Proposta de novo plebiscito sobre armas afronta sociedade
Uma das mais dolorosas “derrotas” eleitorais que “sofri” foi no plebiscito de 2005 sobre armas de fogo e munição. No blog, defendi ardorosamente que fosse proibida a propriedade desses instrumentos por cidadãos comuns, salvo autorizações altamente justificadas.
Até hoje, entendo que a medida diminuiria drasticamente o uso de armas de fogo no país, o que não resolveria o problema da violência, mas, a meu ver, diminuiria, pois retiraria das mãos das pessoas armas de nível de letalidade extremamente alto.
Penso naquela pessoa despreparada que compra uma arma de fogo e, em um momento de loucura, faz uso dela, ou daqueles que, mesmo não sendo capazes de sacar uma arma por descontrole emocional, deixem-se roubar, aumentando o volume de armas no mercado negro.
Como democrata, porém, não posso aceitar que a decisão soberana dos brasileiros sobre o assunto seja desrespeitada. Sobretudo quando políticos tentam manipular a sociedade para forjarem uma “reação das autoridades” após a Tragédia do Realengo.
Quando o presidente do Senado, José Sarney, anuncia que encaminhará decreto legislativo convocando para outubro outro plebiscito sobre o assunto, esbofeteia a sociedade.
A afronta decorre não apenas do desrespeito à vontade recém-manifestada do povo, mas à própria inteligência das pessoas. A convocação, a toque de caixa, de um plebiscito dessa natureza como se fosse “providência” ao massacre de Realengo, é piada.
Haveria mil formas de o jovem Wellington de Oliveira promover aquele massacre. Poderia ter atirado Coquetéis Molotov naquelas crianças, por exemplo. Poderia ter cometido um massacre ainda mais horrendo com um facão ou machado ou coisa que o valha.
O que acontece é que os políticos querem aparecer na foto como ciosos de suas responsabilidades, mas o fato é que escolhem uma “providência” fácil e barata como um plebiscito em vez de adotarem as medidas complexas, caras e urgentes que se requer.
Não adianta ficarmos tomando medidas açodadas depois de a porta ter sido arrombada. Um grande debate público sobre Educação, Saúde e Segurança é só o que se pode fazer em relação àquela tragédia. Desse debate devem vir, se não soluções, as providências possíveis.
Tomara que este país possa, um dia, acabar com o comércio de armas de fogo. Mas é preciso, antes, que longas e persistentes campanhas de esclarecimento sejam adotadas. O país precisa entender que a autodefesa não é solução, que cabe ao Estado prover a Segurança Pública.
Iniciativas como a do senador José Sarney desmoralizam as razões para este país parar de vender armas de fogo. A iniciativa não passa de demagogia, que, além do que já se disse, desmoraliza também uma classe política na qual há, sim, gente séria.