Por que a Blogosfera é melhor

Ativismo político

“O Halloween aconteceu no Natal, neste ano”. A frase é do Luiz Carlos Azenha. Roubei, mas avisei que roubaria e lhe dei o crédito. Problemas à parte, pois, ninguém pode deixar de reconhecer pelo menos uma coisa: quando você critica a mídia, ela simplesmente esconde as críticas e faz de conta que você não existe. E muito menos te responde ou briga com você.

A lógica midiática é a seguinte: como os grandes meios de comunicação têm público maior, atingirão mais gente com as suas “verdades” do que você com as suas críticas. Por conta disso, eles te ignoram. A falha dessa mentalidade é a de se esquecer de que o boca a boca, quando permitido em um país democrático, com o tempo espalha toda e qualquer crítica que se queira fazer a alguém.

É bom para quem critica, claro, mas também é bom para o criticado se o teor da crítica for fraco ou inexistente. O crítico pode juntar um monte de chavões contra você, mas em algum momento terá que responder à sua pergunta sobre qual é, em termos práticos, a crítica que se quer discutir e efetivamente discuti-la, desde que em termos necessários a qualquer discussão.

Essa é a práxis na Blogosfera. Somos doidos? Somos porras-loucas? É claro que sim. Quem mais gastaria horas e horas de seu tempo, muitas vezes prejudicando os próprios afazeres pessoais e profissionais, bem como familiares, para consumir overdoses de informação, de maneira que tenha sempre o que dizer, se não for meio “excêntrico”?

Enfim, a Blogosfera é o jornalismo levado às últimas conseqüências, mas também é o tipo mais veraz de fonte de informação que se pode consumir simplesmente porque é à prova de mentiras, de manipulações.

Você mente aqui e é desmentido ali. E tudo fica registrado. Então, o blogueiro está sempre sob escrutínio de qualquer leitor. Tem que responder. Bloquear não adianta, a menos que se trate de uma razão justificada para fazê-lo, como por exemplo quando o comentarista insulta.

Você jamais verá na imprensa convencional uma troca de “verdades” como a que se viu nos últimos dias na blogosfera e isso não se deve a que todos os que nela trabalham são lordes ingleses ou seres de pura luz, mas porque eles se valem do poder de vetar o contraditório que julgam que têm, e que efetivamente têm no curto prazo.

Quem tem razão – ou acredita que tem –, no entanto, não se nega a debater. O debate pode ser muito pior para o que tenta ser esperto e fazer vingar a mentira, porque a informação é tanta e corre tão rápido na internet que é absolutamente imprudente tentar manipulá-la.

Apesar dos pesares, portanto, as pessoas que têm agido efetivamente para incluir mais atores na blogosfera não podem simplesmente abandonar o que começaram sem, pelo menos, passarem a bola para quem ache que pode fazer melhor, ou, por outro lado, continuarem fazendo o que faziam, caso a maioria vier a achar que assim deve ser.

Todos temos o dever de ser menores do que as nossas idiossincrasias e não deixarmos morrer iniciativas como a de reunir mais de três centenas de blogueiros de todo país, iniciativa que desencadeou o que está acontecendo nos Estados e municípios, onde estão ocorrendo encontros regionais como o do Rio no último fim de semana.

É evidente que, entre os blogueiros, sempre haverá quem discorde. Dificilmente encontraremos um blogueiro que não seja questionador, pois questionar é a principal característica de quem se envolve em tal atividade. Todavia, sempre que se faz alguma coisa em termos de coletivo não é possível se recusar a aceitar a decisão da maioria.

Tome-se, por exemplo, a escolha do adjetivo progressista para o substantivo blogueiro. Por que adjetivar a atividade?, alguns podem perguntar. Ora, por que a corrente de blogueiros que se reuniu em agosto em São Paulo não inclui aqueles que se conformam com o mainstream midiático ou que pertencem a ele.

Mas que nome escolher para quem se diferencia do jornalismo usual? Blogueiros de esquerda? Não restringe muito o espectro? O Brasil não é só de esquerda. Existe, no campo em que está a blogosfera – e só para ficarmos mais próximos da realidade –, a centro-esquerda, já que se quer, por esta linha de pensamento, situar o blogueiro ideologicamente.

No encontro de blogueiros de agosto havia gente que não se considera estritamente de esquerda, mas que tampouco se sente à vontade com a forma como a comunicação de massas é feita no Brasil, até porque não se atem, apenas, à política.

Progressista deriva de progresso, que por sua vez é sinônimo de evolução. E não é a evolução da comunicação no Brasil o que uniu os blogueiros?

É possível fazer qualquer interpretação de um adjetivo, desde que esse seja o objetivo. Só há um risco: se todos se dispuserem a essa prática não existirá nome de consenso, pois sempre haverá quem discorde. Talvez por isso, quem se opõe ao adjetivo “progressista” não sugere nada para substituí-lo. Pelo menos nos últimos dias.

Durante o encontro nacional dos blogueiros surgiram algumas sugestões. Poucas. Todas elas foram derrotadas de lavada pelo termo progressistas justamente por conta desta argumentação. O sujeito discorda até que tenha que propor, em vez de criticar. Aí se vê que a maioria opta sempre pelo caminho não-sectário. Vale para a blogosfera e vale para o Brasil.

Dilma venceu a eleição tendo Michel Temer como vice. A gritaria da ultra-esquerda e da direita, como sempre aliadas contra a centro-esquerda, foi ensurdecedora, mas o povo aprovou. Simplesmente porque os extremismos não cabem mais no Brasil de hoje e é preciso reconhecer todos os atores sociais dispostos a colaborar com um mesmo projeto, que pode ser um projeto de poder ou de comunicação alternativa.

Agora, tem sentido um projeto dessa envergadura, que mobilizou dezenas de milhares de reais, centenas de pessoas, meios de comunicação etc. ser combatido sem tréguas por conta do nome que escolheu? Claro que não. Duvido que a maioria apóie uma mentalidade como essa. Então não adianta ficar discutindo. O mais democrático, pois, é deixar a maioria decidir.

Fazendo do limão uma limonada, penso que o que pode parecer ruim, talvez até tenha sido bom para marcar a diferença, para mostrar que na Blogosfera os fatos vêm à tona, mesmo com conflitos, que às vezes são melhores do que a paz dos cemitérios que vige nessa imprensa tradicional, conservadora e historicamente golpista.