Aliados de Bolsonaro acham que tomarão seu lugar

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: O Globo

Longe das urnas até 2030, após condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê aliados e correligionários começarem a se movimentar mirando seu espólio político. À frente dos dois maiores colégios eleitorais do país, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas, Romeu Zema (Novo) encabeçam a lista. Ambos evitam se expor, mas têm feito movimentos para angariar apoio da base bolsonarista em seus estados. Nomes como o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o da ex-ministra Tereza Cristina também aparecem no páreo.

Tarcísio, que já acompanhou três visitas do ex-presidente a São Paulo neste ano, é apontado por integrantes do PL como o herdeiro mais forte do eleitorado de direita. O governador reiterou seu alinhamento a Bolsonaro ontem, depois do julgamento, ao dizer que seguirá “junto” do ex-presidente e classificá-lo como liderança “inquestionável”. Ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio também se aproximou nos últimos meses do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com quem já teve atritos por indicações a cargos em sua antiga pasta.

Zema, por sua vez, tem reforçado uma postura de oposição ao governo Lula. Após ter apoiado Bolsonaro apenas no segundo turno de 2022, quando já estava reeleito, o governador mineiro acena ao PL com alianças nas eleições municipais do ano que vem.

— Zema tem sido menos ambíguo, enquanto Tarcísio procura customizar, de acordo com o público, uma imagem ora mais gestora, ora mais bolsonarista — avalia o cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político e Eleitoral (OPEL) na UFRJ. — Uma eventual reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à prefeitura de São Paulo com seu apoio (de Tarcísio), no que deve ser a disputa mais nacionalizada de 2024, pode deixá-lo fortalecido nesta posição.

Interlocutores de Bolsonaro avaliam que o ex-presidente confia em Tarcísio, mas vislumbram pressões para que o governador concorra à reeleição em 2026. Um dos defensores desta opção é o secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e um dos principais articuladores políticos de Tarcísio.

De olho em outro espólio, o de prefeituras ligadas à antiga gestão do PSDB em São Paulo, Kassab defende que Tarcísio se consolide como liderança estadual de centro-direita antes de buscar um voo nacional.

Já Zema, que não pode concorrer a novo mandato de governador, pressionou o Novo para ampliar sua política de alianças de olho em 2026. Além de ter se aproximado de partidos como PP e Republicanos, que apoiaram Bolsonaro no ano passado, o governador de Minas costura o apoio a pré-candidatos bolsonaristas em municípios como Contagem e Uberlândia. Nesse cenário, o Novo indicaria vices em chapas do PL, buscando reciprocidade futura. Um dos nós da equação é a capital, Belo Horizonte, onde o partido de Zema avalia lançar candidato.

O caminho de Zema para 2026, contudo, tem ressalvas do próprio Bolsonaro. Ontem, ao jornal “O Tempo”, ele disse que o mineiro seria uma boa opção para a Presidência, mas a partir de 2030.

Embora Zema, segundo interlocutores, venha trabalhando para colocar seu nome na disputa, sua resistência em deixar o Novo, um partido com pouca estrutura, é vista como empecilho. O PL já sondou tanto o governador mineiro quanto Tarcísio para filiação. Ainda que não cite nomes, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) diz que a preferência é que seu partido esteja na chapa em 2026:

— Seria o ideal (ter o PL na chapa), mas ainda é cedo para falar disso.

Caciques do Centrão avaliam Tarcísio como o “primeiro da fila” para suceder Bolsonaro, expressão usada pelo senador e ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI). Aliados próximos a Bolsonaro, por sua vez, não descartam uma participação de Michelle numa chapa presidencial, embora ele venha descartando essa hipótese.

O PL tem investido na imagem de Michelle como uma espécie de “estrela” do partido, com participação em inserções de rádio e TV dirigidas pelo marqueteiro Duda Lima, que atuou na última campanha de Bolsonaro.

Enquanto a falta de experiência política e administrativa de Michelle é vista como empecilho para tentar a Presidência, nomes como a ex-ministra e senadora Tereza Cristina (PP-MS) e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), correm por fora tendo suas próprias bagagens como trunfo.

Próxima a entidades do agronegócio, Tereza cresceu no setor, uma das principais bases eleitorais de Bolsonaro, após sua passagem pelo Ministério da Agricultura. Já Ratinho se reelegeu com folga em um dos estados que mais deu votos a Bolsonaro em 2022. Pesa contra eles o baixo conhecimento fora de seus estados.

Para aliados de Bolsonaro, a tendência é que os cotados façam uma dosagem de seus movimentos para evitar exposição. Na analogia de um interlocutor de Tarcísio, “não é inteligente ficar pronto de manhã cedo para um casamento à noite”. O próprio Bolsonaro tem sinalizado, na avaliação de especialistas, preocupação em expor aliados em candidaturas ao Executivo.

— Não necessariamente Bolsonaro terá um candidato forte à Presidência em 2026, o que não inviabiliza que o bolsonarismo volte a eleger a maior bancada no Congresso — analisa o cientista político Emerson Cervi, da UFPR.

O Globo