Outra denúncia do hacker está confirmada
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Apontado por Walter Delgatti Neto como um de seus interlocutores em conversas por WhatsApp sobre urnas eletrônicas, o coronel Marcelo Gonçalves de Jesus negou que tenha intermediado contatos entre o hacker e o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército. A informação foi apresentada pelo hacker aos integrantes da CPI dos Atos Golpistas na última quinta-feira.
Em depoimento à CPI, Delgatti disse que o coronel Jesus lhe enviou, no período eleitoral, relatórios sobre as urnas e pediu que ele os autenticasse com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O coronel reconheceu que pode ter trocado mensagens com o hacker, mas afirmou que não o conhece e rechaçou a versão dele à CPI.
— Eu não conheço (Delgatti). Pode até alguém ter me apresentado (o hacker) em alguma situação, ou ele ter mandado alguma mensagem para mim, ou eu ter mandado, mas não foi nada daquilo que foi falado na CPI. Eu nunca tive contato com o comandante do Exército na função de comandante do Exército. Claro que o conheço, já conhecia tempos atrás, mas também nunca conversei com ele mais de 20 minutos ou meia hora — disse Jesus ao GLOBO.
O coronel Jesus afirmou que foi para a reserva em 2020. Depois, trabalhou por cinco meses no Ministério da Agricultura, durante o governo de Jair Bolsonaro, e deixou a função para se dedicar a uma empresa que abriu em Goiânia, onde vive.
— Se ele (Delgatti) mandou alguma mensagem, ou eu mandei, pode ter sigo em algum grupo, ou ele mandou e eu respondi sem nem saber quem era, mas com certeza o que ele falou não tem nada a ver. Nunca fiz intermediação entre ninguém e nenhum hacker — afirmou.
Delgatti disse à CPI que trocou várias mensagens de WhatsApp com Jesus, que “fazia o meio-campo” entre ele e o então comandante do Exército.
— À época havia relatórios de um argentino que fez uma live, um relatório e também outros relatórios que pegavam o resultado da eleição que estava no site do TSE e faziam relatórios. Ele (Jesus) me enviava e pedia que eu autenticasse, só que com dados que estavam no TSE — contou o hacker. — A ideia dele era que eu fosse no relatório, fosse até o site e confirmasse se realmente aquele dado que estava no relatório constava no site do TSE. Então, por diversas vezes eu realizei essa autenticação de relatório a ele.
Delgatti declarou que o coronel enviava a ele “vídeos do acampamento (na porta do Quartel-General) de pessoas rezando, de pessoas chorando”, e “dizia também que iria ter uma ruptura, uma intervenção”. Jesus confirmou ao GLOBO que participou de atos de rua, mas disse que não se lembra de ter enviado ao hacker mensagens dessa natureza.
— Fui na manifestação, sim, e acho que metade da população brasileira também foi. Que eu me lembre, não (enviei mensagens dos atos), não vejo por que eu mandaria alguma coisa — disse o coronel.
Na última sexta-feira, Delgatti prestou um depoimento à Polícia Federal no qual reiterou as declarações dadas à CPI na véspera. O hacker é alvo de um inquérito da PF que investiga uma invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizada em janeiro deste ano. Nessa invasão, ele inseriu no sistema um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assinado pelo próprio magistrado. Delgatti está preso desde o mês passado por causa dessa investigação.