Falsificação do Datafolha mostra medo que Senado rejeite impeachment
Chega a ser um pouco engraçado o tom de surpresa que o laureado jornalista Glenn Greenwald e seu colega Erick Dau imprimiram a denúncia feita no excelente The Intercept – que, a partir de agora, passa a integrar os sites indicados pelo Blog da Cidadania. A matéria em questão, que você confere aqui, é idêntica a centenas de outras que esta página publicou sobre institutos de pesquisa nos últimos onze anos.
Que Diriam Grennwald e Dau da investigação na Polícia Federal que este Blog abriu anos atrás contra o Datafolha (entre outros) justamente por falsificação de pesquisas? Confira, abaixo, matéria do IG publicada à época.
Seja como for, os jornalistas do The Intercept arrancaram uma bela informação de funcionária do Datafolha que, previsivelmente, em breve deverá estar engrossando a fila do desemprego.
Segundo eles, a gerente do Datafolha Luciana Schong “reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que [só] 3% dos brasileiros querem novas eleições, ‘já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados’.
Luciana Schong também teria contado aos jornalistas que qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas.
Onde quero chegar? Ora, não é surpresa para ninguém que os institutos de pesquisa ligados aos grandes grupos de mídia ou a partidos políticos ou entidades com interesses políticos claros “ajeitem” suas sondagens.
Bem, mas, então, qual é a novidade na manipulação que o Datafolha alega ter feito sob ordens do Grupo Folha?
Não é pouco um instituto de pesquisa manipular desse jeito uma sondagem. Afirmar que só 3% não querem novas eleições ou que o país mudou diametralmente de opinião sobre Temer sem que nada tenha melhorado – até por falta de tempo – não é pouco para uma empresa como o Datafolha, que vive da própria credibilidade.
O fato é que, ao contrário do que diz o Datafolha, é literalmente impossível que a popularidade de Temer e de seu governo não venham a despencar caso o golpe se torne definitivo. Temer já avisou que pretende tomar medidas “impopulares” que, obviamente, vão tratar de reduzir ainda mais a já baixíssima aprovação do governo interino e de seu titular – que, no momento, é de 14%, praticamente idêntica à de Dilma.
A ousadia do Datafolha ou do Grupo Folha – ou de ambos – provavelmente deveu à percepção de que a aprovação do impeachment pelo Senado corre risco, do contrário o instituto de pesquisa não cometeria uma fraude tão grosseira quanto divulgar a informação falsa de que só 3% querem novas eleições, entre outras falsidades que transparecem da pesquisa.
Muitos petistas, inclusive, dirão que nem é tão bom que Dilma corra “risco” de voltar, pois quem passar os próximos dois anos fazendo o ajuste fiscal e tomando medidas impopulares por certo reabilitará a esquerda e a fará chegar forte a 2018.
Contudo, se Dilma voltar poderá impedir a privataria do pré-sal e a supressão de direitos trabalhistas, medidas temerárias que são o coração do golpe, a grande razão de esse ataque à democracia brasileira ter sido perpetrado.
Para o país será melhor que Dilma volte. Impedirá que todos paguemos pelo desatino da maioria – mas não de todos – que viabilizou o golpe execrando a presidente nas pesquisas, o que permitiu que os golpistas assumissem. Contudo, para a esquerda em geral a volta de Dilma não será boa. A direita continuará sendo pedra e a esquerda, vidraça.