Vazam conversas de Eduardo Bolsonaro com estratégia do novo governo
O barraco protagonizado por integrantes do PSL num grupo de WhatsApp , iniciado na madrugada desta quinta-feira, ainda não terminou. Um novo conjunto de mensagens mostra que, no início da tarde, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) entrou na discussão e acabou revelando um suposto plano do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para influenciar na disputa pela presidência da Câmara.
O filho do presidente eleito entrou na discussão do grupo “Bancada PSL 2019” por volta de 12h50, depois de uma longa troca de acusações entre a deputada eleita Joice Hasselmann (SP) e o deputado e senador eleito Major Olímpio (SP). Eduardo Bolsonaro revelou aos integrantes do grupo que recebeu ordens do pai para conduzir articulações na Câmara apenas nos bastidores, de modo a não irritar o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“O PSL está fora das articulações? Estou fazendo o que com o líder do PR agora? Ocorre que eu não preciso e nem posso ficar falando aos quatro cantos o que ando fazendo por ordem do presidente. Se eu botar a cara publicamente, o Maia pode acelerar as pautas bombas do futuro governo. Por isso, quem tem feito mais essa parte é o delegado Waldir no plenário e o Onyx via líderes partidários”, diz Eduardo Bolsonaro.
O filho do presidente eleito não esclarece, nas mensagens, o que “anda fazendo” que seria capaz de desagradar o presidente da Câmara ao ponto deste deflagrar votações de “pautas bombas” no plenário da Casa. Eduardo Bolsonaro, no entanto, diz que teve um encontro com o líder do PR, o deputado José Rocha (BA). Um dos movimentos que poderiam irritar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, seria a possível construção de uma candidatura de oposição à reeleição de Maia. O PR de Rocha inclusive é um dos partidos que deve ter candidato na disputa, o deputado Fernando Giacobo (PR-PR).
Tomando partido no embate que começou ainda na madrugada desta quinta, Eduardo Bolsonaro critica a postura de Joice Hasselmann. Ele ataca a deputada eleita por ter, segundo ele, se colocado como possível líder do governo Bolsonaro na Câmara — cargo que o próprio Eduardo poderia assumir.
“Salta aos olhos a intenção de Joice de ser líder e assim como já demonstrou na época de campanha ela atropela qualquer um que esteja a frente de seus objetivos pessoais. Não está pensando no Brasil como a plataforma do PSL sempre se propôs”, escreveu.
O parlamentar acusou Joice de ter atropelado o presidente do PSL em São Paulo, Major Olímpio, durante a discussão de candidaturas, no começo do ano, e de ter tentado fazer a mesma coisa com ele em uma reunião do PSL. Para o filho do presidente eleito, Joice estaria “preparando terreno para receber os votos dos novinhos” na futura disputa por cargos de liderança.
“Ademais, a Joice chamou uma reunião na data em que eu estava nos EUA propositalmente, para reforçar que eu estaria apenas viajando e não dando conta do partido. Assim como todos vocês, eu sigo ordens, quem acompanhou minhas viagens pelas redes sociais sabe que durmo pouco e nem turismo faço”, escreveu.
Em outro trecho, o filho de Bolsonaro lamenta que o partido comece o ano conflagrado pela disputa interna de poder: “Vamos começar o ano já rachados, um olhando para o outro com desconfiança e os novos chegando cheios de dúvidas e incertezas graças a esse temor gratuito imputado nas suas cabeças”.
Eleita deputada federal pelo PSL, Carla Zambelli entrou na confusão para apoiar Eduardo Bolsonaro, diante da aparente divisão causada por Joice: “Não há racha, Eduardo. Estamos com você. E há a Joice, fazendo o que sempre fez, desde que começou a pré campanha”. Outros membros do partido também acenam em apoio a Eduardo. “Isso que estávamos precisando. Explicações do líder e ordem no galinheiro”, disparou um deles.
A resposta de Joice Hasselmann veio uma hora depois. Ela criticou Eduardo Bolsonaro que estaria sendo omisso nos debates do partido, estaria desinformado sobre o que se passa na sigla, e agiria de forma infantil ao mandar “recadinhos no Twitter” em vez de conversar “olho no olho” com os colegas.
“Tentei conversar com você algumas vezes para te informar o que estava acontecendo e trabalharmos em conjunto. Ontem mesmo foi o caso. Mas você marca e some”, criticou.
A deputada eleita disse, em letras maiúsculas, que não atropela ninguém e que já tinha interlocução com “TODOS” os líderes e presidentes de partidos: “Não vou jogar o trânsito político que tenho no Congresso e porque alguém bate o pé”.
Em seguida, diminuiu o capital eleitoral de Eduardo, ao dizer que o filho do presidente só fez “votação estrondosa com o sobrenome que tem”, enquanto ela fez “sem sobrenome” e que, na democracia, qualquer um no partido poderá disputar a eleição para a liderança:
“Se quisermos ter 52 candidaturas podemos ter e decidimos no voto e no debate, não por recadinhos infantis via Twitter”.
Ainda em sua defesa, Joice justificou seus movimentos alegando que há uma “jogada armada SEM O CONHECIMENTO da bancada para apresentar Waldir como líder em 2019, escolhido pelo Bolsonaro e por Olímpio. A bancada TEM Q SER OUVIDA. Simples assim. Ouça o que a bancada quer”, disse a Eduardo Bolsonaro.
“Você tem meu telefone, Eduardo. Quando quiser conversar como gente grande, sem mandar recadinhos pelo Twitter, ligue ou falemos olho no olho. Sou adulta o suficiente para passar por cima do que aconteceu na época de campanha com major e cia. Acho que vc tbm deveria ser. Hora de crescer. Saudações”, finaliza a deputada eleita.
Procurado para comentar as declarações, Eduardo Bolsonaro afirmou, por meio de sua assessoria, que não iria se pronunciar. Joice confirmou o teor das conversas, mas também não comentou o bate-boca.
Do O Globo