Bolsonaro adota versão de Cid sobre venda de relógio
O ex-presidente Jair Bolsonaro minimizou nesta segunda-feira o fato de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, ter negociado a venda de um relógio recebido em viagem oficial por R$ 300 mil.
A Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do 8 de janeiro analisa e-mails de Cid negociando um relógio da marca Rolex, recebido junto de um conjunto de joias durante uma visita à Arábia Saudita em outubro de 2019.
Após almoçar com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o governador Tarcísio de Freitas, na sede da Prefeitura, Bolsonaro foi questionado pela imprensa sobre o assunto e respondeu ser natural alguém “querer cotar alguma coisa” na internet.
— Tudo o que o TCU me pediu foi entregue, inclusive um relógio parecido com aquele. Essa resposta do Cid tem que ver com o advogado dele. Não vejo nenhuma maldade em você cotar o preço de alguma coisa, é natural.
Secretária intermediou negociação
Ex-assessora da Presidência durante a gestão de Jair Bolsonaro, Maria Farani, que aparece como interlocutora de Mauro Cid em conversa por e-mail sobre a venda de um Rolex, afirmou ao GLOBO na sexta-feira que o tenente-coronel pediu a ela uma pesquisa na internet de contatos de possíveis compradores para o relógio.
De acordo com o material em posse da comissão, em 6 de junho de 2022, Cid recebeu um e-mail em inglês de uma interlocutora. “Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui”, disse ela. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”, escreveu.
Em resposta, Mauro Cid disse que não possuía o certificado do Rolex, pois “foi um presente recebido durante uma viagem oficial”, e que pretendia vender a peça por US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil, em cotação atual). Os e-mails não detalham o contexto do recebimento do relógio.
Caso Zambelli
Bolsonaro também foi questionado sobre o depoimento que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deveria ter prestado à Polícia Federal nesta segunda-feira, o que acabou não ocorrendo. Ele se esquivou do tema, disse “não ter nada contra” Zambelli e esperar que ela “explique tudo” às autoridades.
— Eu estive com ela antes das eleições ano passado. Depois disso nunca mais estive com ela. Nem atendi telefonema dela. Ela queria falar comigo um tempo atrás, nem respondi. Vamos ver o que acontece disso com esse hacker, que tô conhecendo melhor agora — afirmou o ex-presidente.
Zambelli deveria prestar depoimento por suspeita de contratar um hacker para invadir as contas do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do Conselho Nacional de Justiça. A defesa da deputada alega não ter tido acesso ao processo
O Globo