O sonho de “matar” Lula
Com a espantosa inteligência política que lhe é característica, o ex-presidente Lula deu uma resposta arrasadora àqueles meios de comunicação que o fustigam sem parar desde que enfrentou Fernando Collor de Mello na eleição presidencial de 1989.
Durante participação nas comemorações dos 31 anos do PT, o ex-presidente foi direto ao ponto ao considerar que estão tentando criar diferenças entre o governo dele e o de Dilma Rousseff. Disse, textualmente, o seguinte:
“O fracasso de Dilma é o meu fracasso. Se a grande desconstrução do governo Lula é falar bem do governo Dilma, eu posso morrer feliz”
Visivelmente assustada com a possibilidade real de o PT manter o poder em 2014, a direita midiática inventou duas táticas principais que terão que ser “tratadas” devagar e sempre pelos que se opõem ao seu sonho de “matar” Lula politicamente.
Uma dessas táticas é a de tentar envenenar a relação entre o ex-presidente e a sucessora, mirando no histórico verdadeiro de crias que se voltam contra os criadores, como no caso de Pitta contra Maluf, de Fleury contra Quércia ou, mais recentemente, de Kassab contra Serra.
Aliás, se formos generosos com a direita, haverá que considerar que também na esquerda há fenômenos similares, ainda que não sejam idênticos aos que se viu na direita.
De fato, há um sem-número de esquerdistas que se tornaram os piores inimigos de Lula. O PSOL que o diga. Contudo, trata-se de uma cizânia entre meros correligionários e fundada muito mais na vaidade e nos projetos pessoais dos que se sentiram preteridos pelo líder petista.
Os motins de Pitta, Fleury ou Kassab decorreram da percepção que eles tiveram de que seus padrinhos políticos estavam em processo de degenerescência política e deles decidiram se afastar. E é aí que entra a segunda parte da estratégia midiática.
A percepção da direita midiática é a de que, sem Lula ter como se manifestar sonoramente agora que deixou o poder – e com a suposta afasia política de Dilma que essa direita vê no estilo “discreto” dela –, será possível realizar esse antigo e tão acalentado sonho.
O método de desconstrução do governo Lula que criaria o ambiente para uma cizânia entre o seu protagonista e a sucessora é o de apontar uma herança maldita em um governo que saiu apoiado por 83% da população devido a ter gerado um bem-estar social inédito em todas as classes sociais e regiões do país.
A aposta é a de que ninguém se perguntará como a mídia pôde negar que foi herança maldita o país quebrado e em crise que Lula recebeu de FHC enquanto afirma que é herança maldita o país em processo de crescimento e com tantas perspectivas de futuro que Dilma herdou.
De uma coisa, porém, todos podem ter certeza: se a aliança entre Lula e Dilma não foi produto de mero conchavo eleitoreiro, essa cizânia pode nunca acontecer. Tasso Jereissati e Ciro Gomes estão aí para mostrar como relações de amizade sobrevivem a tudo.
O fato é que a direita se deixa convencer pelo seu discurso político sobre Lula, negando-lhe a sua inquestionável inteligência ou qualquer de seus méritos, inclusive de caráter. E confunde a postura política discreta de Dilma com desejo de se diferenciar do antecessor.
Bastaram duas ou três declarações da presidenta sobre política externa para a direita midiática enxergar mudança de rumos na diplomacia. Em um mês e tanto de governo.
Contenção de gastos devido à inflação de demanda causada pela forte e rápida retomada da atividade econômica, apesar de o governo Lula ter aumentado os juros em pleno processo eleitoral, é confundida com sinal de deterioração da economia.
A mais breve análise do histórico da mídia de suas previsões sobre os rumos da economia nos últimos oito anos mostra enganos homéricos, como no caso de sua aposta de que a crise financeira internacional seria um tsnumi, ao passo que foi uma marolinha.
Politicamente, o histórico sobre as apostas políticas tucano-pefelê-midiáticas revela outro gigante de incompetência e falta de sensibilidade que culminou com um encolhimento dos partidos de oposição que chega a ameaçar o sistema de pesos e contrapesos democrático.
Não admira que a esquerda ande batendo em si mesma. Com adversários fracos assim, se não brigar com alguém capaz de reagir à altura acabará perdendo o jeito.