Queimadas se alastram; Bolsonaro explica com conspiração

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Foto: Daniel Beltrá / Greenpeace

O negrume que tomou o céu de São Paulo em plena tarde de segunda (19) acabou, por vias oblíquas, chamando a atenção para queimadas que grassam em proporções alarmantes na Amazônia e nas fronteiras com Paraguai e Bolívia.

Embora a principal explicação para o fenômeno paulistano tenha sido a chegada de uma frente fria, meteorologistas apontaram também sua possível relação com o fogo em regiões distantes.

Se é difícil dimensionar a influência do segundo fator, não se questiona que o país tem vivido neste ano alta expressiva das queimadas.

Contaram-se 72.843 focos até 19 de agosto, um crescimento de 83% ante o mesmo período de 2018 e recorde desde 2013 para os primeiros oito meses do ano, segundo o Inpe.

A lista é encabeçada por Mato Grosso, seguido de Pará, Amazonas e Rondônia. Os biomas com mais casos são a floresta amazônica, com 52% do total de registros, e o cerrado, com 30%.

Também preocupante é a ocorrência das chamas em áreas protegidas. Somente nesta semana já se observaram 68 episódios dentro de terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federais.

Lamentável, embora não surpreendente, foi a reação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos dados. Não os contestou, mas tampouco perdeu a oportunidade de propagar teorias conspiratórias e vilipendiar inimigos imaginários.

Nesta quarta (21), disse que ONGs poderiam estar por trás das queimadas, com o objetivo de prejudicar a imagem de seu governo.

Raramente tais incêndios são naturais —mas não pelo motivo apresentado pela fantasia bolsonarista.

Mais comum é uma queima intencional, para livrar pastos de pragas, sair do controle e alcançar matas —isso quando o fogo não é usado para limpar áreas previamente desmatadas.

Exemplo eloquente desta última modalidade foi um certo “dia do fogo”, anunciado por fazendeiros do entorno da BR-163 no sudoeste do Pará, em 10 de agosto, sábado.

Principal cidade da região, Novo Progresso registrou 124 focos de incêndio naquela data, recorde do ano. No domingo, o número subiu para 203, atingindo áreas de conservação. O Ministério Público Estadual abriu investigação.

À diferença dos últimos anos, quando o Ibama manteve uma base de fiscalização em Novo Progresso durante o período seco, em 2019 a operação acabou cancelada devido à falta de apoio das administrações estadual e federal.

Nessa seara, como se vê, ONGs são desnecessárias para prejudicar a imagem do governo.

Da FSP