Postura sobre Amazônia prejudica Eduardo na embaixada nos EUA
As chamas na Amazônia, que fazem os olhos do mundo se voltarem para o Brasil mais uma vez, chamuscam a imagem da família Bolsonaro, não apenas a respeito da condução da política ambiental, mas também colocam em risco a “candidatura” de Eduardo à embaixada do Brasil nos Estados Unidos.
A avaliação foi feita ao HuffPost entre a noite de quinta (22) e a manhã desta sexta-feira (23) por diplomatas brasileiros, tanto na ativa quanto aposentados, e senadores. É ao Senado Federal que cabe avalizar o nome do deputado federal para o cargo caso Bolsonaro insista no desejo de designar o 03 como embaixador.
Desde quinta, Eduardo Bolsonaro tem usado as redes sociais para marcar posição e tomar partido do pai, que atacou o presidente da França, Emmanuel Macron. No Twitter, chegou a compartilhar um vídeo em que o mandatário francês é chamado de “idiota”.
O vídeo é do youtuber Bernardo Kuster, que volta e meia aparece na timeline de bolsonaristas, e foi publicado em 3 de dezembro. Na publicação, Kuster diz que os manifestantes franceses criticam Macron por ele “ser entregue à força de outros países e a acordos internacionais”, por meter o “bedelho” e ser “tão politicamente correto internacionalmente”.
O francês convocou os integrantes do G7 a discutirem as queimadas na Amazônia, classificou os incêndios como “criminosos” e disse que há uma “crise internacional”. Para o Planalto, há uma ameaça sem sentido.
Na quinta, em sua live semanal, Jair Bolsonaro voltou a afirmar que os dados divulgados sobre o desmatamento na região amazônica são “mentirosos”. Só em julho deste ano, houve um aumento de 278% no desmate em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
“Tinha uma pessoa lá que gostava de divulgar dados mentirosos”, afirmou. No início do mês, irritado com os índices, o presidente exonerou o diretor do instituto Ricardo Galvão, que tinha mandato.
Logo após a live, Bolsonaro fez um post nas suas redes sociais em que foi mais explícito, atacando diretamente o presidente francês.
– Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ ganhos políticos pessoais. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até p/ fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) August 22, 2019
Eduardo chamuscado
Senadores ouvidos pelo HuffPost mencionaram esse post específico para falar da postura de Jair Bolsonaro sobre a Amazônia como um todo. A partir disso, ressaltaram o “apoio irrestrito” de Eduardo ao pai. O deputado também encheu a timeline de mensagens sobre as chamas na floresta, “mas abordando polêmicas, e não soluções”.
https://twitter.com/BolsonaroSP/status/1164680440327933952?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1164680440327933952&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.huffpostbrasil.com%2Fentry%2Famazonia-eduardo-embaixada_br_5d5febcfe4b0b59d25738683
“Isso não é postura de embaixador”, disse um senador da oposição. Para esse parlamentar, se o placar de votação no Senado estava apertado, deve ter afrouxado com a polêmica da qual “Eduardo fez questão de participar”.
Um aliado que vinha trabalhando nos bastidores pelo filho 03 do presidente lamentou o envolvimento dele com o assunto: “Ele não tratou o caso de forma diplomática, que era o que se esperava dele nesse momento em que, ao que tudo indica, está prestes a passar por uma sabatina aqui [no Senado]”.
A postura repercutiu mal até entre amigos do filho do presidente. “A sabatina pode se transformar em um massacre.”
Se a indicação para a embaixada brasileira nos Estados Unidos for formalizada, como Eduardo garante que será, os senadores fazem uma espécie de entrevista com ele na Comissão de Relações Exteriores
(CRE) e, em seguida, o nome dele é encaminhado para votação no plenário.
“Se antes já estava difícil, agora acho que ele perde com ampla maioria”, acrescentou um outro aliado de Eduardo Bolsonaro.
O corpo diplomático brasileiro também foi pego de surpresa com a postura do deputado. “Nunca vi um diplomata se portar dessa forma. Eles dizem que estamos em novos tempos. Mas o embate, a deseducação, a polêmica… Esses caminhos não são seguros. Ainda mais para uma pessoa na posição em que ele quer estar”, disse ao HuffPost um integrante da diplomacia.