Governador mineiro manda fazer estrada para a família
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O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), vai investir R$ 41,2 milhões na recuperação de uma estrada que leva até o sítio de sua família, o “Rancho Zema”, em Rifaina (SP), onde o mineiro já passou datas comemorativas.
O edital aberto pelo Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) em 6 de junho prevê obras de recuperação em 107 quilômetros da MG-428, do trecho que se inicia no entroncamento da BR-262, em Araxá (MG), cidade natal de Zema, até a divisa de Minas com São Paulo, onde fica o sítio da família do governador.
O projeto na MG-428 representa quase um quinto de toda a extensão de estradas com reforma concluída por Zema até hoje. De acordo com dados enviados ao GLOBO, o governo estadual recuperou 635 km de pavimento no âmbito do projeto Provias, um pacote de obras rodoviárias lançado pela administração mineira em abril de 2022. A iniciativa soma 124 empreendimentos e concluiu até agora 32 obras, segundo dados do DER-MG.
O “Rancho Zema” está do lado paulista da divisa, na cidade de Rifaina, distante uma hora e meia de Araxá. Foi no sítio, às margens do Rio Grande, que Zema passou o Ano Novo de 2020. Há fotos do chefe do Executivo fazendo passeios de lancha e nadando com os filhos também em outras datas. A licitação ainda não tem um vencedor. Na última quarta-feira, o DER-MG publicou o resultado das empresas que estão habilitadas a concorrer.
Servidores da administração mineira relatam que o governador é pressionado pela população da terra natal por melhorias na região. O assunto foi tratado em um vídeo publicado no Instagram pelo deputado estadual João Bosco (Cidadania), conterrâneo de Zema e vice-líder do governo na Assembleia Legislativa, ao lado do governador.
— Conforme nós nos reunimos aqui em Araxá com várias lideranças no mês de abril, nós estamos agora contratando as construtoras que farão a recuperação dessas obras aqui que vão beneficiar muito essas cidades — afirmou Zema no vídeo, ao lado de Bosco.
Em nota, o governo de Minas Gerais afirma que as decisões da atual gestão se baseiam “unicamente em preceitos técnicos”. Declarou que o segmento de 107 km da MG-428 não passa por intervenções e melhorias robustas há décadas, tendo sido apenas alvo de operações tapa-buraco.
O governo acrescenta que foi feita uma avaliação técnica em 2023, que constatou “segmentos com alastramento de defeitos por toda a pista”. “Há trincas, que, segundo a análise técnica, enfraquecem o revestimento e permitem a entrada da água, provocando problemas na estrutura”, diz a nota, segundo a qual a demanda por melhorias é recorrente por parte dos cidadãos ao menos desde 2021. “Há inclusive um abaixo-assinado dos moradores de Sacramento solicitando intervenções na rodovia”.
O governo afirma que usa como critério para os investimentos nas estradas a análise técnica do DER, embasado em um “um amplo estudo realizado em toda a malha viária estadual, de forma periódica pelo órgão, sendo que a última versão completa foi realizada em 2020”. E que a MG-428 “já se encontrava com prioridade ‘urgente’ para investimentos de melhorias” no último estudo do órgão.
O documento, no entanto, traz ao todo 803 trechos sinalizados como sendo de prioridade “urgente” no estado, 585 que merecem alguma “espera” e outros 701 sem “nenhuma prioridade”. A MG-428 tem trechos com prioridade diversa, de nenhuma à mais alta.
Minas soma 272 mil km de rodovias, a maior malha do país, segundo dados do governo Zema. Sob responsabilidade estadual há 22,2 mil km de estradas pavimentadas, outras 4,9 mil km não pavimentadas e 316,4 km com obras em andamento.
Apenas 23,2% das estradas mineiras estão em bom ou ótimo estado, de acordo com o mais recente relatório da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que avalia as condições das rodovias pavimentadas brasileiras. A maior parte (40,5%) das estradas em Minas tem qualidade considerada regular, enquanto 28,4% se enquadram como ruins, e 7,9% como péssimas.
A situação precária das estradas levou o Ministério Público mineiro a mover três ações, duas contra o governo estadual e outra contra uma concessionária, para obrigar a realização de obras, conforme publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.