PL insiste em pôr MIchelle na política

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Foto: André Ribeiro/Estadão Conteúdo

Ancorado no bolsonarismo, o PL se tornou o maior partido da Câmara, com 99 deputados federais. A sigla pretende repetir a fórmula e vencer as eleições do ano que vem em pelo menos mil prefeituras. A prioridade serão cidades médias e grandes pelo interior do Brasil.

Jair Bolsonaro ainda não tem um papel definido na estratégia da legenda. Existe dúvida sobre qual será sua situação judicial diante de tantas investigações.

Até o momento, o PL também não sabe se o ex-presidente rende mais votos solto ou preso. Na cadeia, o partido poderia usar o discurso de mártir e pregar que os candidatos apoiados por ele são uma espécie de “resistência contra o sistema”.

Solto, ele poderia viajar pelo país pedindo votos, fazendo motociatas e gerando material para TV e redes sociais. Uma pesquisa será feita até o final do ano para medir qual cenário é mais vantajoso.

Com essa indefinição, o PL se previne traçando uma alternativa. Michelle assumiria o posto de embaixadora do bolsonarismo. Ela está aprendendo ao lidar com grandes públicos ao viajar pelo país divulgando o PL Mulher.

No ano passado, a então primeira-dama foi muito elogiada pelos caciques do partido ao falar na convenção nacional do PL e no primeiro ato de campanha do marido.

A cúpula do partido tem altas expectativas, mas sabe que há pontos a melhorar. O discurso de Michelle é, por exemplo, considerado muito voltado para os evangélicos. Ela chama a igreja de “noiva do senhor”, termo comum aos evangélicos, mas desconhecido dos católicos, que são a maioria do eleitorado.

Também é bem vista que ocorra uma mudança na equipe de Michelle, que não é considerada profissional e à altura do potencial dela.

O partido já desenhou o que deseja para os próximos anos, em um ciclo de crescimento que sustentaria o PL:

Fazer um número expressivo de prefeitos em 2024;
Transformá-los em cabos eleitorais em 2026, para eleger mais deputados federais;
Com mais parlamentares, engordar a fatia do fundo partidário do PL, sobrando recursos para eleger mais prefeitos em 2028.
A aposta do partido é fazer prefeitos nas cidades médias e grandes do interior. O estado de São Paulo é usado como exemplo, com foco em municípios com muitos votos como Sorocaba, Ribeirão Preto e Santos —cidades que têm mais de 400 mil moradores.

A conquista do interior paulista já começou com a absorção do espólio do PSDB. Os tucanos chegaram a controlar 245 cidades, mas o esfacelamento da sigla faz os prefeitos baterem em retirada. O PL e o PSD têm sido os principais destinos.

Há ainda um plano de arrebatar o Sul do país. A região votou de forma massiva em Bolsonaro no ano passado. Além disso, o PT está desestruturado no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina.

O Centro-Oeste e o Norte também são vistos como regiões como potencial de aumento do número de prefeituras, ainda se valendo do bolsonarismo.

Para chegar às mil prefeituras, o presidente do PL só não aceita uma situação: alianças com o PT. O partido de Lula aprovou autorizar coligações com candidatos do partido de Bolsonaro.

 

O PL enfrenta crises em alguns municípios. Em São Paulo, por exemplo, o apoio à tentativa de reeleição de Ricardo Nunes (MDB) recebeu e ainda recebe críticas.

Bolsonaristas não ficaram contentes com o fato de o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) ter sido escanteado pela cúpula do partido. A sugestão de o candidato a vice não ser do grupo ligado ao ex-presidente também gerou reclamações.

O ex-ministro Marcelo Queiroga (Saúde) se filiou ao PL para concorrer à Prefeitura de João Pessoa, o que irritou as lideranças locais. O deputado federal Cabo Gilberto (PL-PB) se viu preterido na disputa. Neste mês, quando começam as inserções do partido na TV, ele não foi contemplado com nenhum segundo de exposição.

Em Campo Grande, a cúpula do partido não vê espaço para as aspirações do deputado Marcos Pollon (PL-MS), que sonhava em concorrer à prefeitura. A atual mandatária, Adriane Lopes (PP), tem boa avaliação e já recebeu o apadrinhamento da senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra de Bolsonaro.

Isso demonstra que o partido vai ser bastante pragmático. Bolas divididas serão decididas de acordo com os interesses nacionais do PL.

Uol