Marielle Franco será nome de jardim em Paris
Falta pouco para Marielle Franco virar nome de jardim na capital francesa. A comissão de denominação de ruas da prefeitura de Paris anunciou nesta terça-feira (16) o local escolhido: um novo espaço verde junto à Gare de l’Est, uma das principais estações de trem de Paris.
Marielle Franco foi morta junto com o motorista Anderson Gomes numa emboscada no dia 14 de março de 2018. Quase um ano depois, dois suspeitos do crime foram detidos, um policial militar e um ex-PM.
Ainda em março do ano passado, a prefeitura de Paris instalou um grande retrato de Marielle na fachada do prédio. Várias vezes, a própria prefeita Anne Hidalgo tuitou a respeito da morte da vereadora, cobrando uma resolução do crime.
A comissão de denominação de ruas da prefeitura de Paris determinou que um futuro terraço verde na região central da cidade vai ser batizado com o nome de Marielle Franco. A decisão ainda precisa ser ratificada pelo conselho do 10° distrito, bairro onde fica a futura praça suspensa, no dia 28 de maio, e depois pelo Conselho de Paris, que vota no dia 11 de junho.
“Era importante que fosse numa área ainda popular da cidade”, diz a historiadora Juliette Dumont, que faz parte da ONG RED.Br –Rede Europeia pela Democracia no Brasil, entidade à frente da iniciativa. “Os parisienses vão poder se apropriar do espaço, frequentar o Jardim Marielle Franco, que não vai ser apenas uma placa na parede”, diz.
O espaço vai ser implantado no terraço de um hotel em construção ao longo da via férrea. As obras devem terminar no final de julho. O jardim vai ficar no nível da rua, que se eleva paralelamente aos trilhos. A inauguração do Jardim Marielle Franco deve acontecer no segundo semestre, provavelmente em outubro, informou Dumont.
Em comunicado, o RED.Br se diz muito satisfeito pela escolha. “É um local amplo, arborizado, com vista espetacular dos telhados de Paris, em um bairro muito animado e ainda popular. Achamos que a memória de Marielle vai poder crescer ‘como uma flor no asfalto’, segundo expressão que ela dizia com frequência antes de morrer.
O primeiro passo para ter um logradouro parisiense em homenagem à vereadora do PSOL foi dado em fevereiro, em carta aberta do RED.Br, à prefeita Anne Hidalgo, em fevereiro deste ano. A prefeita adotou a petição e no começo deste mês comemorou a aprovação da homenagem pelo conselho de Paris, que reúne os vereadores da cidade.
O tuíte diz: “Aprovado! Os vereadores parisienses adotaram nesta manhã a proposta que eu apresentei com minha equipe: um logradouro em Paris vai ter o nome de Marielle Franco, militante de direitos humanos, vereadora no Rio de Janeiro, assassinada em março de 2018”.
A rue d’Alsace (rua da Alsácia), que margeia o futuro jardim, é uma espécie de corredor, passagem de pedestres apressados. O comércio é típico de bairro, com uma livraria e algumas lojas, bares e restaurantes populares.
Numa loja de celulares, o balconista Sarder Ataur, do Bangladesh, há oito anos em Paris, desconhece quem seja Marielle Franco, mas apoia a iniciativa do espaço verde. “Vai ser bom para todos e também para os comerciantes”, opina.
Os amigos portugueses Varela e Natalino estão ali por acaso, aguardando uma outra pessoa. Também não conhecem a vereadora brasileira, mas gostam da ideia de um jardim no local.
Num dos bares da rua, Guillaume, vigia no bairro, também é a favor. “Conheço bem a região, há uns três anos isto aqui era um local de bêbados, é uma ótima ideia de se fazer um jardim”. Ele nunca tinha ouvido falar da vereadora carioca, mas ao ser informado de que Marielle era uma mulher, negra, gay e defensora dos direitos humanos, ele acha a proposta melhor ainda. “Gosto dessa homenagem, vai torná-la conhecida”, explica.
A estudante Julie, de 20 anos, almoçava um sanduíche em um vão da escadaria da rua da Alsácia junto com uma amiga. Ela se lembrava vagamente do caso da vereadora assassinada. “Aprovo o gesto, acho absurdo uma pessoa ser morta por causa do que ela pensa”, declarou.
“É importante ressaltar que o projeto foi aprovado pelo conselho da prefeitura por vereadores tanto de esquerda, quanto de direita”, diz Juliette Dumont. A historiadora lembra ainda que a iniciativa do coletivo tem apoio de diversas ONGs, como a Anistia Internacional, Autres Brésils e Cimade.
Da FSP