Espionagem no WhatsApp afetou poucos, mas é gravíssima, dizem especialistas

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Se você acompanhou as principais notícias da manhã desta terça-feira (14), deve ter visto que uma falha de segurança no WhatsApp foi descoberta. A empresa confirmou o problema e está recomendando que seus 1,5 bilhão  de usuários atualizem o aplicativo em seus dispositivos.

Na prática, a vulnerabilidade encontrada no sistema do WhatsApp permitiu a instalação de um software espião por  meio da função de chamada de voz. Ao ligar para o celular da vítima usando o aplicativo, mesmo que a ligação não fosse atendida, o programa malicioso era instalado no aparelho. Uma vez lá dentro, o sistema de espionagem passava  a ter acesso a tudo o que a vítima fazia em seu aparelho. Das mensagens, áudios e fotos compartilhadas no  WhatsApp até as câmeras.

Ao que tudo indica, o objetivo da ação era vigiar remotamente os celulares de alguns alvos específicos  possivelmente, ativistas de direitos humanos, jornalistas ou políticos). O próprio WhatsApp emitiu um comunicado  em que diz que as características do ataque demonstram que ele pode ter vindo de uma  empresa privada que  supostamente trabalha com governos que desejam usar programas de espionagem.

Mas, apesar disso, o fato de a vulnerabilidade explorada no ataque não depender de qualquer ação do usuário para  ser “ativada” é o que faz dela uma ameaça gravíssima, segundo especialistas.

“No primeiro momento, não é todo mundo que será vítima. São alvos pontuais. Mas, se acontecer de criminosos  conseguirem fazer essa engenharia reversa e descobrir como usar essa mesma vulnerabilidade [ou outra mais  avançada], muita gente pode ser afetada. O dispositivo é infectado sem a pessoa se dar conta”, afirmou Fabio  Assolini, analista sênior da empresa de segurança online Kaspersky.

O professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Arthur Igreja, especialista em tecnologia e segurança digital,  concorda. Para ele, este é o maior escândalo de segurança envolvendo o WhatsApp.

“É grave justamente pela natureza. Não estou falando em uma brecha de vazamento de mensagens. Até porque elas  são criptografadas. Mas é muito mais amplo. É abrir uma brecha através de um erro, uma falha de segurança, do ponto de vista de desenvolvimento do WhatsApp para ter pleno acesso ao smartphone da vítima”, afirmou.

A percepção de que este erro de segurança envolvendo a empresa é o maior já descoberto é compreensível. Os  serviços da companhia, que pertence ao Facebook, eram tidos como seguros, já que até hoje não há registros  públicos de casos parecidos. A própria criptografia usada dá aos usuários a sensação de que as suas informações não  serão acessadas facilmente.

Uma falha mais simples foi noticiada em outubro do ano passado, mas não causou tanta repercussão como a de hoje.  Um erro de sistema permitia que o aplicativo travasse e fechasse subitamente se o usuário atendesse alguma chamada de vídeo que contivesse arquivos maliciosos.

Mais detalhes sobre o ataque

Segundo Fabio Assolini, existem dois tipos de brechas de segurança capazes de permitir que programas espiões  sejam instalados. Tudo funciona por meio da execução remota de um código malicioso. Ela é possível quando: Assolini explica ainda que existem dois tipos de falhas capazes de permitir que programas espiões sejam instalados.

A execução remota de um código malicioso é possível quando:

Tem interação do usuário: a pessoa clicar sem querer em um link malicioso, por exemplo, e abre a porta do sistema  para a instalação de software espião; Não tem interação do usuário: uma falha de segurança do próprio sistema permite abre uma brecha para que o programa espião se instale sozinho – como é o caso da vulnerabilidade  descoberta no WhatsApp.

O especialista acrescenta que existe todo um mercado por trás da comercialização de programas que possam ser  executados independentemente da interação dos usuários. Ele destaca que uma vulnerabilidade como a descoberta  o WhatsApp pode ser vendida por milhões de dólares.

No caso da falha descoberta, o invasor precisava saber os números de telefone do alvo e, em seguida, precisava apenas fazer a chamada do WhatsApp, lembrou Nikolaos Chrysaidos, chefe de segurança & inteligência de ameaças  de dispositivos móveis da empresa de segurança online Avast. Por isso, também, acredita-se que o número de  vítimas não tenha sido alto. Mas se pensarmos bem, conseguir números de telefone em grande escala não é lá muito  difícil.

Segundo Chrysaidos, a Avast não notou um aumento nas detecções de spyware (programa espião) entre os seus  clientes. Fabio Assolini, da Kaspersky, compartilha da mesma percepção. Na dúvida, todos recomendam fortemente  a atualização do WhatsApp nos dispositivos e o uso de um programa de segurança capaz de detectar vírus e outros  tipos de ameaças virtuais.

Como você deve se proteger?

A atualização de apps em smartphones costuma acontecer de duas formas: automática ou manual. Da primeira forma, o usuário não faz nada: o celular atualiza automaticamente o app assim  que novas versões dele são disponibilizadas. Da segunda forma, o usuário precisa ele mesmo atualizar app por app  quando achar necessário.

Vamos ensinar o processo para as duas principais plataformas móveis.

iOS:

Checando se está atualizado: Entre em App Store > na busca, digite “WhatsApp” e clique na lupa > Quando encontrar o WhatsApp Messenger, clique na página dele > Se houver um botão azul escrito “Atualizar”, clique nele. Se estiver escrito apenas “Abrir”, você já está com a versão mais recente

Ativando a atualização automática para todos os apps: Siga o caminho Ajustes > [seu nome] > iTunes e App Store > ative “Atualizações”

Checando a versão do app: Abra WhatsApp > Ajustes > Ajuda > no alto da tela, veja se é a versão 2.19.51, a mais atual

Android:

Checando se está atualizado: Entre na Google Play > na busca, digite “WhatsApp” e clique na lupa do teclado > Quando encontrar o WhatsApp Messenger, clique na página dele > Se houver um botão verde escrito “Atualizar”, clique nele. Se estiver escrito apenas “Abrir”, você já está com a versão mais recente

Ativando a atualização automática para todos os apps: Siga o caminho Google Play > Menu de três barras horizontais, no alto da tela > Configurações > Atualizar apps automaticamente > ative

“Por meio de qualquer rede” (mas isso cobrará do seu plano de dados móvel) ou “Somente por Wi-Fi” (só usará redes wi-fi as quais você tem acesso) Checando a versão do app: Abra WhatsApp > Configurações > Ajuda > Dados do aplicativo > no centro da tela, veja se é a versão 2.19.134 (para usuários fora do programa Beta) ou a 2.19.139 (para usuários do programa Beta)

Segundo este relato de segurança do próprio Facebook (empresa dona do WhatsApp), o problema afeta o WhatsApp com versões de número inferior aos citados abaixo:

para Android antes da 2.19.134 (comum) e 2.19.44 (versão Business)

para iOS antes da 2.19.51 (comum) e 2.19.51 (versão Business)

para Windows Phone antes da 2.18.348

para Tizen (usado nos smartwatchs da Samsung) antes da 2.18.15

Se seu aparelho tem uma versão muito antiga do WhatsApp, é bem possível que se enquadre em um desses casos. Uma atualização de segurança (patch) foi divulgada na sexta-feira passada (10) para resolver o problema. Na segunda-feira (13), o WhatsApp pediu a seus usuários –são pelo menos 1,5 bilhão atualmente– para atualizar o aplicativo como precaução adicional.

Do UOL