Marcello Fim / Agência O Globo

Doria usa Lula para se defender de Bolsonaro

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Chamado de “ejaculação precoce” pelo presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reagiu nesta quarta-feira (4) e disse que foi criticado da mesma maneira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2016, quando venceu Fernando Haddad (PT) na disputa pelo cargo de prefeito da capital paulista.

“O Lula também falava isso em 2016, quando eu me apresentei como pré-candidato do PSDB às prévias do meu partido. E, para tristeza do ex-presidente e hoje presidiário Lula, eu não só ganhei as eleições na capital como ganhei no primeiro turno do Fernando Haddad, que era então o candidato que o Lula carregava no colo e dizia que seria facilmente reeleito”, disse, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes ao lado do prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB).

“Portanto, de eleição, modéstia à parte, tenho vitórias que podem ser bem avaliadas no maior colégio eleitoral do país”, completou.

Nos últimos anos, Lula chegou a minimizar a presença eleitoral do atual governador.

Em 2016, em meio à disputa pela Prefeitura de São Paulo, comparou Doria ao ex-presidente Fernando Collor de Mello e ironizou o patrimônio do tucano indicando que “o povo” não votaria em alguém “que mora numa casa que vale 10 milhões de cisnes” e que “aparece nos debates da televisão sem gravata, como se fosse uma pessoa humilde do povo”.

Na mesma época, disse que São Paulo não podia “correr o risco de não reeleger um candidato da qualidade de um Fernando Haddad para eleger um aventureiro sobre o qual não se sabe nada.”

Em 2017, quando a indicação do tucano para disputar a Presidência da República foi cogitada, Lula disse que “Doria, por enquanto, não é nada” e que ele buscava “cinco minutos de glória” ao criticá-lo.

Em café da manhã com a Folha na terça (3), Bolsonaro afirmou que Doria não tem chance nas eleições presidenciais de 2022 porque é uma “ejaculação precoce”. O tucano planeja concorrer à Presidência na próxima eleição.

Na avaliação do presidente, Doria deveria pensar “talvez” somente nas eleições de 2026. Para ele, o governador de São Paulo “não tem apoio popular”.

Nesta terça, Bolsonaro afirmou à Folha que está disposto a concorrer à reeleição. “Pretendo sim, se estiver bem lá”, disse.

Inicialmente, em sua resposta desta quarta, Doria afirmou que não entraria “em polêmica”, mas decidiu colocar “uma pitadinha de bom humor” ao comparar os ataques feitos a ele por Lula e por Bolsonaro.

“O momento não é de polemizar, é de administrar. Todos temos uma responsabilidade na gestão dos municípios. É o caso do Bruno, como prefeito, eu, como governador, ao lado dos outros 26 governadores, e o presidente Jair Bolsonaro tem o dever de administrar bem o seu país. Nós todos responsavelmente temos que fixar as nossas ações e as nossas atitudes para fazer boa gestão. O Brasil ainda tem quase 13 milhões de desempregados, são pessoas que esperam e mantém suas esperanças no governo Bolsonaro, nos governadores estaduais e nos prefeitos de suas cidades para que possam fazer boa gestão”, disse.

A primeira-dama de São Paulo, Bia Doria, repudiou a declaração Bolsonaro de que seu marido é uma “ejaculação precoce”.

Bia disse que o presidente usa “expressões chulas, que ferem e desrespeitam a família brasileira e a importância do cargo que ocupa”. A primeira-dama postou, nesta quarta (4), uma nota de repúdio em rede social; a publicação foi curtida por Doria.

O presidente do diretório estadual do PSDB, Marco Vinholi, também respondeu ao presidente.

“Consideramos a tentativa de Jair Bolsonaro de antecipar a campanha eleitoral profundamente contraproducente para o país, além de desrespeitosa com o povo do estado de São Paulo.”

Depois de colar na popularidade de Bolsonaro para se eleger em 2018 com o voto “Bolsodoria”, o tucano tem buscado se distanciar do presidente, pois eles disputam a mesma faixa do eleitorado de direita.

O governador paulista tem feito críticas ao presidente, como quando repudiou sua fala sobre o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por exemplo.

Bolsonaro tem enfileirado ataques ao tucano. No sábado (31), em uma conversa com jornalistas, o presidente afirmou que Doria está “morto” para 2022.

Dois dias antes, acusou o tucano de ter “mamado nas tetas do BNDES” no governo do PT, em referência à compra de jatinho a juros subsidiados do banco. Doria rebateu afirmando que nunca precisou mamar em “teta nenhuma”.

Nos primeiros meses de mandato de ambos, a relação teve momentos harmoniosos. Em junho, por exemplo, o presidente e o governador fizeram lado a lado uma demonstração de flexão de braço durante evento na zona sul de São Paulo.

De FSP