No Rio, moradores de rua tentam fugir das chuvas e alagamentos

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“Minha casa já era”, lamentou Carlos, 41, uma ironia na voz que não passava despercebida. Seu “lar, salgado lar”, como ele mesmo descrevia, era uma caixa de papelão a metros do Copacabana Palace, hotel que é sinônimo de luxo no Rio de Janeiro.

Morador de rua há mais ou menos uma década (diz que se perdeu “no andar dos anos”), ele correu para procurar abrigo após o temporal que inundou a cidade nesta segunda (8), ele e o Pintinho, um vira-lata “meio amarelado” que começou a segui-lo no Carnaval. Ninguém quis deixá-lo entrar, disse.

Os comércios de Copacabana “puxavam madame, marmanjo, criança, todo mundo pra dentro, até gente com cachorro”. Se tentava ele entrar, diziam não.

Carlos culpou a falta de banho (o último, “se alembro bem”, foi na semana passada) pela recusa. Jandira, que diz não lembrar idade nem sobrenome (aparenta estar na casa dos 50 anos), acha que é “falta de educação do povo mesmo”.

Ela contou que, quando o temporal apertou, foi procurar abrigo sob marquises. Mas esse dilúvio foi pior do que qualquer um que viu, e olha que está “há muito tempo” dormindo no asfalto.

Tentou entrar numa lanchonete, mas a enxotaram dali, disse. “Isso é desumano, porra. Queriam o que, que eu me afogasse? Não duvido nada.”

Segundo levantamento da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio, quase 15 mil pessoas vivem nas ruas da cidade, número que triplicou entre 2013 e 2016.

Ana Souza, 53, tem casa, mas bem longe dali. Mora na baixada fluminense, e todo dia demora cerca de duas horas para chegar na “casa da patroa”, em Ipanema. Nesta terça (9), levou três horas e já avisou à filha que não volta, vai dormir no serviço.

Com pés enfiados em saco plástico, a empregada doméstica diz que até argumentou que seria difícil ir trabalhar nesta terça. Mas não teve jeito.

“A patroa falou que tinha medo de ficar sozinha, que não podia sair para o mercado, que não tinha nada na casa.” E lá foi Ana fazer as compras.

Da FSP