Beto Richa quer investigação “dos dois lados” do massacre de professores
Na última quinta-feira, a Folha de São Paulo publicou longa entrevista do governador paranaense, Beto Richa, concedida após almoço entre este e a direção do jornal. Durante mais de trinta minutos, o entrevistado dominou as três entrevistadoras, distorceu fatos e mentiu com absoluta tranquilidade, sem ser questionado uma única vez.
Assistindo à entrevista em vídeo publicado pelo jornal, o expectador menos atento poderá atribuir o domínio de Richa sobre as entrevistadoras a um aparente despreparo delas, mas, no entender deste Blog, o que ocorreu é que pareceram intimidadas – faltou-lhes coragem para desagradar o tucano.
A certa altura da entrevista, Richa acusa o PT de ter “articulado” a greve dos professores porque o presidente do sindicato que conduz a paralisação seria filiado ao partido, como se a decisão de fazer greve e mantê-la fosse apenas do presidente do sindicato e não uma decisão tomada em assembleia por todos os interessados.
Na entrevista, Richa oferece como “prova” de que a greve de professores em seu Estado é “articulada pelo PT” a informação falsa de que apenas nos cinco estados que o PSDB governa haveria greves de professores.
O fato, porém, é que, como atesta a mesma Folha de São Paulo que entrevistou o governador paranaense, professores de Estados não governados pelo PSDB já fizeram greve neste ano. As paralisações nas redes estaduais, iniciadas em São Paulo em março, ocorrem ou ocorreram, por exemplo, também em Santa Catarina e Pernambuco
Detalhe: em Santa Catarina o governador é Raimundo Colombo, do PSD; em Pernambuco o governador é Paulo Câmara, do PSB. As entrevistadoras da Folha não disseram um A sobre essa contradição de Richa ao afirmar que só em Estados governados pelo PSDB há ou houve greve em 2015.
O ponto alto – ou baixo, muito baixo – da entrevista de Richa, porém, é a parte em que ele usa retórica de ex-torturadores da ditadura militar para tratar do massacre que sua polícia cometeu em 29 de abril último, que atingiu não apenas os grevistas, mas, também, pessoal da imprensa, pessoas que passavam pelo local, crianças de escolas próximas e até os próprios policiais, atingidos por suas próprias bombas de gás.
Como se sabe, defensores da ditadura militar (1964-1985) costumam exigir que “os dois lados” em confronto naquele período sejam investigados e até punidos. Ou seja, apesar de os que resistiram à ditadura terem sido presos, deportados, seviciados e até assassinados, os que defendem torturadores e assassinos do regime militar querem “investigar” as vítimas.
Na entrevista, Richa cita “provas” de que os professores massacrados no Centro Cívico de Curitiba teriam “agredido” os policiais, a despeito de que até hoje não se viu prova alguma. Além disso, desconsidera que mesmo que tivesse ocorrido algum excesso por parte dos grevistas, isso não justificaria uma reação que inclusive mutilou pessoas e atingiu outras que não tinham nada que ver com o confronto.
Mas, talvez, o pior dessa entrevista não tenha sido o caradurismo de Richa e, sim, não o despreparo, mas a conivência ou a covardia – ou ambas – das entrevistadoras escaladas pela Folha de São Paulo para entrevistar uma raposa política como aquela, como o leitor poderá conferir no vídeo da entrevista, abaixo, e tirar as suas conclusões.