Globo News cai no gosto dos petistas
Foto: Ricardo Stuckert
Emissora predileta da administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e destino principal dos ministros e líderes partidários pró-governo quando querem dar uma entrevista, a GloboNews teve audiência de 129.388 espectadores assistindo ao canal ao mesmo tempo, em média, de janeiro a maio à tarde (12h-17h59). Esse é o horário de melhor desempenho dessa emissora de notícias. Os dados são da Kantar Ibope Media Brasil. Leia mais nesta reportagem. Lulistas no comando do país desde janeiro de 2023 concederam pelo menos 184 entrevistas ao canal fechado do Grupo Globo no 1º semestre –o que dá, em média, mais de uma por dia.
O líder do Governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), é o mais presente: falou 23 vezes à emissora no período. É seguido pelo ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que concedeu entrevista ao canal 13 vezes, e pelo ministro Flávio Dino (Justiça) e pelo líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Dos 37 ministros de Lula, 32 foram à emissora nos 6 primeiros meses do ano. O levantamento do Poder360 também considerou o presidente Lula, a primeira-dama Janja, líderes do Governo, secretários e presidentes e diretores de estatais ou instituições federais. Eis a galeria de infográficos com as entrevistas concedidas de janeiro a junho de 2023:
A GloboNews está para o governo Lula como a Record esteve para o governo Bolsonaro. No 1º ano de seu mandato (2019), o ex-presidente concedeu 65 entrevistas exclusivas (quando apenas 1 veículo participa e realiza as perguntas). Destas, o top 3 foi formado por Record (14), SBT (11) e Band (10). Nessa época ainda não existia a TV Jovem Pan News. Até os 100 primeiros dias do 3º governo Lula, o petista deu 8 entrevistas exclusivas para TVs –GloboNews e TV Globo (2), RedeTV (1), CNN Internacional (1), CNN Brasil (1), CCTV, da China (1), Xinhua, da China (1) e RTP, de Portugal (1). A frequência da concessão de entrevistas do atual mandatário é menor na comparação com a de seu antecessor no Planalto. Lula compensa esse número menor de entrevistas exclusivas terceirizando essa missão para integrantes de seu governo –que têm uma nítida preferência pela emissora da família Marinho frente a outros veículos de comunicação. É uma relação recíproca. Leia abaixo 3 exemplos: 14 minutos de marco fiscal – durante o anúncio da nova regra fiscal, feito pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), por exemplo, o Jornal Nacional, principal telejornal do país, dedicou praticamente ¼ de sua programação ao tema. O tom da reportagem foi positivo e benevolente com Haddad e com a equipe econômica; tour no Alvorada – logo no início de 2023, a GloboNews passeou com Janja da Silva pelo Palácio da Alvorada e mostrou de maneira edulcorada a narrativa da primeira-dama sobre como o edifício estaria imprestável e depredado. Em abril, o governo gastou R$ 379 mil sem licitação para comprar móveis para o Alvorada, de acordo com a predileção de Janja. A aquisição teve pouco destaque no noticiário das emissoras do Grupo Globo; 8 de Janeiro – o Palácio do Planalto entregou em 1ª mão à emissora os arquivos com as imagens das câmeras de segurança que registraram a depredação e o vandalismo do 8 de Janeiro dentro da sede do Executivo. Os vídeos exibidos pelo Fantástico, no entanto, não mostravam o ex-ministro-chefe do GSI, Gonçalves Dias. Esses trechos foram revelados 3 meses depois pela CNN Brasil e provocaram a queda do militar, amigo pessoal de Lula. O relacionamento de presidentes da República segue um padrão. Cada ocupante do Palácio do Planalto escolhe falar com exclusividade com as emissoras que são mais amigáveis e representam menos risco numa entrevista exclusiva. A mesma lógica vale para os integrantes do 1º escalão da administração federal. A audiência de emissoras de notícias a cabo no Brasil flutua na faixa de 0,25 a 0,02 pontos na medição da empresa multinacional Kantar (que no Brasil comprou o Ibope). Isso equivale a, em média, de 129.388 a 10.351 pessoas. O governo sabe que o alcance das entrevistas em TVs pagas de notícias é pequeno, mesmo que seja na líder GloboNews. A lógica que sustenta essa estratégia é que essas emissoras, apesar de falarem para um público diminuto, conversam com parte da elite do país e com todos os outros veículos de mídia –que têm monitores sintonizados nesses canais o tempo todo. Dessa forma, quando Lula, Janja ou Haddad falam com a GloboNews, sabem que suas declarações depois acabam reverberando para outros veículos e outros públicos. Não seria então melhor falar de maneira coletiva e já atender a todos de uma vez e assim maximizar a repercussão? Do ponto de vista político, a resposta é não. É que o presidente, a primeira-dama e os ministros ficariam vulneráveis a perguntas menos anódinas e sem o conforto de serem entrevistados de maneira cordial, como ocorre hoje nos veículos do Grupo Globo. Esse era o mesmo raciocínio de Jair Bolsonaro, que nos seus 4 anos de Planalto preferiu emissoras como Record, SBT e, depois, Jovem Pan News para dar entrevistas.