Com 41% a menos no orçamento, UFRJ terá problemas de funcionamento
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maior federal do país, com 65 mil estudantes matriculados, afirmou ter sofrido um corte de 41% em seu orçamento de custeio, o que representa R$114 milhões. Segundo o reitor, Roberto Leher, a medida tem tamanha dimensão para a instituição que é como se “o fim do ano tivesse sido antecipado”.
Na terça-feira, o ministro da educação, Abraham Weintraub, anunciou que faria um corte de 30% em todas as universidades federais. Leher diz que as consequências para o funcionamento da instituição já podem aparecer nas próximas semanas. Ele explica que o contingenciamento global do orçamento foi de 30%, mas, considerando apenas a parte destinada ao custeio da UFRJ, ou seja, o que mantém a universidade aberta, chega quase à metade.
Como a UFRJ é uma universidade grande e tem um gasto fixo de limpeza maior que as demais, e considerando que ela já vem operando em déficit muito grande, esse bloqueio impede que a UFRJ pague terceirizados — afirma Leher. — A UFRJ já está sem recursos para pagar suas contas. Sem reversão imediata desse corte, já nas próximas semanas vamos ter problemas graves de manutenção de atividades essenciais, como energia, limpeza, segurança, e segurança patrimonial. Há possibilidade de interrupção de pesquisa, temos hospitais de ensino que precisam desses recursos.
A instituição informa que o orçamento destinado ao custeio da universidade foi reduzido, em valores atualizados, de R$ 582 milhões em 2014 para R$ 361 milhões em 2019, valor que, com o corte de verbas, será ainda menor. Atualmente, a universidade trabalha com um déficit orçamentário de R$170 milhões.
O orçamento já era insuficiente antes dos cortes, retirando mais de R$ 114 milhões é obvio que isso antecipa o fim do ano — disse o reitor.
Questionado sobre a afirmação do ministro da Educação sobre o que qualificou de “intolerância de reitores de esquerda”, Leher, que é um dos fundadores do PSOL, rebateu a afirmação do ministro. Segundo o reitor, ela demonstra o desconhecimento de Weintraub da universidade. Na quarta-feira, o ministro escreveu no Twitter que “Para quem conhece universidades federais, perguntar sobre tolerância ou pluralidade aos reitores de esquerda faz tanto sentido quanto pedir sugestões sobre doces a diabéticos”.
Nós estamos ansiosos para conversar com o ministro e apresentar a ele essas instituições — argumentou Leher. — Universidades que estão sob o pensamento único, que são dogmáticas, que adotam formas de pensamento fundamentalista são incapazes de produzir conhecimento. A pujança acadêmica da UFRJ é uma demonstração de que liberdade de pensamento é algo salutar.
De O Globo