Manifestações contra Obama
Por princípio, acho que os direitos de reunião e de manifestação têm que ser respeitados. São garantias constitucionais que sintetizam e simbolizam a democracia. No entanto, sempre que, como presidente do Movimento dos Sem Mídia, organizei manifestações, tive o cuidado de comunicar às autoridades os atos que promoveria.
No mais conhecido desses atos, o da Ditabranda, pouco antes de começá-lo um grupo de policiais veio até mim e exigiu que apresentasse meu RG, tornando-me responsável pelo que fariam as quinhentas pessoas que atenderam ao chamamento que desencadeei no blog durante o Carnaval de 2009. E eu apresentei.
Assumi a responsabilidade pelo que aquelas pessoas fariam porque confiava nelas. Interagimos às centenas no blog durante muito tempo – algumas mais, outras menos e tantas outras nada, pois tinham acabado de chegar. Mas confiava em nossa seriedade de propósitos, do grupo.
Não concebo a hipótese de o cidadão não poder se manifestar na via pública, desde que não atrapalhe. No ato da Ditabranda, briguei com militantes que insistiam em invadir a pista que deixamos para os carros. A polícia veio me cobrar a responsabilidade que assumi. Então fui lá e pedi, educadamente, que saíssem. Mas queriam tumultuar. Nesse momento, parei o ato até que colaborassem.
Conto a breve história porque acho que as manifestações que estão sendo preparadas contra Obama devem acontecer. É bom que aconteçam. Mas desde que da forma correta, respeitando quem não participa e o próprio visitante, ainda que discordando dele. Sempre de forma civilizada, repito.
Para que tais manifestações ocorram de maneira ordeira e profícua, porém, há que levar em conta alguns fatos inquestionáveis sobre aquele contra o qual serão feitas. Por exemplo: Barack Obama, como todo presidente dos Estados Unidos, é um alvo vivo. Há muitos, mas muitos que, se tivessem chance de matá-lo, não pensariam duas vezes.
Nem que tivessem que explodir alguns protestantes brasileiros junto.
Também fico me perguntando o que impede a Al Qaeda ou as mitológicas agências secretas americanas que dizem por aí que forjaram o 11 de setembro de seqüestrarem um avião aqui no Brasil e atirarem-no sobre a Cinelândia enquanto Obama estiver discursando….
Enfim, por ser um alvo vivo, objeto do mesmo ódio, da mesma intolerância e da mesma beligerância que os Estados Unidos praticam, o líder dessa nação não deve se expor – ou ser exposto – a riscos de ambientes tensionados por atos de protesto, pois criam confusão, aglomeração, enfim, os fatores necessários aos atentados.
Imaginemos a trágica situação em que Obama sofra um atentado no Brasil por conta de nossas autoridades terem impedido medidas para a sua segurança sob argumentos como soberania etc., etc. Quem será o responsável? Haverá algum manifestante-líder que entregue o próprio RG à polícia, responsabilizando-se pela manifestação como fiz há cerca de dois anos?
Que se manifestem contra Obama. Provavelmente eu estaria entre os manifestantes se a manifestação não contivesse ataques ao homem, mas petições e propostas, ainda que contendo as necessárias críticas ao comportamento dos Estados Unidos ao longo da história. Mas façam-no longe dele. O homem é um alvo ambulante.