Indulto de Bolsonaro pode favorecer milícias e grupos de extermínio
O policial militar Adriano da Nóbrega foi preso três vezes antes de ser expulso da corporação, no Rio, em 2014. Nesse tempo, foi acusado de assassinar um guardador de carros e de trabalhar como segurança de um bicheiro. Em sua carreira, ele recebeu duas homenagens do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Uma medalha foi concedida quando o PM estava na cadeia.
Adriano era suspeito de usar a farda para cometer crimes. Ficou um ano e meio atrás das grades por matar um homem que havia denunciado policiais por extorsão. Foi solto depois que a sentença foi revertida em segunda instância.
Se Jair Bolsonaro estivesse no poder à época, talvez ele nem tivesse ficado preso por muito tempo. O presidente anunciou que vai conceder indulto a “colegas policiais que estão presos injustamente pelo Brasil”. Em sua transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais, pediu que o público mandasse nomes para que ele pudesse “botar na rua” esses agentes.
A intenção é ampliar sua campanha para reduzir a punição a policiais que matarem em serviço. O saidão de Bolsonaro vai libertar agentes que atuaram em confrontos com criminosos, mas também pode ajudar milicianos e esquadrões da morte.
O clã presidencial mostrou, ao longo de sua história, que não dá muita bola para essas questões. Num discurso em 2003, Bolsonaro elogiou grupos de extermínio denunciados na Bahia. “Se não tiver espaço na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro”, afirmou. “Lógico que são grupos ilegais, mas meus parabéns.”
Políticos da bancada da bala costumam ignorar a existência de bandos paramilitares formados por policiais e ex-policiais. Essas quadrilhas se associam a traficantes e bicheiros ou agem sozinhas para extorquir moradores de bairros inteiros.
Embora a lei devesse ser mais dura contra esses grupos, Bolsonaro advoga por uma conduta branda que vai acabar favorecendo também os matadores de farda. Em alguns casos, eles ainda podem ganhar de brinde uma condecoração oficial.
Da FSP