Campanha contra excessos na internet
Há algum tempo, cometi uma opinião equivocada sobre a internet que provocou revolta entre os grupos que combatem a tentativa do senador tucano Eduardo Azeredo de impor uma censura “branca” à rede, claramente em benefício dos poderosos que querem intimidar seus críticos ao usarem um instrumento que, depois, percebi que não pode sofrer tais controles porque constitui o último bastião de liberdade das sociedades.
Não conseguira me convencer dos argumentos de que não deve haver controle sobre a rede principalmente no sentido de acabar com o anonimato. Mesmo com amigos como o sociólogo Sergio Amadeu tentando me convencer, fazendo até reuniões comigo para me fazerem mudar de opinião, os fatos que passo a relatar me impediam de aquiescer àquelas demandas.
Na noite de 31 de outubro de 2010, logo após a divulgação oficial do TSE da vitória da presidenta Dilma Rousseff, hordas de jovens de classe média alta passaram a postar mensagens no Twitter pedindo até o assassinato de nordestinos por considerá-los responsáveis pela vitória da candidata do PT à Presidência da República.
Algumas semanas depois, começou a ganhar corpo, também no Twitter, um perfil criminoso que aparecia com a foto de uma garota branca que postava mensagens pregando racismo, homofobia, xenofobia e – pasmem – até estupro, divulgando um perfil chamado “Legalize o estupro já”. Tinha 18 mil seguidores (!) e vinha ganhando adeptos, contaminando, sobretudo, mentes jovens. Era, na verdade, um notório neonazista bem conhecido das autoridades. Pressionei, aqui, e o perfil foi apagado.
No dia da posse de Dilma, em 1º de janeiro deste ano, outra horda de jovens de classe média, durante a cerimônia em Brasília, passou a pregar, novamente no Twitter e às dezenas, mensagens pedindo o assassinato da presidenta por um franco-atirador, o que passei a denunciar neste blog e acabou fazendo com que até o procurador-geral da República se envolvesse no caso.
Apesar de estar contaminado por esses fatos e, assim, de ter ficado irredutível por ação deles, não tardou para que descobrisse que estava errado em pregar controle da internet. O que me fez mudar de idéia foi a revolução egípcia, na qual o anonimato na rede permitiu que as pessoas tivessem coragem de usá-la para se organizarem e promoverem a queda da ditadura de Hosni Mubarak.
Agora, lendo no blog de Luiz Carlos Azenha uma matéria puxada do excelente blog gaúcho RS Urgente sobre novo abuso na internet, sobre dementes que estão fazendo ameaças aos ciclistas que foram atropelados por um outro demente igual aos que agora ameaçam, fiquei me perguntando o que fazer.
Apesar dos exemplos anteriores de irracionalidade no uso da internet, percebe-se que, sobretudo entre os jovens de classe média e alta – mas não só, haja vista as torcidas de futebol que combinam guerras campais pela internet –, vige uma visão deturpada sobre a rede. As pessoas – incluindo os país desses jovens irracionais – parecem não entender que não podem fazer no meio digital o que não é aceito no mundo físico.
Por que, então, não é feita uma campanha governamental em todos os meios de comunicação – eletrônicos e impressos – orientando os pais desses jovens e até os adultos a não despejarem qualquer barbaridade na internet?
Alguns argumentam que essas idéias doentias são ditas em rodinhas de amigos entre jovens e adultos desde sempre. É verdade, mas o que se diz em uma rodinha de amigos não ganha dimensão e não é difundido como na internet, que cada vez mais vai mostrando um poder de difusão que jamais existiu e que está ao alcance de qualquer um, para o bem e para o mal.
Apesar da tragédia que é ver o lado obscuro das pessoas aflorar como nunca ocorreu, o que mostra que os sentimentos mais baixos, as posturas mais covardes, as tendências mais criminosas são muito mais intensas entre pessoas supostamente “de bem” do que se pensava, a internet está permitindo à sociedade se dar conta de como os jovens estão sendo induzidos mais rapidamente à degenerescência moral.
A sociedade brasileira está doente. Uma doença que tem origem, principalmente, na política. Gente como um Reinaldo Azevedo, por exemplo, o blogueiro da Veja que estimula ódio e preconceitos de forma dissimulada, acaba tendo suas idéias “compreendidas” sobretudo pelas mentes mais jovens, que acabam aplicando suas insinuações de intolerância de forma mais intensa do que aquela de que tomaram conhecimento.
Cabe, portanto, às autoridades agirem para que um instrumento magnífico como a internet não seja usado também para o mal, para difundir essas mentalidades doentias. Urge uma campanha publicitária que pregue liberdade total na rede, mas que explique que se trata de um poderoso meio de comunicação no qual não se pode dizer qualquer bobagem porque o que se diz ali se espalha como fogo e vitima, sobretudo, crianças e adolescentes.