Como enfrentar a direita midiática
Há tanto há dizer sobre o assunto que o título deste post indica que não tenho certeza de que sei por onde começar. Talvez começar pelo começo seja a melhor opção, o que nem sempre é verdade, pois, com freqüência, o meio ou o fim de uma história podem ser a parte mais importante para introduzir um relato.
Mas onde começa o assunto Dilma, PT, blogosfera e debate político? Pode ser pela ausência desse debate durante os quase oito anos do governo Lula – e por iniciativa desse governo e do partido no qual teve origem, é bom dizer.
Apesar da quase súplica de setores da sociedade que, contrariando os seus interesses de classe, dedicaram-se, durantes estes anos todos, a alertar o governo e o seu partido sobre a inapetência pelo debate político em que mergulharam, o alerta foi ignorado até há pouco.
Vejam os jornalistas de renome que entregaram as suas carreiras a uma causa que contraria os seus interesses profissionais. Quem, em sã consciência, pode ignorar que um jornalista confrontar a Globo, por exemplo, pode lhe hipotecar o futuro em um país em que a informação é controlada por um oligopólio?
Há, também, pessoas como este que escreve, por exemplo, que chegam a deixar de ganhar dinheiro com os seus trabalhos remunerados para militarem em uma causa da qual sabem que jamais extrairão nada, do ponto de vista material.
Será que não mereceríamos um pouco de atenção? Até por que, pessoas comuns, mas atentas e informadas, podem apontar aos que estão na arena política o que só é possível enxergar da arquibancada, digamos assim.
Alguns me dizem que não é hora de travar este debate, que deve ser deixado para depois das eleições. Discordo.
Depois das eleições será um tempo bom para essa discussão partindo da premissa de que então o desejo cívico de eleger Dilma Rousseff estará contemplado. Mas e se a falta deste debate provocar situação inversa à que se quer?
Porque ainda é tempo de corrigir rotas. Por exemplo, a rota para aqueles que se negaram a travar o debate político por anos retomarem-no agora de forma eficiente.
As condições da disputa eleitoral são, em termos, adversas a Dilma, a Lula e ao PT. Eles têm contra si aqueles que controlam a parte do leão da comunicação no Brasil. Ou melhor: os adversários têm a máquina midiática a seu favor.
É importante essa distinção porque o outro lado colhe os frutos da má relação do PT e do governo Lula com a mídia, que poderia ter má relação com o poder mas nem por isso precisaria substituir as críticas democráticas que tem inclusive o dever de fazer por legítima sabotagem para favorecer a oposição.
Não estou propondo, é claro, que tivesse havido algum tipo de acordo com a mídia, o que seria impossível. Pelo contrário: julgo que o PT e o governo Lula se encolheram demais diante dela. Poderiam ter usado, durante estes quase oito anos, a estratégia que usaram agora de cobrar investigação do outro lado, também.
Além disso, há a questão do estado emocional e psicológico de Dilma. A missão que ela aceitou foi dificílima. Sobrepujando a falta de traquejo no debate político decorrente de ter sido uma técnica a vida inteira, agora tem que lidar com aquela que talvez seja maior raposa da direita contemporânea no Brasil.
Ao estar diante do representante da direita, Dilma está, também, diante dos seus algozes de outrora, daqueles que a seviciaram durante um dos períodos mais tristes da história deste país. O estado de espírito de quem tem sofrido uma campanha difamatória como a que se vê, portanto, não poderia mesmo estar muito serenado.
Não nos esqueçamos, também, de que Dilma é mulher, um ser de um gênero em que a emotividade anda de mãos dadas com a razão muito mais do que nos homens, em média, e que, portanto, sente mais as pancadas de uma estratégia de destruição de imagem.
Esse psicológico de Dilma tem que ser sustentado por especialistas e com técnicas amplamente existentes na psicologia. Qualquer um de nós – e mesmo os mais experientes em debates – seria beneficiado por esse instrumento. É a minha opinião sobre uma dificuldade que acho que tem que ser superada no curtíssimo prazo, pois prazo para tanto já quase não há.
Quero opinar, com sinceridade absoluta, que acho que Dilma pode vencer esta eleição. Acho que tem armas poderosas à sua disposição – um governo excelente e uma população que sente os seus benefícios. O adversário é fraco. Sustenta seu discurso em mentiras, dissimulações, omissões, fugas e trânsfugas e, sobretudo, em muita, mas muita cara-de-pau.
Vejam só o que Dilma tem à sua disposição: tudo o que Serra diz que está ruim hoje no Brasil, na época em que o tucano esteve no poder era muito pior, foi deixado muito pior e basta comparar. Dilma tinha que ter esses dados, mas não tinha – ou não se lembrou de que tinha, o que é muito pior.
Temos, agora, 13 dias para a eleição. É tempo para acontecer de tudo. A mídia deve estar preparando alguma. Não tenho a menor dúvida de que está permitindo denúncias contra Serra porque quer amealhar capital de credibilidade e de “isenção” para esgrimir quando disparar sua derradeira bala de prata contra Dilma.
Vejam como o caso Paulo Preto já vai sumindo. O caso Erenice e o da quebra de sigilo de tucanos, porém, ficou nas manchetes principais, ininterruptamente, por semanas e semanas a fio…
Não é fácil.
É nesse ponto que se deve cobrar continuidade da cobrança de esclarecimentos de casos como o de Paulo Preto, da hipocrisia de Mônica Serra e do marido por atacarem Dilma com o que não negaram pessoalmente que fizeram (aborto), dos panfletos difamatórios contra a petista confeccionados sem CNPJ e sob firma falsa da CNBB na gráfica da irmã de um membro da campanha tucana etc.
Dilma tampouco atentou, no debate, para o fato de que quando Serra usou as vitórias do PSDB em São Paulo para desqualificar o PT no Estado ela poderia ter respondido que se perder eleição em um colégio eleitoral for determinar alguma coisa o PSDB perde no Brasil para o seu partido desde 2002.
Enfim, é fácil debater com Serra. Só é preciso ter serenidade. Não se trata de competência, mas de serenidade. Tenho certeza de que qualquer blogueiro ou jornalista teria destruído o tucano no debate de ontem. Já Dilma, enfrenta a imprensa com muito mais sucesso. Todavia, diante do adversário de fato ela perde o controle.
Por fim, para quem me achou pessimista quero dizer que para uma mulher capaz de aprender tudo o que Dilma aprendeu em tão pouco tempo, agora falta pouco para ela terminar esta eleição com um debate exemplar com Serra mesmo estando na casa do adversário – no debate da Globo. Basta se acalmar.