Antissemitismo partiu da própria direita
Da eclosão do ato de repúdio ao apartheid social pregado por moradores de Higienópolis que, com um mísero abaixo-assinado, aparentemente conseguiram fazer o governador Geraldo Alckmin anunciar a desistência de construir uma estação de metrô na avenida Angélica, surgiu reação menos burra – mas igualmente mal-intencionada – da elite de direita de São Paulo.
Do anúncio do Churrascão da Gente Diferenciada (que ganhou corpo na quarta-feira, dia 11) para cá, este blog contabilizou 350 comentários, 942 shares no Facebook e 250 menções no Twitter. Ou seja, recebeu um total de 1.542 menções aos posts que publicou sobre o assunto.
Em todas essas mensagens, se vi duas ou três menções antissemitas, foi muito. Todavia, parte da grande imprensa está alardeando um surto de “antissemitismo” como decorrência da proposta do ato público de repúdio ao preconceito daqueles 3.500 moradores de Higienópolis que produziram o altamente eficaz abaixo-assinado dirigido ao governo do Estado.
Um desses textos, o mais virulento até agora, partiu do colunista e blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo.
Em tal texto, o articulista chama de preconceituosos todos os que se revoltaram contra o preconceito daquele influente grupo de moradores de Higienópolis. E os acusa de “antissemitismo”. Este post afirma que isso é mentira, forjada com a intenção de estigmatizar como preconceituosos exatamente aqueles que lutam contra o preconceito.
Antes de prosseguir, porém, vale esclarecer um ponto. Tem sido comum dizerem que não se deve repercutir gente como Azevedo, dar-lhe “cartaz”. Não é bem assim. Preocupa que alguém subestime o poder da grande imprensa conservadora. Esse blogueiro da Veja está linkado no portal da revista que, ao menos oficialmente, ostenta a maior tiragem de um veículo impresso semanal.
Isso quer dizer que a Veja fala sozinha através de seus colunistas e blogueiros teleguiados? É claro que não. A blogosfera fala alto, também, e para tanta ou mais gente do que a Veja. Mas não individualmente. Não será este blog que dará ou retirará “cartaz” de um sujeito que tem evidência tão grande num portal como o da Veja, mas a teia de blogs e leitores da blogosfera.
Ou seja: o sujeito lê aqui, comenta em alguns dos blogs aqui linkados (ou não) e ou algum outro blog reproduz ou leitores dos outros blogs lêem a informação e a vão espalhando pela internet. É assim que se combate a pretensa hegemonia opinativa do PIG.
De volta ao antissemitismo. Surgiu alguma coisa assim da massa de quase duas centenas de milhares de pessoas que ao menos manifestaram repúdio à iniciativa do grupo de moradores do bairro paulistano que não quer metrô ali para não atrair gente “diferenciada”? Surgiu nada.
A única voz de peso (quantitativo ou qualitativo) que se levantou pelo antissemitismo teve origem justamente no braço midiático dessa direita que apóia os excludentes de Higienópolis. Foi Danilo Gentili, do cada vez mais reincidente programa CQC, quem manifestou preconceito contra judeus. E nem teve relação com o case Higienópolis.
Observação: para quem não sabe, virou um escândalo piada que Gentili fez pelo Twitter sobre o campo de concentração nazista de Auschwitz, feito por Hitler para encarcerar, torturar e matar judeus.
De resto, houve apenas algumas raras manifestações de antissemitismo entre o movimento que planeja ir protestar neste sábado e, aliás, essas manifestações podem ter partido da própria direita, com o intuito de incriminar os manifestantes.
Azevedo, da Veja, bem como outros jornalistas da parte mais reacionária da grande imprensa conseguiram, assim, lançar um debate que não tem nenhuma relação com o protesto do próximo sábado. Até gente de boa-fé entrou nessa conversa de que há relação entre uma coisa e outra. Não há. É lorota.
Os que irão protestar certamente julgam que o antissemitismo é tão ruim quanto racismo, homofobia ou esse preconceito contra “gente diferenciada” daqueles que querem transferir para outrem as perversões de que mostram que padecem ao serem sempre contra iniciativas favoráveis a combater preconceito, como leis antirracismo ou anti-homofobia.
Até sábado, meus caros paulistanos que lerem isto aqui. Espero por vocês lá em Higienópolis.