O primeiro erro do governo Dilma
O governo Dilma foi mal em seu primeiro grande teste. Ao menos do ponto de vista político. Amedrontado pela dimensão da tragédia nas serras fluminenses, comunicou-se mal e anunciou providências futuras que deixam a impressão de que foram engendradas apenas para acalmar a imprensa oposicionista.
Doce ilusão. A grande imprensa tucana não se deixará acalmar simplesmente porque está calmíssima. Segue um plano claro. Tudo o que fará será explorar o cada vez mais evidente medo do governo Dilma diante dessa besta midiática que tudo fez para inviabilizar o governo épico de Luiz Inácio Lula da Silva.
O primeiro grande erro do recém-empossado governo federal foi deixar que a imprensa jogasse em si a culpa pelas desgraças que se abatem sobre vários municípios por absoluta responsabilidade deles e dos governos estaduais, pois são as instâncias que podem atuar diretamente nas cerca de cinco mil cidades brasileiras.
De que adianta o governo federal prometer um sistema de informações metereológicas para antecipar às populações anualmente atingidas pelas tragédias de que devem fugir se o que precisam não é uma estratégia para antecipar a ocorrência das calamidades e, sim, para impedir que ocorram?
O fato é que Estados e municípios não apresentaram ao governo federal projetos de maior envergadura contra os desastres anuais provocados pelas chuvas de verão. Aliás, é um mistério a razão pela qual essas administrações parecem ter se acostumado a esperar que as desgraças ocorram.
Por razões políticas ou por prioridades diferentes das autoridades estaduais e municipais – sejam do partido que forem -, elas não consideram possível dar soluções imediatas às desgraças que as chuvas de verão causam todos os anos. Assim, continuam no mesmo passo de tartaruga de piscinões ou construção de casas populares fora de regiões de risco.
Se houvesse o mínimo risco de os Jardins paulistanos ou a Barra da Tijuca carioca serem atingidos por uma hecatombe que matasse centenas de dondocas e seus coronéis ou a mauricinhos e patricinhas, sem falar nas crianças bem-nascidas, o Brasil já teria se livrado desse problema há muito tempo.
É o mesmo que aconteceria com a Saúde ou com a Educação se não existissem planos de Saúde ou escolas particulares – hospitais e escolas públicos chegariam rapidamente ao Primeiro Mundo. As classes abastadas não aguentariam meia hora num hospital público dos que temos no Brasil, por exemplo.
Ao assumir o ônus político da desgraça, o governo Dilma ainda deseduca a população, que continuará sem saber de quem cobrar os transtornos que está sofrendo. Prefeitos e governadores continuarão apostando suas fichas em obras visíveis, entre as quais não estão obras contra enchentes e deslisamentos de encostas.