Prestes a ‘desinfetar’ da PGR, Lindôra choca por desfaçatez

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Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ

São simples imagens de um documento sem autoria. Afirmações abstratas de ideias aristotélicas. Inspiração em Tomás de Aquino. Um acervo que bem poderia estar no celular de grande parte dos brasileiros. Tudo não passa de um compilado à semelhança de trabalhos de cursinhos pré-vestibular. É assim que a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo classifica o acervo de mensagens e documentos descobertos no aparelho celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes, Cid teve o telefone apreendido no início de maio e nele, entre outras coisas, investigadores descobriram o roteiro para um golpe de Estado, o rascunho de um discurso de termina com a decretação de Estado de sítio, além de conversas e apelos de militares – inclusive da ativa – para uma ruptura institucional. Para Lindôra, porém, as mensagens golpistas resumem-se a “mero diálogo entre pessoas comuns, desprovidas de conhecimento jurídico ou político suficiente para arquitetarem um golpe de Estado”. Em despacho sigiloso encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a subprocuradora afirma que a Polícia Federal, ao analisar o conjunto de arquivos no telefone de Cid, tirou conclusões precipitadas sobre o que seriam essas mensagens. Embora tanto Moraes quanto a PF não tenham grandes dúvidas sobre se tratar de indícios de houve de fato a discussão de como tentar reverter a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, Lindôra afirma que tudo está descontextualizado. No mesmo documento, ela não sugere qual seria um eventual contexto correto. “Tratou-se de simples trocas de informações apenas e tão somente entre os interlocutores, sem contato com qualquer pessoa com conclusões de executar, à semelhança de posturas especulativas/de curiosidade que poderiam ser encontrados nos dispositivos móveis de grande parte da população brasileira, sob o contexto de intensa polarização do debate político, à época das eleições de 2022”, argumenta. “Trata-se de redação de cunho crítico que até poderia ser encontrada em mesas de cursinhos preparatórios para o vestibular”, completa ela. Homem forte do governo Bolsonaro, Cid foi convocado para prestar depoimento na terça-feira, 4, à CPI que investiga os atos de 8 de janeiro. Para Lindôra, haveria outro aspecto supostamente revelador de que o país não esteve na iminência de uma sublevação: em conversa com o coronel Jean Lawand Junior, Mauro Cid ouviu apelos para um golpe, mas teria sido “expresso em negar essa possibilidade”. Relatório da PF mostra, porém, que diante da insistência de Lawand para que Jair Bolsonaro desse uma ordem que permitisse uma reviravolta institucional, Cid diz no dia 1º de dezembro apenas que o então presidente “não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE [Alto Comando do Exército]”. Na terça 27, Lawand prestou depoimento na CPI, tentou minimizar o que ele próprio havia dito a Cid e classificou as mensagens como resultado do medo de “convulsão social”. Ficou registrada, porém, uma “cola” em que ele se autopoliciava com uma missão: “não aloprar”.

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