Plínio ‘vence’ debate soporífero
Ironicamente, foram de dois blogueiros expoentes do PIG que vieram duas das análises mais generosas sobre o desempenho de Dilma Rousseff no debate da TV Bandeirantes de ontem. Ricardo Noblat, de O Globo, e Lauro Jardim, da Veja, foram precisos no que aconteceu ali ao lembrarem que o discurso dos tucanos era o de que o seu candidato iria “estraçalhar” a petista e isso não chegou nem perto de acontecer.
Dilma e Serra, expoentes do debate, estavam, literalmente, em pânico. Marina idem. E Dilma, um pouco mais do que esses dois adversários.
Mas quem acha que nervosismo determina alguma falta de qualidade do candidato ou lhe tira votos, está enganado. E se o nervosismo do tucano e da petista não lhes tirou votos, a serenidade e o bom humor de Plínio de Arruda Sampaio devem lhe render alguns poucos milhares de intenções de votos após um debate de baixíssima audiência.
Apesar do argumento válido de que Plínio estava calmo e bem-humorado porque é um franco-atirador que nada tem a perder, e de que se candidatou mais para puxar votos para o seu partido, foi estimulante ver a lucidez e o vigor de um homem de oitenta anos que foi o mais jovem e arrojado naquela arena eleitoral.
Pena que as idéias de Plínio sejam inexeqüíveis e malucas. Se acordasse de seus ideais intransigentes – que não são de todo maus –, poderia dar grande contribuição ao país em vez de ser mera curiosidade eleitoral.
Voltando ao que interessa, digo que quem mais perdeu nesse debate foram José Serra e Marina Silva. Dele, esperava-se que triturasse Dilma e não chegou nem perto disso, o que dá uma vitória por pontos à adversária. De Marina, também se esperava que brilhasse para dar algum salto nas pesquisas, mas ela, como disseram os desanimados blogueiros do PIG, em vez de brilhar, deu sono.
O lado bom do debate, foi o nível. Depois da invertida que Alckmin tomou nas pesquisas em 2006 quando, no primeiro debate, começou agredindo Lula verbalmente, Serra foi um docinho diante de Dilma. Todo meigo, tentou dar uma de Lula e deu até uma choradinha básica. Um momento patético e doloroso do fim de carreira de um político que um dia considerei promissor e no qual até votei, nos anos 1980.
Por outro lado, dizer que Dilma precisa melhorar nos debates será uma bobagem, pois Serra é extremamente experiente e estava extremamente nervoso, ainda que, a meu ver, menos do que a principal adversária. Lula, em 2006, com tantas eleições nas costas, também teve momentos de nervosismo.
Além disso, a petista marcou tentos como o de trazer o governo FHC para o debate e ao fazer Serra entrar no jogo dela pedindo-lhe avaliações sobre o popularíssimo governo Lula. A estratégia obrigou o tucano elogiar o governo a que se opõe. Depois, foi só Dilma se vincular ao mesmo governo e correr para o abraço.
Apesar de que a petista foi se soltando com o passar do tempo, ainda que de forma insuficiente, nas entrevistas de cada presidenciável depois de encerrado o debate ela estava extremamente tensa, de novo.
Finalmente, peço que reflitam o seguinte: se pessoas politizadas como eu, que escrevo um blog político, e como vocês, que lêem este e outros blogs políticos, achamos que o debate foi chato, imaginem o cidadão comum. Com 6 pontos de audiência, esse debate talvez gere algum benefício exclusivamente para Plínio, porque, com a irrisória situação que apresenta nas pesquisas, qualquer pontinho lhe fará alguma diferença estatística.
O que se viu no debate da Band, pois, nada mais foram do que propostas genéricas, platitudes disputando primazia e discursos tecnocratas absolutamente incompreensíveis para a quase totalidade da população. Quanto mais vejo esse pessoal instruído se perdendo na própria instrução, mais percebo que não viverei para conhecer político com a capacidade sobrenatural de Lula de falar de forma que o povo entenda.