem pela condução do país. Em desvantagem financeira e de comunicação, avalia, seu grupo levou a pior. No fim, o sentimento antissistema que brotou nas ruas acabou capturado por neofascistas, avalia.

Dilma manifestou-se sobre a onda de protestos que completa dez anos neste mês num texto de abertura do livro “Junho de 2013 – A rebelião fantasma” (Boitempo), que chega agora às livrarias. No prólogo de uma coletânea de artigos, ela define os atos como “um dos mais destacados episódios” da história recente do país, “refletindo e concentrando algumas das principais armadilhas de uma transição democrática ainda inconclusa”.

Em referência à vitória de Jair Bolsonaro em 2018, ela sustenta que o levante das ruas contra o sistema e a insatisfação com seu funcionamento é o que permitiria, cinco anos depois dos atos, “a ascensão de uma extrema direita falsamente antissistema”.

Em junho de 2013, Dilma viu sua taxa de popularidade despencar cerca de 20 pontos – fenômeno que também atingiu governadores e prefeitos. Com pequena margem, ela foi reeleita em 2014, mas sofreu impeachment dois anos depois diante da atuação desenfreada da Lava-Jato e da incapacidade de garantir um patamar mínimo de apoio no Congresso.

Dilma afirma que, como presidente na época, foi desafiada a compreender e agir com rapidez. E a interpretação clara, prossegue, foi a de que, estarrecidos pela eclosão das manifestações, “os dois grandes blocos que se confrontam pelo destino do nosso país […] passaram a atuar para influir sobre a voz das ruas e atraí-la para o fortalecimento de seus projetos”.

O bloco mais bem sucedido nessa disputa foi o conservador, diz ela, grupo que representa “as frações hegemônicas das elites internas e de seus sócios internacionais”. Na sua visão, é o segmento associado “às chamadas reformas liberais”, que, por meio de desregulamentações e achatamento de direitos, entre outras coisas, tem como principal objetivo atrair fluxos de capital para o Brasil.

Dilma coloca-se no campo rival, o que enxerga que o desenvolvimento “passaria principalmente pela ampliação do mercado interno de massas, o que dependia de políticas capazes de desconcentrar renda e riqueza”.

Ela diz que, por ver os acontecimentos de 2013 como uma disputa, seu esforço na época foi o de apresentar um programa que fortalecesse demandas progressistas.

“Propus investimentos pesados em saúde, educação e mobilidade urbana, incluindo o direcionamento de parte da renda obtida pela exploração do pré-sal pelo modelo de partilha”, diz. Um último ponto era a convocação de uma Constituinte para tratar exclusivamente da reforma política.

Das medidas propostas, só a da Constituinte não foi aprovada, diz, porque “esbarramos em uma correlação desfavorável de forças, que levou a retirada [da proposta]”. Mas não foi suficiente.

Atual presidente do Banco dos Brics, instituição sediada em Xangai, Dilma conclui seu texto sobre 2013 afirmando que “o espírito antissistema” continua disseminado na sociedade brasileira. “Seria erro imperdoável deixar que o neofascismo continue apoderando desse sentimento para manipulá-lo de forma reacionária”, conclama.

Valor Econômico