Bolsonaro omite da agenda oficial encontro com Augusto Aras
O Palácio do Planalto escondeu da agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro um encontro dele com o subprocurador-geral da República Augusto Aras na tarde do último sábado, no Palácio da Alvorada. Candidato ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR ), ele foi acompanhado pelo ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), que é amigo de Bolsonaro e o apresentou a Aras.
Questionada pelo GLOBO na tarde desta terça, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência enviou nota às 22h08 informando apenas que “não há registro sobre o referido encontro na agenda do senhor presidente no último sábado”. Mas a redação do comunicado não aponta se o encontro ocorreu, como perguntou a reportagem. Também ficou sem resposta até o momento a indagação sobre por que a visita foi omitida da agenda.
Fraga chegou à residência oficial do presidente dirigindo o próprio carro acompanhado de Aras, no banco do carona, por volta das 15h30. Eles se reuniram com o presidente por cerca de uma hora e meia. De acordo com um interlocutor do subprocurador, a conversa serviu para esclarecer sua suposta ligação com a esquerda, rechaçada por Bolsonaro, e o recolocou no páreo.
No Planalto, as chances de Aras são consideradas remotas pelo entorno do ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência, um dos principais conselheiros do presidente para a escolha.
Uma resolução em vigor da Comissão de Ética Pública da Presidência determina que “compromissos realizados sem prévio agendamento e as alterações ocorridas nos compromissos previamente agendados, inclusive as relativas aos assuntos tratados, deverão ser registrados na agenda de compromissos públicos em até dois dias úteis após a sua realização”.
Até as 23h desta terça, a agenda de Bolsonaro no sábado registrava apenas dois compromissos, ambos em Brasília: às 10h, ele assistiu a um evento de hipismo, e, às 19h10, recebeu o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Nesse meio-tempo, ele almoçou no Quartel-General do Exército, onde conversou com jornalistas por mais de uma hora.
Na manhã desta terça, Bolsonaro comparou o governo a um jogo de xadrez e afirmou que a dama (ou rainha) corresponde à PGR. O rei seria o presidente, enquanto os peões seriam a maioria dos ministros, com exceção de Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (Economia), comparados à torre e ao cavalo, respectivamente. A rainha é a peça mais poderosa do xadrez, por poder se movimentar para todos os lados. O rei, por outro lado, é mais importante, porque perdê-lo significa ser derrotado no jogo.
Apesar de Bolsonaro tratar a Procuradoria-Geral como parte do governo, o Ministério Público tem independência. O procurador-geral é indicado pelo presidente e precisa ser aprovado pelo Senado, e tem um mandato de dois anos.
Na semana passada, Bolsonaro havia dito que está em dúvida entre três nomes para decidir sua indicação para a PGR. O prazo do mandato da atual procuradora-geral, Raquel Dodge, termina no dia 17 de setembro. O presidente já disse que não tem data para escolher o nome e que pode manter o subprocurador-geral Alcides Martins como interino no cargo.
Candidatura de Aras
No início do mês passado, o nome de Aras ganhou força na disputa, após encontros com Bolsonaro intermediados por Fraga. O subprocurador passou a enfrentar a oposição dos integrantes das forças-tarefas da Operação Lava-Jato.
Em contato com representantes do governo, os procuradores reforçaram a defesa do respeito à lista tríplice da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), votação da qual Aras se recusou a participar e que resultou na escolha de três nomes de preferência da categoria: Mário Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Blal Dalloul.
No dia 24 de julho, Aras esteve no Alvorada, mas o encontro só foi revelado na noite seguinte, pela TV Globo. E só foi incluído na agenda oficial do presidente 48 horas depois de acontecer.
De O Globo