Ao atacar Paulo Freire, Bolsonaro o divulga, diz viúva
Às vésperas do lançamento de livro com escritos inéditos de Paulo Freire, a viúva do educador, Ana Maria Freire, disse que as críticas de Jair Bolsonaro servem como marketing para as publicações do marido, morto em 1997.
Aos 85 anos, ela é uma das organizadoras de Direitos humanos e educação libertadora , lançado nesta semana na Bienal do Rio. O livro reúne anotações de Freire quando ele era secretário municipal da Educação em São Paulo, de 1989 a 1991.
“Ele está estimulando a venda de livros de Paulo. Muita gente que nunca leu está comprando o livro para ler”, afirmou a Ana Maria, em entrevista à coluna.
Leia a entrevista à coluna:
Como é lançar um livro de Paulo Freire em um momento no qual ele é atacado?
Nós começamos isso há cinco anos. A situação não era tão favorável já no governo de Michel Temer, mas havia um certo respeito. Inclusive, quando houve modificações na Wikipedia de Paulo, com coisas grosseiras e não verdadeiras, escrevi para o presidente interino Michel Temer e ele disse que tomaria providências. E realmente tomou. Eles tiraram essas coisas desleais. Quando o atual presidente se candidata, ele começa a dizer que vai com um lança-chamas na biblioteca da Universidade de Brasília para queimar tudo e que acabaria com Paulo Freire. Ele não sabe o que Paulo fez, o que era e o que é. E que não é fácil exterminar essa imagem altamente dignificada de Paulo.
As críticas de Bolsonaro favorecem ou atrapalham as vendas de Paulo Freire?
Ele está estimulando a venda de livros de Paulo. Muita gente que nunca leu está comprando o livro para ler. “Que histórias têm esse homem que é tão odiado por essa elite da extrema-direita do Brasil? Por que é tão odiado?” As pessoas querem saber.
Então é como se Bolsonaro fizesse marketing para o Paulo Freire?
Faz, sim. Ele pensa que tudo o que faz atende aos interesses dele. Não é bem assim. Esse homem dizendo que Paulo é maldito, é doutrinação, é cruel. Não é nada disso. Ele está falando dele mesmo, está se olhando no espelho.
Como vê Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e crítico de Paulo Freire, se tornar embaixador dos EUA?
É uma piada. Para ser embaixador da maior potência político-econômica do mundo você tem que ter um traquejo social enorme, que esse rapaz não tem. Precisa ter conhecimento profundo da dinâmica social da história dos dois países, uma facilidade muito grande para tratar assuntos desagradáveis, mas sem demonstrar iras e raivas. Por tudo, ele não tem como ser embaixador.
E como avalia os cortes na Educação?
É uma coisa horrorosa. É a vontade que a educação chegue ao limite. O ministro da Ciência e Tecnologia diz que não há mais recursos para uma bolsa de estudo. O Brasil não vai mais fazer pesquisa. Estávamos fazendo pesquisas muito importantes para o Brasil e para o mundo. Havia a intenção de nos inserirmos numa sociedade mais tecnológica, científica, sábia e, por isso, mais próspera, e podendo nos fazer sujeitos mais felizes. Com esse sistema, não podemos ser felizes. Estamos tristes, humilhados.
E a gestão de Abraham Weintraub?
É um desastre. Ele não entende nada de Educação. Tudo o que ele propõe e diz é absurdamente ridículo. Fica dançando de guarda-chuva.
O que falaria para Weintraub se encontrasse com ele?
Primeiro, teria que pedir a Deus para me controlar, para não dizer coisas que poderia me arrepender depois. No fim, tem que respeitar a pessoa humana. Mas não acredito que ele faz o que faz com convicção de consciência crítica. Ele não tem consciência crítica. Por isso, faz coisas estapafúrdias, tomando as medidas que o presidente e o filho do presidente mandam. Falam que a educação está assim porque o Brasil seguiu Paulo Freire. O Brasil não seguiu o Paulo, infelizmente. Se tivesse seguido, estaríamos em outro nível de educação.
Como as pessoas reagem quando se identifica como viúva de Paulo Freire?
Muito bem. Sempre reagiram. Eu me afastei de algumas pessoas, amigos e familiares, que sei que são fanaticamente bolsonaristas, que já falavam com o entusiasmo como se Deus viesse pairar como comandante do Brasil. Eu me afastei porque não quero dizer as coisas horríveis que as pessoas que estão colaborando com esse governo merecem ouvir. Para você não ficar numa situação constrangedora, é melhor se afastar.
E a gestão de Abraham Weintraub?
É um desastre. Ele não entende nada de Educação. Tudo o que ele propõe e diz é absurdamente ridículo. Fica dançando de guarda-chuva.
O que falaria para Weintraub se encontrasse com ele?
Primeiro, teria que pedir a Deus para me controlar, para não dizer coisas que poderia me arrepender depois. No fim, tem que respeitar a pessoa humana. Mas não acredito que ele faz o que faz com convicção de consciência crítica. Ele não tem consciência crítica. Por isso, faz coisas estapafúrdias, tomando as medidas que o presidente e o filho do presidente mandam. Falam que a educação está assim porque o Brasil seguiu Paulo Freire. O Brasil não seguiu o Paulo, infelizmente. Se tivesse seguido, estaríamos em outro nível de educação.
Como as pessoas reagem quando se identifica como viúva de Paulo Freire?
Muito bem. Sempre reagiram. Eu me afastei de algumas pessoas, amigos e familiares, que sei que são fanaticamente bolsonaristas, que já falavam com o entusiasmo como se Deus viesse pairar como comandante do Brasil. Eu me afastei porque não quero dizer as coisas horríveis que as pessoas que estão colaborando com esse governo merecem ouvir. Para você não ficar numa situação constrangedora, é melhor se afastar.
De Época