Lula chama Bolsonaro de “cidadãozinho que quis dar golpe”
Foto: Pierre-Philippe Marcou/AFP e Cristiano Mariz/O Globo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ironizou o ex-presidente Jair Bolsonaro e afirmou que o Brasil teve um “cidadãozinho” que “quis dar golpe”. Na ocasião, o petista foi questionado se acreditava que a Venezuela vivia em um regime democrático, mas respondeu que “muitas vezes a oposição não aceita” o resultado eleitoral e criticou o ex-presidente na sequência.
— Eu tinha apenas 20 dias de governo (no primeiro mandato) e criei o grupo de amigos da Venezuela. Participaram EUA, Espanha, Brasil, Argentina e parece que Canadá. E conseguimos fazer com que acontecesse o referendo lá. O referendo foi legítimo. Foi um resultado eleitoral e muitas vezes a oposição não aceita.
Lula completou:
— Não tivemos um cidadão aqui, um sabidinho que não quis aceitar o resultado eleitoral? Não tivemos um cidadãozinho aqui que quis dar golpe no dia 8 de janeiro? Tem gente que não quer aceitar o resultado eleitoral. Nem todo mundo é como Lula, que perdeu do (Fernando) Collor e aceitou o resultado, que perdeu duas vezes do Fernando Henrique Cardoso e aceitou o resultado, vai para a casa lamber as suas feridas, como diria o Brizola, e se prepara para outra luta.
Lula deu as declarações durante entrevista para a Rádio Gaúcha, nesta quinta-feira.
Em maio, Lula recebeu Maduro no Palácio do Planalto e classificou o encontro como “histórico”. Lula ainda chamou de “narrativas” as acusações de que a Venezuela não vive sob um regime democrático.
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro cortou relações diplomáticas com a Venezuela. A presença de Maduro no Brasil não era permitida desde agosto de 2019, quando o ex-presidente editou uma portaria que proibia o ingresso no país do líder venezuelano e de outras autoridades do vizinho latino-americano.
Em seguida, Lula afirmou ainda que as “pessoas precisam aprender a respeitar o resultado das eleições” e que não é “correto a interferência de um país dentro de outro país”. O presidente criticou o dirigente opositor na Venezuela Juan Guaidó, que chegou a ser reconhecido como presidente interino pelos EUA e mais 50 países, incluindo o Brasil, durante o governo de Bolsonaro, do início de 2019 a janeiro de 2023.
— As pessoas precisam aprender a respeitar o resultado das eleições. O que não está correto é interferência de um país dentro de outro país. O que fez o mundo tentando eleger o Guaidó presidente da Venezuela, um cidadão que não tinha sido eleito, se a moda pega não tem mais garantia na democracia e garantia do mandato das pessoas. Quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições. Agora vai ter eleição. Derrota e assuma o poder. Vamos lá fiscalizar. Se não tiver uma eleição honesta, a gente fala.
Após uma tentativa fracassada de tirar Maduro do poder, o opositor acabou perdendo legitimidade interna e externamente.
Durante a entrevista, Lula afirmou ainda que vai conversar com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, para “resolver os problemas com a igreja”.
— Temos um problema na Nicarágua, eu vou conversar com o presidente da Nicarágua, porque tenho relação para conversar, porque eu acho que tem que resolver os problemas com a igreja. Mas cada país toca o seu destino.
Desde os protestos contra o governo de Ortega, em 2018, o ditador endureceu o regime e passou a perseguir quem faz oposição. O bispo Rolando Álvarez, por exemplo, foi condenado em fevereiro a 26 anos de prisão por, entre outras acusações, atentar contra a integridade nacional.
O religioso estava detido desde agosto do ano passado por conspiração e se recusou a ser deportado aos Estados Unidos com outros 222 opositores libertados e expulsos do país com a pecha de “traidores da pátria”.
Em Roma, na semana passada, Lula declarou que negociará pessoalmente com Daniel Ortega para libertar o religioso. Também disse que Ortega deveria ter “a coragem” de reconhecer que houve um erro.
As declarações de Lula ocorrem no mesmo dia em que o petista participa do “Foro de São Paulo”, encontro que reúne partidos de esquerda da América Latina e do Caribe. Como mostrou o GLOBO, Lula e aliados do PT traçaram uma estratégia para se distanciar do regime de Daniel Ortega. A cúpula inclui convidados de regimes totalitários na região, como políticos ligados ao líder sandinista.