Bolsonaro se gaba de eliminar impostos para ricos
Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Ainda aborrecido com a aprovação com folga da Reforma Tributária pela Câmara dos Deputados, o ex-presidente Jair Bolsonaro passou um belo recibo, nesta terça (25), ao tentar convencer que, como o governo Lula, ele também vinha fazendo uma reforma.
E destacou o que seria uma de suas “conquistas”: reduzir o imposto cobrado sobre o jet ski dos ricos.
“A Reforma Tributária, eu vinha fazendo com o Paulo Guedes. Reduzimos em um terço o IPI de 4 mil produtos, zeramos o imposto de importação de muita coisa, como games, jet ski, veleiros”, afirmou em um evento do PL na Câmara Municipal de São Paulo.
Na verdade, reforma é algo muito mais complexo que um simples corte de impostos. Aprovada pela Câmara em 7 de julho, a PEC 45/2019 simplifica a taxação sobre o consumo no Brasil, criando um Imposto sobre Valor Agregado, que reúne tributos federais (IPI, PIS e Cofins) e estaduais e municipais (ICMS e ISS). O Brasil tentava aprovar uma proposta nesses moldes há três décadas, o que é fundamental para a economia. Daí, o ciúme do ex-presidente.
A citação ao jet ski não foi aleatória, uma vez que o texto da reforma, que está sendo analisado pelo Senado, prevê a cobrança de IPVA sobre esse tipo de embarcação, além de iates, lanchas, helicópteros e aviões – que, hoje, são isentos, ao contrário de carros, motos e caminhões.
Criticando o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o presidente Lula, Jair bateu na PEC aprovada na Câmara com o apoio do governador Tarcísio de Freitas, seu afilhado político, de 20 deputados federais de seu partido, da maioria dos setores econômicos e dos semoventes.
E, como já fez em outras oportunidades, aproveitou para defender a isenção de impostos para ricos e atacar a taxação progressiva sobre heranças. Diz que isso “taxa quem produz”.
Depois de afirmar à plateia de colaboradores e apoiadores que eles terão que pagar mais imposto (o que é provável se forem representantes do 1% mais rico da população, alvo da segunda fase da reforma, que deve tratar da renda e do patrimônio), Jair engatou um discurso psicodélico, que começou no jet ski de rico e terminou em xingamentos a Lula.
“Quando dizemos de jet ski, dizem que estamos pensando no rico. Na marina tem um montão de gente pobre que vive disso. Estimula o turismo. Facilitamos a aquisição de carteira de habilitação para jet ski e de hidroavião. O Brasil é uma pista, o Brasil é uma grande pista para hidroaviões. Quero turismo de hidroavião na Amazônia para mostrar para o mundo que aquele trem não pega fogo. Hoje o Canada tá em chamas, ninguém fala nada aqui no Brasil, ninguém, quer dizer, a mídia tradicional, né? Todo ano pega fogo na Califórnia, ninguém toca no assunto. Quando alguém aqui exagera na festa de São Joao, aquilo passou a ser um foco de calúnia no Brasil. Problemas, pancadas… Pancadas por que? Porque o país é maravilhoso, ninguém tem o que nós temos. A quem interessa, levem-se em conta alguns países europeus, países mais ao Norte, interessa eu ou um entreguista na presidência da República? Um analfabeto? Um jumento, por que não dizer assim?”
Jet ski, vale lembrar, foi um dos símbolos do seu governo durante a pandemia. Sempre que desejava mostrar indiferença diante das centenas de milhares de mortes por covid-19, ele cavalgava um no lago Paranoá ou em viagens pagas pelo contribuinte no Guarujá (SP) e em São Francisco do Sul (SC).
Apenas nessas duas cidades, o gasto de Bolsonaro no cartão corporativo nas festas de final de ano de 2020 a 2022 foi de R$ 1,16 milhão, incluindo apenas combustível, hospedagem e alimentação.
Pode se dizer muita coisa de Jair, menos que ele não sabe aproveitar bem os tributos. Os nossos, no caso.