O nocaute da oposição
A grande imprensa está perplexa com o derretimento da oposição – incluído, aí, seu candidato a presidente. Mas não deveria. Não foi por falta de aviso. Sem ir muito longe, o leitor pode ficar com as centenas de blogs e sites que há anos explicam o processo lento e gradual de auto-imolação oposicionista.
Ou bastaria que essa imprensa assistisse ao programa “Canal Livre” do último domingo (15/8). O que ali se viu não deixa dúvida de que o país corre o risco de ficar sem fiscalização do seu governo no caso (progressivamente provável) de Dilma Rousseff vencer a eleição presidencial.
O programa da tevê Bandeirantes foi irrepreensível. Tratou com absoluta isenção os entrevistados do PSDB e do PT que ali estavam para debater as eleições de 2010. Confrontaram-se o senador Álvaro dias (PSDB-PR) e o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP).
Dias começou desfiando o seu rosário de acusações ao PT, ao governo Lula e à candidata Dilma Rousseff. Cardoso, porém, simplesmente acabou com o adversário. Foi um debate elegante e que mesmo quando ficou mais acalorado não resvalou para nenhum excesso, apesar da virulência do senador tucano.
Quem quiser pode assistir ao programa (dividido em seis partes, no site da Band) clicando aqui. O leitor que quer os fatos e que vem a este blog para tentar formar uma opinião honesta certamente concordará com o que está sendo dito, ao assisti-lo.
A certa altura, nos momentos finais, José Eduardo Cardoso, após deixar Álvaro Dias recitar de novo a ladainha de que está tudo ruim no país, quis saber dele como tudo poderia estar tão ruim quanto o adversário diz se a oposição fica cobrando para si méritos do que está acontecendo de bom.
A própria bancada de entrevistadores ficou perplexa com a descomunal incoerência do discurso tucano. Joelmir Beting, Fernando Mitre e Antonio Teles pareceram não acreditar no que ouviam. Dias falava, falava, como se não precisasse respeitar fato nenhum, como se tivesse o poder de criar realidades virtuais simplesmente movendo os maxilares.
O programa, leitor, você assiste e decide se o que está lendo é verdade. Este texto, na verdade, preocupa-se com outra coisa. Desse jeito, o governo Dilma Rousseff não terá a menor fiscalização, porque aqueles que deveriam fiscalizá-lo estão se suicidando com um discurso que os desmoraliza a cada vez que abrem a boca.
Fazem acusações gravíssimas ao governo, mas os anos passam e investigação nenhuma comprova o que disseram; fazem previsões catastróficas para o país e, depois que fica claro que erraram, dizem que o boom econômico e social em curso é mérito… deles (?!!).
Este blogueiro repetitivo vem dizendo há anos que gostaria de poder criticar e cobrar o governo Lula meramente porque governo nenhum é perfeito e, assim, todo governo precisa de cobranças e críticas. Até para poder enxergar o que não está bom e tentar consertar.
O cidadão consciente e desvinculado de corporações partidárias, sindicais ou de outra natureza não tem podido manter uma postura normalmente crítica em relação a um Estado ainda com tantos problemas, e isso por conta das tentativas ininterruptas de sabotagem desse consórcio entre imprensa e oposição que flerta o tempo todo não só com a sabotagem, mas com o mais puro golpismo.
Com isso, porém, talvez a oposição, ao se desmoralizar, tenha criado as condições para se reciclar. Terá que se reorganizar em torno de pessoas e de propostas novas para o país. E só há um meio de fazer isso, em uma democracia que amadurece a cada dia: há que encampar os anseios das maiorias desassistidas da sociedade.
Ninguém deu ao PT o monopólio da luta pelo interesse coletivo, sobretudo pelo interesse dos setores mais prejudicados pelo capitalismo ao sul do equador. Pelo contrário. Há resultados pífios em termos de distribuição de renda, ainda que a pobreza esteja caindo um pouco mais rápido. E há a impunidade e os abusos das grandes corporações financeiras, de telecomunicações, de saúde etc., sem falar nos péssimos serviços públicos.
Mas a oposição que aí está não se preocupa com nada disso. Existe para defender grandes interesses, apenas, e a maioria esmagadora dos brasileiros já sabe. A situação eleitoral de Serra e dos partidos que o apóiam não deixa dúvida. Se querem enxergar, pouco importa. Está acontecendo, queiram ou não.
O problema é essa elite diminuta composta por lunáticos de ultradireita que PSDB, PFL e PPS representam. São poucos, mas são poderosos e ricos. Podem pagar políticos e meios de comunicação para ludibriarem inocentes úteis que acreditam que fazem parte da elite realmente beneficiada pela concentração de renda.
A elite branca, portanto, é que tem que se reciclar. Abrandar essa gana de querer tudo, de não aceitar distribuição de renda nenhuma, de querer manter-se acima e isolada do conjunto da sociedade enquanto lhe suga o sangue para alimentar o próprio fausto.
Enquanto isso não acontecer, essa mesma elite irá adquirindo seu tamanho político de fato e de direito a cada eleição, o que significa espaço para surgimento de uma nova segunda força política no país que tanto poderá ser nova e insuspeita quanto poderá emergir da esquerda mais radical que afirma poder resolver todos os problemas com uma única penada.
De qualquer forma, no futuro imediato estou preocupado apenas por viver em um país em que um único grupo político vai adquirindo uma hegemonia tão significativa que, em algum lugar do futuro, poderá lhe despertar tentações menos nobres, se é que vocês me entendem.