O tempo para reagir
Qualquer obra humana sempre irá requerer infinitamente mais tempo para ser construída do que para ser destruída. O fato inclui idéias, cultura, obras de argamassa, imagens das pessoas, fama e até impérios.
Para reforçar o simbolismo da metáfora: uma casa, que leva meses ou até anos para ser construída, pode ser destruída em questão de segundos. E, como se sabe, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
Durante anos, pessoas como este blogueiro alertaram o governo Lula para o fato de que deixar o PSDB usar a imprensa para fustigar o PT levaria a situação a um ponto em que haveria que reagir. E não só contra o PSDB.
O PT e o presidente Lula ignoraram pessoas como eu. E, ao não enfrentarem as tantas campanhas difamatórias que sofreram, foram permitindo que se formasse um caldo de cultura que acabou se mostrando propício a pescar incautos que não sabem diferenciar as bobagens preconceituosas que lhes tomam as mentes dos próprios interesses como cidadãos.
O resultado está aí: uma legião de zumbis dispostos a trazer de volta ao poder um bando de salafrários que se encastelaram no controle do Estado brasileiro por quinhentos anos e que só largaram o osso em 2002 porque o país já não tinha mais para onde ir e o rebanho conservador se viu sem opção para escapar do desastre.
Mas o preconceito é como aquela múmia dos filmes de terror, pode dormir por cinco mil anos que um dia desperta.
O Brasil não se lembra mais do que era uma economia que vivia à beira de crises diante de qualquer problema de solvência de compromissos internacionais por qualquer republiqueta do Terceiro Mundo.
O desenvolvimento social e econômico dos últimos anos liquidou com preocupações como conseguir um mísero emprego mal pago, por exemplo. Fez as pessoas sentirem-se seguras quanto ao mais básico. Deixou mentes ociosas de preocupações.
Como dizia a vovó, mulher versada na enciclopédia de ditos populares, “mente vazia é a oficina do diabo”, ou seja, dá para enfiar qualquer porcaria nelas.
O PT não reagiu quando deveria. E muito menos contra quem deveria. Agora corre atrás do prejuízo, mas ainda concentrando esforços em um só flanco quando há dois a proteger.
E o que é pior: concentra a defesa – ou o ataque – no flanco mais fraco, naquele por onde vem o PSDB. Enquanto isso, a fronteira com a imprensa fica desguarnecida.
Quem comandou a política no governo Lula e no PT, nos últimos anos, foram os marqueteiros. Ou melhor, eles substituíram a política. Criaram a não-política, a fleuma inglesa diante do contraditório e até do difamatório.
Não sei se haverá tempo para reagir. Talvez até exista, mas teria que ser bem aproveitado. Só que terá que ser feito diante de uma situação-limite criada por aqueles que, a esta altura, são os únicos que podem resolvê-la.