Zeca Dirceu diz que PT defenderá seu espaço no governo

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BRASÍLIA – O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), disse que defenderá a manutenção dos espaços do partido no Poder Executivo. A declaração vem em meio a negociações para PP e Republicanos entrarem na aliança de governo, possivelmente em cargos hoje ocupados por petistas.

Uma das pastas que estão na mira do Centrão é a do Desenvolvimento Social, comandada pelo petista Wellington Dias, quadro histórico da sigla. Zeca afirmou, contudo, que vai aceitar a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a correlação de forças nos ministérios. O próprio Lula declarou, no entanto, que não pretende mexer no Desenvolvimento Social.

“Obviamente, como líder do PT, é minha obrigação – e eu vou sempre cumpri-la – defender que os espaços que são de direito do PT sejam mantidos e sejam preservados”, declarou o deputado. “Agora, não acho que as coisas são contraditórias ou incoerentes. Eu confio muito e vou sempre apoiar a decisão final do presidente Lula”, emendou. O petista se disse a favor da entrada de mais partidos na coalizão governista, mas ponderou que Wellington Dias é um dos ministros mais importantes da Esplanada por ter o Bolsa Família sob seu guarda-chuva.

A pouco mais de um ano das eleições municipais, Zeca se mostrou disposto a concorrer à Prefeitura de Curitiba. Na avaliação do deputado, o PT está atrasado nas articulações e deveria lançar candidaturas em todas as cidades do País. “Cada vez mais a nossa presidente (Gleisi Hoffmann), a Executiva, o Diretório tem que se ocupar prioritariamente com isso. Partido é para cuidar da eleição, o governo é para cuidar da vida das pessoas, do funcionamento do País”, argumentou.

Veja os principais trechos da entrevista:

Lula tem negociado ministérios para partidos como PP e Republicanos. Chegou a hora de o Centrão entrar no governo?

Essa decisão foi tomada em dezembro pelo presidente Lula de fazer um governo muito amplo. O que é importante é fazer isso com critério, com transparência, dentro de um padrão de decência, de coerência, que não se pode fugir e de que não se está fugindo. Sou a favor que aconteça isso, que a gente tenha uma base parlamentar de partidos dentro do governo o maior possível. Não tem que haver restrições para isso. Obviamente, como líder do PT, é minha obrigação, e eu vou sempre cumprir, defender que os espaços que são de direito do PT sejam mantidos e sejam preservados.

Quais são os espaços de direito do PT?

Todos (os ocupados hoje). Não tem eu como líder do PT ser a favor que alguém deixe de ocupar um espaço importante. Esse é o papel de quem quer entrar. Agora, não acho que as coisas são contraditórias ou incoerentes. Eu confio muito e vou sempre apoiar a decisão final do presidente Lula. Se ele decidir que ninguém do PT sai do governo e vai mexer em outros espaços, ótimo, vai ter meus aplausos, meu apoio e minha concordância. Se ele decidir que tem que ser alguém do PT, e eu não vou fulanizar, ótimo, vai ter meu apoio e tenho certeza que vai ter apoio de toda a bancada.

Teria um desgaste dentro PT se o partido tivesse que ceder esses espaços?

Não sei se teria um desgaste, a gente não sabe qual vai ser a decisão. Eu sou, desde antes, a favor dessa amplitude. Eu só não posso, como líder do PT, sair eu primeiro já cedendo e concordando. A decisão é do presidente Lula.

O PT está lutando para manter Wellington Dias no Desenvolvimento Social?
Com certeza. Wellington é um dos maiores vencedores nossos. Foi governador quatro vezes, fez o sucessor em todas as vezes. Se elegeu senador, deu ao presidente Lula acho que a segunda maior votação de todo o País e é muito habilidoso do ponto de vista de gestão, de administração, de condução. Ele é uma das figuras mais importantes, mais emblemáticas e está desempenhando um papel importante, entre outras coisas, por estar tocando com qualidade o maior programa nosso, que é o Bolsa Família.

O que explica a demora na nomeação do Celso Sabino para o Ministério do Turismo? Já se sabe que ele será o novo ministro…

Estamos ainda em julho, o governo está só começando. Agora está tudo muito calmo. Há uma relação mais bem estabelecida do ponto de vista da confiança, tanto de quem está aqui no Congresso, dos líderes, dos partidos, quanto de quem está lá no governo coordenando as ações, a política. A minha avaliação depois dessa última semana de muitas votações é que cimentou. Já havia uma sinergia, mas agora a coisa está muito bem solidificada. Acho que o governo vai ter uma ampla base para os próximos três anos e meio.

A relação melhorou por causa do espaço que Centrão ganhará no governo?

Tem outros fatores que melhoraram. Por exemplo, sempre teve uma queixa muito grande dos ministros tomarem iniciativa e não comunicarem o Congresso e a gente ser pego aqui de surpresa. Isso mudou muito. Tinha uma queixa muito grande dos ministros irem aos Estados e não avisarem, muitas vezes desconsiderarem a participação dos deputados. Isso não resolveu 100%, mas já melhorou muito. Tinha uma queixa, que também não resolveu 100%, mas já melhorou muito, da execução orçamentária, com previsibilidade, com ritmo, com clareza do que vai ser feito e do que não vai ser feito.

Voltando na questão de emendas, a principal queixa dos parlamentares é a demora na liberação. O que explica? É uma questão burocrática ou uma estratégia de segurar para o segundo semestre?

O governo em dezembro tomou a decisão acertada de que o Congresso pode e deve participar e influenciar na execução orçamentária. Foi assim em todos os outros governos, é assim em todos os países do mundo. A queixa foi que isso não teve velocidade, não teve previsibilidade. É natural, porque você está saindo do modelo anterior que era péssimo, que era de orçamento secreto, feito às escondidas. Quando você vai criar critério, é claro que cria uma dificuldade que pode ser chamada de burocrática. Mas é muito importante ter critério para o dinheiro não ser jogado no ralo. Acho que todo mundo já superou isso, já percebeu que não era má-fé (do governo). Eu não vi ninguém aqui no Congresso querer voltar ao modelo anterior ou achar que o Lula ia abdicar da sua obrigação de governar.

O presidente da Câmara sempre fala que o Congresso é de centro-direita e que o governo precisa entender isso. Nesse contexto, há espaço para pautas do PT?

Acredito que sim. Para nós, do ponto de vista social, o Desenrola acaba tendo um papel importante. Não tenho dúvida que o Congresso vai aprovar. Vencida a reforma tributária no Senado, vamos insistir para que outros aspectos tributários e de justiça social sejam tratados ainda no segundo semestre. Taxar mega-herança, megafortuna, tributação de lucros e dividendos. É bandeira nossa. Então, não acho que haja muito conflito com o que a bancada do PT deseja para o País.

Pautas de costumes e direitos humanos podem avançar?

As figuras políticas que têm uma tradição dentro dessas pautas precisam continuar (as defendendo) e têm o meu apoio. A gente só não pode confundir com isso sendo a pauta mais importante do País. Não é. O presidente Lula na campanha não combinou isso. O que ele combinou como principal pauta do País é acabar com a fome, gerar emprego, melhorar salários.

A bancada tem um mapeamento de quantos deputados do partido querem ser candidatos na eleição municipal do ano que vem?

Não temos ainda esse mapeamento, está sendo feito pelo partido. Eu faço parte da Executiva por ser líder da bancada, sou membro eleito do Diretório Nacional. Tenho uma avaliação de que o PT está atrasado, já deveria estar com esse processo de organização das eleições mais avançado. Cada vez mais a nossa presidente (Gleisi Hoffmann), a Executiva, o Diretório têm que se ocupar prioritariamente com isso. Partido é para cuidar da eleição, o governo é para cuidar da vida das pessoas, do funcionamento do País.

O PT deveria ter candidato em todas as capitais?

Acho que hoje o PT deve ter candidato em todas as cidades do Brasil porque quem não tem candidato não é respeitado, não é chamado para os entendimentos e acaba ficando fora da disputa. Onde não se tem candidato dificilmente se monta uma boa chapa de vereadoras e vereadores. Agora, quando chegar em maio, junho, julho do ano que vem, vamos fazer pesquisa, tem que ver onde tem viabilidade, quem são os adversários, quem são os possíveis aliados.

Mas como fica o acordo com Boulos em São Paulo? Ou com João Campos no Recife?

Para essa regra, obviamente vai ter algumas exceções em razão de compromissos que o presidente Lula fez, que o partido fez. O presidente Lula e a direção do PT vão dizer se São Paulo é ou não é, se Recife é ou não é uma exceção.

O senhor vai ser candidato em 2024?

Eu tenho sido convidado para trocar o meu domicílio eleitoral do interior do Estado, de Cruzeiro do Oeste, para Curitiba. E me sinto muito apto a isso. Em um Estado tão importante como Paraná, numa capital tão grande como é Curitiba, a gente não pode, de novo, chegar na véspera de uma eleição e não ter candidato como infelizmente aconteceu na eleição passada. Por isso que eu me disponho a fazer esse movimento.

E o Senado [em caso de cassação de Sergio Moro]?

Se a justiça for feita, ele vai ser cassado. Havendo uma eleição neste ano, como o meu nome é também cogitado, obviamente eu vou me dispor a discutir, avaliar isso com o partido. A Gleisi [Hoffmann, presidente do PT] não me disse que é pré-candidata. O Requião, de fato, falou publicamente que deseja disputar a eleição. Acho que a decisão inteligente é escolher o candidato que tem mais apoio fora do PT. Então, eu estou me dedicando a isso, para quando o partido tiver que decidir isso eu ter elementos.

Depois de terminada essa discussão da pauta econômica, arcabouço fiscal, tributária, como fica a relação do governo com Lira?

Acho que o semestre terminou bem. A ida do Arthur Lira ao Alvorada, à casa do presidente Lula, acompanhado de todos os líderes, inclusive do Republicanos e do PP, foi muito positiva, foi muito emblemática. Aquilo ali… eu estava lá, teve um significado, a minha avaliação, muito grande. Diria até histórico. E essa relação individual do Lira com o Lula, do Lula com o Lira, ela também ganhou uma consistência.

Essa continuidade na relação com a Câmara vai depender também da repartição dos espaços no governo?

Eu acho que isso vai ser concluído nas primeiras semanas de agosto. O conceito está definido. O Republicanos e o PP vão ter uma incidência maior, uma participação maior nos espaços de poder, o que é razoável pelo tamanho dos dois partidos e pela quantidade de votos que eles deram. Eu falei do União Brasil, que foi o que mais deu voto, mas o PP em todas as horas deu uma grande quantidade de votos, mesmo não tendo a benesse de estar lá no governo ocupando os espaços. E o Republicanos também.

Estadão