Bolsonaro pediu para hacker cometer crimes e prometeu indulto

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Foto: Gabriela Biló /Folhapress

O hacker Walter Delgatti afirmou à CPI dos atos golpistas de 8 de janeiro que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria lhe prometido um indulto para que ele tentasse fraudar as urnas eletrônicas e colocar em dúvida a lisura das eleições. Também foi pedida sua participação em um grampo em Alexandre de Moraes. Ele teria se reunido com Bolsonaro no Palácio do Alvorada e, posteriormente, ido ao Ministério da Defesa para tratar de termos técnicos.

Delgatti presta depoimento hoje à CPI, um dia depois da oitiva à PF (Polícia Federal). Ele entrou na mira da comissão após ter sido preso pela corporação, acusado de ter invadido o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Ele poderia ter ficado calado, mas não usou esse direito.

Segundo o hacker, ele foi procurado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) para se reunir com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com Duda Lima, marqueteiro da campanha de Bolsonaro nas eleições de 2022, e com o próprio Jair Bolsonaro, à época candidato à reeleição.

Na ocasião, conversaram sobre o plano de tentar provar que as urnas eram fraudáveis.

Bolsonaro, então, teria dito que não entendia da parte técnica do sistema eleitoral e pedido que ele conversasse com o ministro da Defesa. Agradeceu o hacker, disse que ele estava “salvando o Brasil” e, então, teria garantido o indulto.

Sim, recebi [proposta de benefício]. Inclusive, a ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado [Daniel Silveira] e como eu estava investigado pela [operação] Spoofing, impedido de acessar a internet e trabalhar, eu estava visava esse indulto, que foi oferecido no dia.
Walter Delgatti, hacker, à CPI

Delgatti, que ficou conhecido como o “hacker da Vaza Jato”, cumpria medidas cautelares após invadir os celulares de integrantes do Ministério Público e ter acesso às mensagens do ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro, atualmente senador, e do ex-procurador da República e deputado cassado Deltan Dallagnol.

Além do indulto, havia ainda a promessa de emprego para Delgatti. Ele chegou a prestar serviços para Zambelli para o site e redes sociais dela. Ele afirma ter recebido R$ 3.000, mas em decorrência da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, as redes sociais delas foram derrubadas — e ele não teve o serviço renovado.

Entre as penas de Delgatti pela Operação Spoofing, estava a proibição de usar a internet. Se ele cumprisse o plano do PL e de Bolsonaro, ele estaria infringindo a determinação judicial.

Em outra ocasião, Zambelli teria mediado uma ligação de Delgatti com Bolsonaro. Na conversa, o ex-presidente teria falado sobre um grampo do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), mas que o hacker precisaria assumir a autoria do crime. “Nesse grampo teriam conversas comprometedoras do ministro”, disse Delgatti.

O hacker explicou que Bolsonaro não pediu que ele grampeasse Moraes, mas que assumisse a autoria do crime que já teria sido cometido. “A informação que eu tenho é que ele já estava grampeado. Já existia o grampo”, disse Delgatti. “Segundo ele (Bolsonaro), naquela data, havia um grampo concluído”, afirmou.

Inicialmente, a ideia era que ele fosse o garoto-propaganda da campanha de Bolsonaro. Mas o plano não foi para frente. A segunda ideia então era que ele gravasse um vídeo mostrando que as urnas não eram confiáveis.

Ele teria uma urna que seria emprestada pela OAB, colocaria um aplicativo feito por ele e mostraria à população que seria possível apertar um número e sair outro. “Eu faria um código fonte meu, não do TSE, para a população ver que seria possível apertar um voto e imprimir outro”, explicou.

Segundo Delgatti, esse era o plano de Duda Lima e teria sido aprovado por Bolsonaro. Após os encontros iniciais, o hacker conta que foi diversas vezes à Defesa conversar com os servidores delegados para inspecionar as urnas eletrônicas no TSE.

Ele explicou que os funcionários da Defesa tentavam decorar o código fonte e outros detalhes do sistema eleitoral para repassar a ele. “A ideia inicial era que eu inspecionar o código fonte e apenas os servidores da Defesa tinham acesso. Eles acabavam decorando o pedaço do código e me repassando. Eu dei orientações [a eles]”, disse.

As ideias foram descartadas porque a reunião com a cúpula da campanha bolsonarista foi divulgada pela imprensa.

Preso desde o início de agosto, Delgatti é acusado de participar de um ataque contra o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para emitir um falso pedido de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Ele está preso desde o início de agosto.

Segundo o advogado dele, Ariovaldo Moreira, o hacker teria recebido R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli (PL-SP) em pagamentos pelos serviços de hacker. A parlamentar teria feito depósitos que chegam a R$ 14 mil e o restante do valor foi feito em espécie.

Ela nega as acusações. A defesa dela diz que “somente se manifestará após integral conhecimento do conteúdo dos autos”. “Reforça e rechaça qualquer acusação de prática de conduta ilícita e imoral pela parlamentar, inclusive, negando qualquer tipo de pagamento ao mencionado hacker”. O PL e Bolsonaro também foram procurados, mas ainda não se manifestaram.

Uol