Jornal tucano admite que não falta energia no país

Ativismo político

Principal braço do PSDB na imprensa escrita, o jornal Folha de São Paulo admite pela primeira vez, nesta terça-feira, em editorial, um fato que toda a mídia tucana (eletrônica e escrita) tenta negar desde o outro grande blecaute do século XXI no Brasil, ocorrido há cerca de um ano e meio: não falta energia elétrica neste país.

Desde o blecaute no Nordeste na madrugada da última sexta-feira, a mídia voltou a chamar de “apagão” um problema absolutamente localizado de interrupção de energia que nada teve que ver com a crise de falta de energia do governo FHC, tragédia social e econômica derivada de falta de planejamento daquele governo e que causou recessão, inflação e desemprego.

A mídia oposicionista já fizera isso em setembro de 2009, durante problema análogo que ocorrera em boa parte do país por algumas horas, também de madrugada. Tentou-se confundir acidente nas linhas de transmissão que caracterizam o modelo brasileiro de distribuição de energia com o que ocorrera entre junho de 2001 e março de 2002.

No mesmo jornal, o exemplo de má fé que se viu por toda a grande imprensa nos últimos dias. Ironizando a negativa dos governos Lula e Dilma de que apagões tenham ocorrido por falta de capacidade de geração de energia, a colunista Eliane Cantanhêde ironizava a explicação dada por aqueles governos: “Apagão no governo dos outros é apagão mesmo, mas no nosso é falha técnica”.

Um dia antes, o âncora do Jornal da Globo Willian Waack dizia que “quem julgou governos anteriores por falta de energia, agora será julgado pelos mesmos critérios”. Ato de má fé, uma tese descabida, uma tentativa de ludibriar a sociedade usando uma concessão pública, é o que foi tal declaração.

Para comprovar o que digo, basta ler o editorial supracitado atendo-se ao seu conteúdo, que desmonta o título do texto ao reconhecer que é impossível comparar o que ocorreu no governo FHC por nove meses com o que ocorreu nos governos Lula e Dilma por nem 10 horas, no total.

Enquanto o título do editorial que reproduzo a seguir fala em “alta” de apagões, o texto a que remete mostra problema que talvez nem exista, podendo meramente decorrer da alta expressiva da atividade econômica nos últimos anos. O aumento de acidentes nas linhas de transmissão de energia acompanhou o aumento do estoque de energia no país no período.

Leiam, abaixo, a confissão da Folha de que o governo Lula resolveu também essa parte da herança maldita que recebeu de FHC, de falta de energia para crescer.

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FOLHA DE SÃO PAULO

8 de fevereiro de 2011

EDITORIAL

Apagões em alta

Governo necessita investir para tornar o sistema elétrico mais robusto e evitar as seguidas quedas de energia, que prejudicam milhões

Após três anos em queda, o número de apagões graves cresceu 90% em dois anos. Em 2010, houve 91 casos em que interrupções de fornecimento de energia ultrapassaram 100 megawatts (MW), o suficiente para abastecer um município de 400 mil habitantes.

Na sexta-feira, cidades de oito Estados ficaram sem luz por até quatro horas, prejudicando cerca de 33 milhões de pessoas. Em 10 de novembro de 2009, outro mega-apagão já havia atingido 18 Estados brasileiros, deixando em torno de 70 milhões na escuridão.

O fato de o sistema brasileiro ser interligado, com transmissão de energia por longas distâncias, é positivo. Possibilita um bom aproveitamento do grande potencial hidrelétrico do país e permite uma distribuição mais racional do que é produzido. A energia é dividida entre Sudeste, Nordeste e Sul, os três principais polos de consumo, de acordo com a demanda e com a geração em cada região do país.

É uma falha gritante, porém, que curtos-circuitos numa única subestação ou a queda de uma das muitas linhas apaguem regiões inteiras. Para evitar isso, é necessário haver, tanto nas linhas quanto nas subestações, o que os técnicos chamam de redundância, ou seja, vias alternativas para contornar obstáculos à corrente.

Ao dizer que o sistema é “robusto”, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, incidiu numa falácia. Se de fato contasse com robustez, no sentido técnico, as panes que surgissem poderiam ser evitadas isolando-se a subestação com problemas. Acontece, no entanto, que a interrupção em algum ponto leva à sobrecarga das outras linhas e a um efeito dominó, que deixa milhões sem luz.

O termo “apagão” popularizou-se no penúltimo ano do governo FHC, em 2001, quando a geração insuficiente de energia levou o país a um racionamento forçado. Agora, como em 2009, trata-se de problemas sérios de transmissão (longa distância) e distribuição (nas cidades). Não há déficit de produção à vista no curto prazo.

O governo Dilma Rousseff precisa modernizar o sistema de transmissão e reforçar sua manutenção, além de investir em novas linhas. Como ex-ministra de Minas e Energia, a presidente sabe que a repetição dos apagões acabará na conta de sua gestão e do injustificável controle do PMDB de Edison Lobão sobre o setor.