O lado positivo da diminuição da popularidade de Dilma

Análise

 

Como todos os que apoiam o projeto político-administrativo conduzido pela presidente Dilma Rousseff, obviamente que não gostei da pesquisa Datafolha, divulgada no último sábado, que dá conta de queda de sua popularidade. Todavia, essa queda pode – apenas pode – impedir o que este espaço vinha considerando “suicídio político” da presidente.

Há pouco mais de uma semana, este Blog citou o “Bombardeio de saturação” contra o governo Dilma, praticamente antevendo o que sobreviria. Abaixo, trecho da matéria.

 

“(…) Vivemos uma situação preocupante. O mutismo da presidente Dilma Rousseff a está enfraquecendo politicamente e isso está se refletindo através dos problemas crescentes que o seu governo está enfrentando com a base aliada no Congresso. A ausência de contraponto, de reação ao bombardeio de saturação em curso, de mutismo que se baseia na tese de que o que o brasileiro sente no bolso e no cotidiano destoa do noticiário, é uma aposta perigosa (…)”.

 

Dito e feito. A pesquisa Datafolha em questão aponta queda de 8 pontos percentuais na popularidade da presidente. E, analisando os dados minuciosos da pesquisa, o que se vê é um tanto quanto desolador

Dilma perdeu popularidade entre homens e mulheres, em todas as regiões do país, em todas as faixas de renda, idade e escolaridade.

Como de costume, a queda foi maior entre os que ganham mais de dez salários mínimos (queda de 24 pontos), têm ensino superior (16 pontos) e são moradores da região Sul (13 pontos). Contudo, ocorreu, em maior ou menor grau, de forma generalizada.

A pesquisa relata que a grande motivação da queda de popularidade da presidente é produto de pessimismo em relação situação econômica do país. Os pesquisados relataram preocupação com a inflação e o desemprego, ainda que ambos estejam caindo mês a mês.

O mais incrível é que a própria pesquisa trata de atribuir esse medo do que não existe ao tal “bombardeio de saturação” da mídia contra o governo. Abaixo, trecho da matéria da Folha de São Paulo sobre a pesquisa Datafolha comprova esse dado.

 

“(…) O noticiário dos últimos dias também pode ter influenciado. Dois problemas tiveram grande repercussão: o tumulto no pagamento do Bolsa Família, não esclarecido, e a tensão com indígenas do Norte e do Mato Grosso do Sul (…)”

 

Sobre o caso dos índios, não creio que possa ter tido uma grande influência, mas o caso Bolsa Família pode ser o maior responsável – ainda que não seja o único –  pela redução inédita da popularidade de Dilma entre os mais pobres.

Nesse aspecto, este Blog cobrou da presidente, durante dias, uma atitude mais proativa em relação aos boatos que levaram centenas de milhares de beneficiários do Bolsa Família ao desespero, por medo de o programa ser extinto.

No dia 23 de maio último, aqui se publicou o post “Boato sobre o Bolsa Família exige pronunciamento de Dilma na TV”. O texto abordou a existência de matérias na imprensa que mostraram que mesmo após o desmentido do governo sobre o boato de que o programa seria extinto, muitos de seus beneficiários ainda não acreditavam que isso não ocorreria.

Como sempre, a presidente não deu bola àqueles que, como este Blog, perceberam que a principal base de apoio popular ao governo havia sido balançada em relação a ele de uma forma que exigia mais do que uma declaração de Dilma reproduzida durante segundos em telejornais que beneficiário do Bolsa Família dificilmente assiste.

Vendo o barco fazer água, o blogueiro procura fontes do Palácio do Planalto na tentativa de obter explicação sobre o que vem qualificando como “mutismo” da presidente diante de um verdadeiro “Bombardeio de saturação” contra seu governo.

O resultado dessas consultas resulta em post de 1º de junho intitulado “Tracking do Planalto explica sua indiferença a ataques da mídia”. Segundo fontes do governo, este acompanha as oscilações de popularidade da presidente via medições diárias e estaria “tudo bem”.

A conduta da presidente pareceu se coadunar com essa premissa. Mantendo-se olimpicamente indiferente aos ataques, dá a impressão de que eles não a preocupam.

Deixar de ir à televisão negar que o governo cogite extinguir o Bolsa Família deixou a impressão de que não haveria risco de os beneficiários do programa acreditarem que seria extinto. Contudo, várias matérias na imprensa mostraram o contrário. E foram solenemente ignoradas.

A pesquisa Datafolha relata, então, que a queda de popularidade da presidente atingiu inclusive os setores de baixa renda, sobretudo no Sul e no Sudeste. Justamente o setor beneficiado pelo Bolsa Família.

Nesse aspecto, o pior inimigo do governo Dilma, neste momento, é composto pelos seus apoiadores mais incondicionais, aqueles que aplaudem a tudo acriticamente. Alguns põem em dúvida a pesquisa e outros fazem malabarismos para tentar ver aspectos positivos em um estudo que se mostrou desastroso para o governo.

A tese mais bizarra é a de que se deveria somar a avaliação regular à avaliação boa e ótima dos pesquisados, o que conferiria uma aprovação à presidente de “90%”.

A tese ignora que se hoje o bom, o ótimo e o regular de Dilma somam esse percentual, na pesquisa anterior somavam “98%”, de forma que, por qualquer critério, ela sofreu uma forte perda de apoio, pois 8 pontos percentuais, em estatística, são uma enormidade.

Alguns põem em dúvida a pesquisa Datafolha. Nesse quesito, este blogueiro tem história.

Em 2010, fui o único brasileiro a duvidar tanto das pesquisas sobre a sucessão presidencial que, com o apoio dos leitores desta página, representei contra todos os maiores institutos de pesquisa do país, conseguindo arrancar da Procuradoria Geral Eleitoral determinação para que a Polícia Federal abrisse um inquérito contra eles, conforme comprova matéria do portal IG publicada à época.

Contudo, desta vez não duvido do Datafolha. Este Blog é um fórum de debates que já chega ao nono ano de existência. Através das manifestações de leitores que aqui acorrem vindo de todas as partes do país e até do exterior, venho notando uma mudança de clima em relação ao governo.

A presidente Dilma Rousseff é uma excelente gestora. Todos sabem, por informação do ex-presidente Lula, que ela foi o coração administrativo de seu exitoso governo. Contudo, politicamente ela vem se mostrando um desastre.

Dilma é inapetente para a política. Apesar de este Blog julgar que seu governo está mais à esquerda que o de Lula, ela se afastou dos movimentos sociais, do movimento sindical e passou a tratar a Blogosfera e a mídia alternativa, que foram tão importantes no governo anterior, como “personas non gratas”.

A comunicação do governo é muito ruim. Durante o governo Lula, cheguei a receber telefonemas da Secom, disparados por determinação do ex-ministro Franklin Martins, pedindo correção ou complementação de informações aqui publicadas.

Dilma, porém, foge da Blogosfera e da mídia alternativa como o diabo foge da cruz. Sepultou projeto de regulação da comunicação deixado por Lula. Tentou se entender com uma mídia que hoje a está triturando, chegando à beira da injúria, da difamação e da calúnia contra si.

Todos se lembram de quanto Dilma tentou estabelecer a paz com os barões da mídia. A célebre visita que fez à festa de comemoração dos 90 anos da Folha de São Paulo nos primeiros dias de seu governo simboliza uma crença incrivelmente ingênua em que poderia sepultar uma guerra política que muitos já sabiam que seria inevitável.

Os crescentes índices de popularidade da presidente a mantiveram nessa rota de suicídio político por dois anos e meio. A pesquisa Datafolha, porém, mostra que sua imobilidade diante do espancamento que vem sofrendo na mídia chegou ao seu limite.

Há um adágio popular que resume bem o que está acontecendo: “Quem cala, consente”.

Ao fim do primeiro turno da eleição presidencial de 2010, os apoiadores de Dilma e a própria foram tomados por uma surpresa que beirou o desalento. A vitória tranquila em primeiro turno não se concretizou e nos primeiros dias da campanha em segundo turno José Serra chegou a se aproximar do empate técnico com a adversária.

Dez dias após o primeiro turno, ocorre o primeiro debate entre a então candidata Dilma e seu adversário, Serra, na TV Bandeirantes. Eis que ela abandona a postura fleumática e olímpica com que se conduziu no primeiro turno e, naquele dia 10 de outubro, finalmente se dispõe a enfrentar o adversário nos termos em que ele estabelecera.

Abaixo, o primeiro bloco de um debate em que Dilma finalmente reagiu. Prossigo em seguida.

 

A partir daquele momento, a tendência de queda de Dilma nas pesquisas se reverteu. Durante todo o resto da campanha, ela se manteve “assertiva”, no que foi acompanhada pela propaganda política do PT no rádio e na televisão, que, no primeiro turno, como faz Dilma agora, ignorava os ataques tucanos. O resto da história todos conhecem.

O Brasil, neste momento, precisa da Dilma que você, leitor, acaba de ver no vídeo acima.

Concluo este texto reproduzindo, abaixo, pregação que fiz neste espaço nos primeiros dias do daquele novo governo, em 9 de janeiro de 2011, no post “A primeira semana do governo Dilma”, quando já se podia ver o que sobreviria dali em diante. O que escrevi naquele post se mostra incrivelmente atual.

 

“(…) É cedo para dizer que Dilma cometerá o erro de governar o Brasil como uma gerente. Mas, se fizer isso, será, sim, um erro. O cargo de presidente é político. Os brasileiros votaram nela seguindo um líder político – o maior da história brasileira, ao lado de Getúlio Vargas. Ninguém segue gerentes. E sem liderar politicamente, ela não se reelegerá”.

 

O post traz no título a possibilidade de existir um “lado positivo” na queda de popularidade da presidente. Trata-se de, eventualmente, despertá-la do sono político em que mergulhou já nos primeiros dias de seu governo e do qual ainda não despertou. É agora ou nunca. Se não reagir já, depois pode não haver mais tempo.